Imprensa

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Ao aprovar, em assembleia virtual, o acordo proposto pelo Santander, os funcionários do banco espanhol garantiram a manutenção dos direitos constantes do acordo específico em vigor até então. A votação por sistema eletrônico ocorreu nesta quarta e quinta-feira (13 e 14).
O novo ACT terá duração de dois anos e será aditivo à Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) da categoria bancária. Do total de votos, mais de 98% optaram pela aprovação. Nenhum sindicato foi contra.
Este tipo de votação permitiu a participação tanto de bancários sindicalizados, quanto de não sindicalizados. O acordo do Programa Próprio de Resultados Santander (PPRS) também foi aprovado e colocará, além dos valores da PLR da categoria, no mínimo R$ 2.800 no bolso de cada funcionário.
O valor da PPRS será reajustado pelo mesmo índice que for definido na Campanha Nacional dos Bancários. Também foram aprovados os termos de compromisso em que o Santander preserva a manutenção da Caixa Beneficente dos Funcionários do Banco do Estado de São Paulo (Cabesp) e do Fundo Banespa de Seguridade Social (Banesprev). O próximo passo é cuidar dos trâmites para a assinatura dos acordos aprovados e buscar avanços sobre várias outras reivindicações que serão tratadas no Comitê de Relações Trabalhistas (CRT).

   SINDICATO DOS EMPREGADOS EM ESTABELECIMENTOS BANCÁRIOS E FINANCIÁRIOS DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO, com CNPJ sob o nº 33.094.269/0001-33, situado na Av. Presidente Vargas 502/ 16º, 17º, 20º, 21º e 22º, andares Centro, Rio de Janeiro, por sua Presidenta abaixo assinada, nos termos de seu  Estatuto,  CONVOCA todos  os empregados bancários, associados ou não, que prestam serviço na área de Tele atendimento no   BANCO SANTANDER (BRASIL) S/A   na base territorial deste sindicato, para se reunirem em Assembléia Extraordinária Específica que se realizará de forma remota/virtual durante o período das 08:00 horas  até às 18:00 horas do dia 19 de maio de 2020, na forma disposta no site www.bancariosrio.org.br (página oficial do Sindicato na Internet), onde estarão disponíveis todas as informações necessárias para deliberação acerca da proposta de renovação do Acordo Coletivo de Trabalho que tem por objeto disciplinar a Jornada Especial dos empregados do Banco Santander (Brasil) S/A, que prestam serviços na Área de Tele atendimento. 

 Rio de Janeiro, 15 de maio de 2020

ADRIANA DA SILVA NALESSO

Presidenta


Após muitas cobranças do Sindicato, o Itaú, decidiu fazer testes de verificação de contágio pelo novo coronavírus. Em caso da presença de sintomas da doença, o bancário deve informar ao banco e ligar para o Hospital Sírio Libanês, agendando consulta. O médico fará uma avaliação e, dependendo da situação, encaminhará para testagem, com o fornecimento de atestado, podendo indicar internação, caso seja necessário. O contato com o Sírio Libanês deve ser feito pelo telefone 55 800 940 3979.

Os casos poderão, ainda, ser comunicados pelo link https://itaudigitalworkplace.force.com/conecta/s/saude-coronavirus-reporte-de-casos.

Atendendo denúncias feitas ao Sindicato de prática de assédio moral, os diretores do Sindicato dos Bancários do Rio Sergio Menezes,  Arlesen Tadeu e Sergio "Montanha” estiveram nesta quinta-feira, 14 de maio, na Agência do Bradesco na Praça Jauru, em Jacarepaguá. A unidade é subordinada à Regional Barra da Tijuca, que já teve outros casos de denúncias de assédio. Nesta sexta-feira, 15 de maio, o Sindicato entrou em contato com o banco e encaminhou as denúncias e está aguardando que sejam tomadas as devidas providências. 

Insultos e ameaças

Segundo relatos dos bancários, os funcionários da agência estão sendo cobrados para cumprimento de metas abusivas com direito a pressão e até ameaças de demissões, tudo em plena pandemia do novo coronavírus.

“Há relatos de que empregados são insultados e ameaçados e recentemente foram mantidos no local de trabalho após o horário de expediente para fazerem áudio-conferência junto a Regional Barra da Tijuca”, explica o diretor do Sindicato Arlensen Tadeu.

Cobrança após a jornada

Os dirigentes sindicais não descartam uma vista a Regional Barra para cobrar mais respeito com os bancários.

Os empregados denunciam vídeo-conferência feita depois do horário expediente. Segundo relatos, em u a sexta-feira a reunião para cobranças chegou a durar quase uma hora. Além de não respeitar a jornada de trabalho da categoria, os bancários alegam que o assédio e as ameaças são constantes, inclusive com exposição e humilhação do emprego.

“Os relatos são de que é comum falar mal dos funcionários para os demais colegas, usando o cargo de chefia para humilhar os funcionários. O assédio moral é inaceitável em qualquer circunstância, ainda mais numa crise como desta pandemia que traz aflição e medo a todos”, disse o diretor Sérgio Montanha.

O resultado é sempre o mesmo: o adoecimento do trabalhador. Sintomas como estresse, ansiedade, desmotivação, insônia e crise de choro são relatados pelos trabalhadores a agência.

“Tem bancário que só consegue dormir a base de remédios”, denuncia o diretor do Sindicato Sérgio Menezes.

 

Escrito por: Vanilda Oliveira

O Brasil já ultrapassa a marca de 800 mortes em 24 horas por Covid-. Diante de mais esse recorde negativo, o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, aponta que a situação chegou ao nível do “insustentável”. Para Nobre, somente a saída de Jair Bolsonaro da Presidência da República e uma grande aliança evitarão que milhões de brasileiros e brasileiras morram em consequência das crises sanitária provocada pela pandemia do coronavírus, da econômica e da política que se instalou em um Brasil sem governo.

A situação está insustentável. Já são 800 mortes por dia no Brasil por coronavírus. Está na hora de a gente fazer uma grande aliança das entidades de bem e dar um rumo para o País, e para esta crise, para salvar a vida, em especial da população mais pobre, que é a mais afetada. A sociedade pode contar com a CUT, porque temos clareza do nosso papel nesse processo”, diz Sérgio Nobre.

O presidente nacional da CUT lembra que o Brasil já vivia uma estagnação econômica antes do início da crise sanitária e que, desde começo da pandemia (o primeiro caso foi registrado em 17 de março) já alertava que o maior adversário a ser vencido seria Bolsonaro. “É um presidente que não assume seu papel nessa crise, não coordena a ação dos governadores e dos prefeitos”, resume. Por isso, prossegue Sergio Nobre, “a CUT e também o fórum das centrais sindicais têm feito reuniões com governadores, prefeitos e outros atores da sociedade no sentido de dar um mínimo de coordenação para a crise”.

Para Sérgio Nobre, as mortes por coronavírus no Brasil são fruto do descaso e da falta de coordenação e já colocam o País como segundo do mundo em letalidade e novos infectados, atrás somente dos EUA, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do governo brasileiro.

O presidente da CUT cita o megarrodízio na cidade de São Paulo e medida anunciada pelo governo do Distrito Federal que proibirá a entrada de ambulâncias com pacientes infectados de municípios vizinhos. “Estou impressionado com a falta de coordenação dos prefeitos. Critiquei a medida do Bruno Covas (PSDB-SP), que adotou um megarrogidizio (cortou 50% da circulação de veículos). Rodizio não é medida sanitária nem impede as pessoas de se circular e se contaminar; rodízio é medida para organizar o trânsito”, critica Sérgio Nobre.

Segundo ele, “as pessoas saem de casa por estar sem condições de ficar em isolamento social, porque o patrão exige que vão trabalhar”. “Na situação em que está a cidade de São Paulo, por exemplo, os cidadãos, os trabalhadores e trabalhadoras têm de ficar em suas casas”, defende o presidente da CUT, que em nota conjunta com as demais Centrais Sindicais defendeu que o lockdown (bloqueio total) seja adotado na capital paulista.

Sérgio também se disse chocado ao ver o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), declarar que proibirá a entrada de ambulância de cidades vizinhas, além de criticar o governo de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). “Isso acontece porque os municípios vizinhos já estão com sistema de saúde em colapso. Fica uma briga entre governadores e prefeitos e enquanto eles brigam as pessoas morrem. Situação que é resultado da falta de coordenação do governo federal”, reitera o presidente nacional da CUT

Essa situação, segundo Sérgio Nobre tem de mudar, a sociedade tem que se unir. “Por isso a CUT tem trabalhado muito nesse sentido de conversar com partidos, prefeitos, governadores, com todos aqueles que quiserem conversar, com todos os que têm responsabilidade nesse País. Temos de dar um comando, um rumo ao Brasil, ele não pode continuar assim”, afirma o presidente nacional da CUT.

“Todos sabem que eu defendo a saída de Bolsonaro porque ele não tem condições de governar, porque ele não está à altura da Presidência da República, porque ele desrespeita o povo pobre, tem preconceito com negros, homossexuais, e agora vai além de tudo isso”, afirma Nobre. E prossegue: “Quero que Bolsonaro saia e que vocês entendam a importância da saída dele, porque tem a ver com a vida. Se Bolsonaro continuar na Presidência, nós vamos perder milhões de vidas no Brasil. As pessoas de bem deste País tem que ter esse entendimento, de que Bolsonaro e um genocida”, finaliza Sérgio Nobre

Assista a íntegra da fala do presidente nacional da CUT no vídeo desta quinta-feira (14):

247 - Professor de medicina da Universidade de Oxford, na Inglaterra, Sir John Bell disse hoje de manhã que centenas de pessoas foram vacinadas em um teste para encontrar uma forma eficaz de combater o novo coronavírus. Os resultados podem estar disponíveis em um mês. A informação é do Portal UOL. 

Em entrevista ao programa "Today", da Rádio 4 da BBC, o médico disse que o desafio será a produção em grade escala caso o resultado seja positivo.

"Também queremos garantir que o resto do mundo esteja pronto para fazer esta vacina em larga escala para chegar às populações dos países em desenvolvimento, por exemplo, onde a necessidade é muito grande", disse.

 No fim de abril, uma equipe de pesquisadores de Oxford começou a testar uma vacina contra a covid-19 em voluntários humanos.

 Participe da campanha de assinaturas solidárias do Brasil 247.

Por Olyntho Contente
Da Redação do Seeb/Rio


Após cobrança sistemática feita pelo Sindicato, o Bradesco anunciou que fará testagem do novo coronavírus em bancários de agências do Rio e de São Paulo. Inicialmente serão apenas duas em cada capital, devendo se expandir para outras unidades. No Rio as agências serão as da Cinelândia e Rio de Janeiro Centro.
Para a diretora do Sindicato e Coordenadora do Coletivo de Bancários do Bradesco, Nanci Furtado, esta é uma conquista importante, mas é preciso avançar mais. Em nota, o banco informa que o exame é voluntário e voltado para os funcionários que estão atuando nas agências.
Explica que os que desejarem testar basta acessar a plataforma designada para agendar o exame e consultar o resultado. Em caso positivo, o funcionário será contatado pelo Viva Bem. “A coleta ocorrerá na própria agência, com exceção das com menos de 10 funcionários e as próximas aos laboratórios Fleury, que serão testados nas dependências do próprio laboratório. Os testes são os de sorologia, que detecta anticorpos e infecção e o específico da Covid-19”, acrescenta o Bradesco.

Quarta, 13 Mai 2020 16:20

Bancários aprovam acordo do Itaú

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Os bancários do Itaú aprovaram, em assembleia virtual pelos sites dos Sindicatos de todo o Brasil, o acordo de banco de horas negativo, que garante direitos aos trabalhadores que estão afastados ou em regime de rodízio nas agências, por conta da pandemia de coronavírus (Covid-19). O acordo prevê ainda abono das horas devidas dos meses de março e abril e desconto de 10% nas horas devidas a partir do mês de maio.

“A gente conseguiu após muita pressão e negociação, amenizar os impactos da Medida Provisória do Governo Bolsonaro na vida dos funcionários. Não é tudo que gostaríamos. Numa conjuntura normal não teríamos negociado banco de horas, mas para o bancário não sofrer mais do que já está sofrendo, a gente tira de positivo neste acordo é de ter conseguido reduzir ao máximo os impactos negativos sobre os trabalhadores”, explica a diretora do Sindicato do Rio e membro da COE (Comissão de Organização dos Empregados), Maria Izabel.

Como fica o banco de horas

Pelo acordo, a reposição das horas devidas só pode se dar no mês seguinte ao final da quarentena, por um período de 12 meses, limitado a duas horas a mais por dia e apenas nos dias úteis, de segunda a sexta-feira. Também determina que caso o bancário trabalhe em sábados, domingos e feriados, essas horas não serão consideradas como reposição, portanto, terão de ser pagas como horas extras. O acordo prevê ainda que, caso o bancário seja demitido após a quarentena, ele terá as horas devidas perdoadas, ou seja, elas não serão descontadas em sua rescisão de conttrato. É importante lembrar que em mesa negociação, o Sindicato conseguiu o compromisso do Itaú de não demitir sem justa causa durante a pandemia.
O acordo só é válido para quem se encontra em casa sem trabalhar, uma vez que os bancários que estão em regime de home office cumprem suas jornadas e não sairão devendo horas ao banco.

Ficou estabelecido também que caso os bancários não queiram ficar afastados, poderão trabalhar no call center durante a pandemia, recebendo treinamento para isso. Mesmo que a jornada desse bancário seja de oito horas, eles cumprirão a jornada de seis horas do call center sem sair devendo essas duas horas por dia que estarão fazendo a menos.

No Rio, o acordo foi aprovado por 87,5% dos votantes da assembleia com apenas 11,4% rejeitando a proposta.

 

Quarta, 13 Mai 2020 11:01

A Fiocruz diante do Covid-19

Mal atende o telefone, Nísia Trindade Lima avisa, com delicadeza, que precisará atrasar a entrevista em dez minutos porque recebeu um chamado do Ministério da Saúde. Seus dias têm sido assim desde que os casos da covid-19 passaram a se multiplicar no Brasil. São reuniões virtuais consecutivas, isolamento social até dos filhos e imensas e incontáveis responsabilidades como presidente da Fiocruz. É a primeira mulher no cargo nos 120 anos, completados em maio, da instituição que está no centro do combate à pandemia no país. “É duro, é difícil, mas o tempo todo estou trabalhando, e isso nos dá esse sentido de urgência e da importância de estarmos dedicados a esse objetivo”. Comparo-a ao general Patton em meio à Segunda Guerra, mas Nísia discorda: “Fala-se muito de guerra, não gosto dessa metáfora. Para mim, a imagem que expressa essa pandemia é uma crise sanitária e humanitária”. A desigualdade brasileira em meio a esse “desastre” é uma das maiores preocupações da socióloga. “Não há democracia na circulação do vírus. Falam que o vírus é democrático, e ele pode, de fato, atingir a todos, como atinge, mas a capacidade de proteção e de resposta a isso é diferente num país desigual como o nosso”, diz ela, referindo-se aos milhões de brasileiros sem acesso à água e impossibilitados de evitar aglomerações. Nesta entrevista exclusiva à Ciência Hoje, Nísia fala da importância do Sistema Único de Saúde, de como criar condições para quando uma vacina chegar estar disponível a todos e da iniquidade de gênero dentro da própria Fiocruz.

CIÊNCIA HOJE: Quando a Fiocruz foi criada, há 120 anos, as ameaças eram as epidemias de varíola, peste bubônica e febre amarela. Hoje, a instituição segue como referência para combater epidemias e está no centro do enfrentamento da covid-19. Pode falar um pouco dessa trajetória?

NÍSIA TRINDADE LIMA: A história do século 20 em relação à saúde pública, e até numa visão mais profunda do Brasil, passa pela Fiocruz. E por quê? O trabalho científico realizado na instituição se volta aos grandes problemas, epidemias urbanas de peste bubônica, varíola e febre amarela, além de outros problemas como as chamadas doenças dos sertões, a Doença de Chagas, marcante na trajetória da instituição. É possível pensar a própria história da sociedade brasileira por esse ângulo da saúde pública, porque a expansão de projetos vistos como modernizadores no território brasileiro sempre colocou questões ambientais, de qualidade de vida, da emergência de doença… E a Fiocruz representa essa história, sempre trazendo aportes científicos dos seus pesquisadores, associando a ciência às necessidades da saúde pública. Neste momento, estamos enfrentando a grande pandemia do século 21, algo que também vai além da saúde. É um grande desafio para uma instituição de ciência e tecnologia vinculada ao Ministério da Saúde (MS) e que, ao longo de sua trajetória, participou do movimento da reforma sanitária na Constituição de 1988, da criação do Sistema Único de Saúde (SUS) e busca unir esse esforço de ciência, tecnologia e inovação com a constituição de um sistema universal em um país continental e extremamente desigual. Se fizermos um paralelo em termos de pandemia, é importante lembrar que cientistas da saúde pública, como Carlos Seidel e Carlos Chagas, foram personagens chave na organização de ações de mitigação da Gripe Espanhola no início do século 20. Então é uma tradição que se atualiza hoje, com uma instituição que se espraia de Manguinhos, onde tudo começou, por todas as regiões brasileiras, com presença de institutos e escritórios em dez estados, e trabalhando toda a cadeia, do conhecimento até a produção.


O mais importante é a necessidade de o país ter uma ciência forte e instituições científicas e universitárias onde se possa gerar conhecimento para compreender a dinâmica da doença na relação com a sociedade e o ambiente e também apoiar o desenvolvimento de políticas públicas

CH: Quais lições podemos aprender com o combate às epidemias do passado na atual crise? 

NTL: Muitos falam que a perspectiva histórica nos ajuda a entender melhor o presente e os desafios que temos. Por outro lado, é difícil tirar lições do passado. Dizem que é como tentar mirar o futuro com um retrovisor. Mas é possível falar de alguns aprendizados e legados. O mais importante é a necessidade de o país ter uma ciência forte e instituições científicas e universitárias onde se possa gerar conhecimento para compreender a dinâmica da doença na relação com a sociedade e o ambiente e também apoiar o desenvolvimento de políticas públicas. O país precisa fortalecer sua base cientifica e tecnológica. Neste momento vemos, de uma maneira muito triste, que muitos insumos de saúde, como equipamento de produção individual (EPI) e respiradores, não estão acessíveis e isso independe do poder de compra, porque dependemos de importações de produtos que agora estão escassos. É importante ter um desenvolvimento industrial que permita ao país sua autonomia e impulsionar o desenvolvimento em outras áreas. Esses são os principais aprendizados: a importância de se investir em ciência e tecnologia e associá-las ao que chamamos de complexo econômico e industrial da saúde. O SUS requer inovação e tecnologia, requer uma base produtiva.

 

CH: A ciência tem ocupado um lugar central no combate à pandemia, no momento em que muitos movimentos anticientíficos buscam diminuir sua relevância. De que maneira a relação ciência e sociedade vai se estruturar após a atual situação?

NTL: Podemos ter esperança, mas não convicção absoluta de que o valor social da ciência venha a ser mais respeitado e fortalecido nesse processo. Cabe à ciência – nesse sentido amplo, em todas as áreas do conhecimento – dar as respostas e informar políticas públicas para proteger a sociedade. Essa é a aposta muito importante que nós temos, mas nada disso é dado. E aí entra a política com ‘P’ maiúsculo. Não podemos apenas fazer esse enunciado da importância da ciência e não trabalharmos cotidianamente para essa construção coletiva. Precisaremos de um pacto pela vida, como bem coloca a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência na Marcha Virtual pela Ciência.

 

CH: Você é autora do livro Louis Pasteur e Oswaldo Cruz: tradição e inovação em saúde. Por que se valoriza tanto a figura de Oswaldo Cruz, mas não se tem a mesma visão dos cientistas no Brasil contemporâneo?

NTL: São várias razões. Oswaldo Cruz se tornou um símbolo, assim como o castelo de Manguinhos simboliza a possibilidade de fazer pesquisa científica de alto nível num país de periferia e, sobretudo, uma ciência cujos resultados são mais visíveis à população. Talvez menos visível, mas quem sabe até mais importante, foi o fato de ele ter formado uma escola. Ou seja: sua memória, seu trabalho foi sendo atualizado por gerações de pesquisadores, entre os quais me incluo. Assim essa matriz histórica é permanentemente atualizada e tem o Oswaldo Cruz como pioneiro e referência maior. Outro fator é que a ciência era feita de uma forma diferente. Hoje em dia, cada vez mais, coletivos e grandes equipes são importantes, e, ainda que as lideranças continuem a pesar, essa figura individualizada do cientista já não existe da mesma forma. E um terceiro aspecto não menos importante é que a ciência no Brasil se democratizou, eram pouquíssimos cientistas no Brasil no início do século 20. Hoje temos muito mais pesquisadores e em todas as regiões do Brasil. Temos também a ideia de ciência cidadã, com a participação ativa da população na construção do conhecimento científico. A base científica se ampliou, e é essa base que precisa ser preservada neste momento. A figura de Oswaldo Cruz permanece na medida em que essa ciência vai se reproduzindo. Se não, ele vai virar um símbolo de um passado longínquo, e isso nós não podemos admitir.


Não estamos chamando nosso centro hospitalar de hospital de campanha porque ele terá uma permanência, como uma ampliação das ações do nosso Instituto Nacional de Infectologia, que já carecia de melhor estrutura para o atendimento de pacientes graves

CH: E o hospital de campanha? Além de tratamento dos pacientes, auxiliará nas pesquisas em andamento?

NTL: Não estamos chamando nosso centro hospitalar de hospital de campanha porque ele terá uma permanência, como uma ampliação das ações do nosso Instituto Nacional de Infectologia, que já carecia de melhor estrutura para o atendimento de pacientes graves. O hospital é um dos que vão fazer parte desse grande estudo clínico Solidariedade, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que está analisando medicamentos já conhecidos para avaliar sua eficácia e sua segurança quando administrados a pacientes da covid-19. Ele vai permitir também, como vai ser um complexo com um grande número de leitos, uma revisão de protocolos, um conhecimento mais amplo das características da doença em sua forma grave no Brasil. Será também um grande laboratório de estudo do comportamento dessa doença nas pessoas com a manifestação mais grave.

 

CH: Por que a Fiocruz foi considerada referência para a covid-19 nas Américas pela OMS?

NTL: Esse é um reconhecimento ao Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo, que tem mais de 60 anos de atividade e a história marcada pela resposta à epidemia de meningite na década de 1970. Esse reconhecimento da OMS significa que o diagnóstico do vírus, e também o estudo de suas mutações – e aí o Brasil é um grande laboratório –, será feito em todas as Américas tendo como referência o nosso laboratório.


O legado dessa pandemia é que esse sistema precisa ser fortalecido. E a estratégia da saúde da família e da atenção básica, que cresceu no início do século 21, também requer um olhar especial

CH: Um dos compromissos de seu programa de gestão é defender o direito à saúde universal e o SUS. Como o sistema está enfrentando a covid-19?

NTL: A pandemia, pela velocidade de transmissão e pelos casos graves que requererem longos períodos internação e atenção especializada de alto custo, é um problema para todos os sistemas do mundo, até mesmo no inglês, que é robusto. Por outro lado, vemos os Estados Unidos, uma nação rica, mas que enfrenta com dificuldade a pandemia por não ter um sistema público. Então é importante acentuar que o SUS, neste momento, é uma fortaleza, mas também adoece, porque há outros problemas a serem enfrentados. Teríamos problemas em qualquer situação como o mundo todo, mas soma-se a isso um subfinanciamento histórico. O legado dessa pandemia é que esse sistema precisa ser fortalecido. E a estratégia da saúde da família e da atenção básica, que cresceu no início do século 21, também requer um olhar especial, porque tem proximidade nos territórios. Outro ponto no enfrentamento da pandemia é a extrema desigualdade no Brasil, que implica condições de vida sem saneamento, sem água, o que torna as medidas de higienização muito difíceis de serem implementadas. O mesmo se diz em relação ao isolamento. Além das medidas de saúde e fortalecimento da assistência, tem que se trabalhar medidas de proteção social. As pessoas não podem, ao escapar da covid-19, morrerem de fome.


Salvar vidas, fortalecer o nosso SUS e ter uma agenda para um processo que vai se alongar, lutar por uma vacina e garantir o acesso de toda a população à vacina e a outros meios para proteger sua saúde, esses são os grandes desafios

CH: Como é ser a primeira mulher presidente da Fiocruz em 120 anos e estar no centro do enfrentamento dessa crise só comparável à Gripe Espanhola?

NTL: Essa é uma crise planetária, que coloca em xeque o modelo civilizatório, expõe a vulnerabilidade do mundo todo. É um desafio impensável para a minha geração, que participou da construção do SUS, da retomada do processo democrático no país. Meu papel é coordenar esforços da potência que é a Fiocruz, a principal instituição de Ciência e Tecnologia em Saúde da América Latina, fazendo com que atue como um sistema de forma sinérgica. Lidamos com essa pandemia como uma grande crise sanitária e humanitária multidimensional, que requer conhecimento de todas as áreas da ciência. Salvar vidas, fortalecer o nosso SUS e ter uma agenda para um processo que vai se alongar, lutar por uma vacina e garantir o acesso de toda a população à vacina e a outros meios para proteger sua saúde, esses são os grandes desafios.

Como primeira mulher a presidir a Fiocruz, enfrento esse desafio com sentimento ambíguo. Tenho me esforçado para reforçar o nosso Comitê de Equidade e Gênero em torno de uma série de questões, mas destaco uma: mulheres são maioria entre nossos trabalhadores e pesquisadores, mas minoria nos cargos diretivos. Que a minha posição na presidência não sirva só como um exemplo, mas como um motor de reduzir essa iniquidade. E eu falo de um sentimento ambíguo porque, neste momento da pandemia, eu vejo várias colegas na linha de frente. Isso dá orgulho. Por outro lado, essa pandemia revela uma sociedade muito desigual, e essa desigualdade também se expressa entre os trabalhadores da saúde. Temos visto adoecimento dos profissionais e incidindo de uma maneira muito intensa sobre a enfermagem, e, nesta categoria profissional, a maioria é de mulheres. Vemos também aumentar a violência contra as mulheres, num momento que era para estarmos defendendo, como parte do pacto pela vida, um pacto pela paz e por relações sociais de respeito a direitos humanos, dignidade e respeito às diferenças.


Que a minha posição na presidência não sirva só como um exemplo, mas como um motor de reduzir essa iniquidade

CH: As ciências sociais têm sido deixadas em segundo plano nos investimentos do atual governo. Como socióloga, qual a importância das ciências sociais nessa pandemia?

NTL: As ciências sociais são importantes em várias áreas, mas, falando especificamente das emergências sanitárias, são fundamentais para pensarmos a dinâmica da circulação de um vírus e seu impacto na sociedade. Além disso, as ciências sociais trabalham com a percepção sobre risco, com as políticas públicas. É impossível enfrentar uma pandemia sem esses recursos. As ciências sociais é que vão permitir que entendamos, por exemplo, que medidas e que comunicação vão ser, de fato, eficientes numa sociedade tão desigual como a nossa. Como mostrou o sociólogo Norbert Elias em O processo civilizador, muitos hábitos que desenvolvemos têm a ver com diferenciação de classe, e esse trabalho foi uma referência importante para estudos sobre as epidemias. Há uma dimensão social muito importante quando falamos que todos podem pegar a doença, mas, ao mesmo tempo, são proteções diferentes de acordo com relações sociais e de poder desiguais. Se ainda tivéssemos entre nós um historiador como Eric Hobsbawn, ele talvez dissesse que o século 21 está começando agora, porque a pandemia vai botar em xeque essa circulação de pessoas e de mercadorias do mundo dito globalizado. Vai evidenciar também as diferenças entre os países com mais e menos condições de proteção e que a proteção depende também de um forte arranjo de política pública do Estado e de uma forte solidariedade social. Tudo isso é sociologia.

 

CH: Cientistas ligados a Fiocruz de Manaus, entre outros, foram ameaçados por conta das pesquisas que conduzem. Como vê essa situação de coerção da pesquisa e busca de cerceamento do livre pensar por certos grupos sociais?

NTL: A ciência só pode existir com liberdade e ética, são dois princípios básicos. Não quer dizer que os cientistas podem fazer tudo o que querem, por isso, temos comitês de ética que se fortaleceram muito no Brasil. No caso específico que você cita, a minha posição é a que está na nota do nosso conselho deliberativo.

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