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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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Há algo de muito errado na avaliação de que rumar no futuro para ser um banco sem bancários é um bom negócio. O Santander talvez seja o melhor exemplo disto. O lucro líquido no Brasil foi de R$ 11,21 bilhões, nos nove primeiros meses deste ano, valor que representa queda de 10,1% em relação ao mesmo período de 2021 e de 23,5% no trimestre.
Para a secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Rita Berlofa, há pontos de alerta neste resultado, como o fechamento de agências e PABs. “A empresa vem intensificando a terceirização desde de 2020, e estima-se que ao menos 9 mil bancários já foram transferidos para outras categorias, o que é assustador, pois o Santander pretende ser um banco sem bancários”, afirmou.
A holding encerrou o terceiro trimestre de 2022 com 51.214 empregados, com abertura de 1.609 vagas em doze meses. No trimestre, no entanto, foram fechados 835 postos de trabalho. Em relação a setembro de 2021, foram fechadas 307 agências e 104 PABs.
O grupo Santander, no entanto, está muito satisfeito com o resultado do banco no Brasil. Seus acionistas também, ainda mais aqui que o governo não cobra imposto sobre lucros e dividendos. No terceiro trimestre, o lucro líquido da instituição no país alcançou R$ 3,12 bilhões, o que representa 27,7% do lucro global, que foi de € 7,316 bilhões, alta de 14,7% em doze meses e de 3% no trimestre. Todo este dinheiro, a remessa de lucros, sai do Brasil e vai para a sede na Espanha.
População endividada
Apesar do corte de pessoal e fechamento de unidades, o que fez o banco perder capilaridade, prejudicando a captação de novos clientes, as receitas com prestação de serviços e tarifas se mantiveram num patamar altíssimo, sendo reduzidas apenas em 1% em doze meses, somando R$ 14,2 bilhões. O montante foi 191,74% superior aos R$ 7,4 bilhões de despesas com pessoal mais a Participação nos Lucros e Resultados (PLR), que aumentaram 10% no período. Assim, apenas as receitas secundárias cobriram quase duas vezes a folha de pagamento do banco.
A crise econômica e a altíssima quantia de previsão para devedores duvidosos (PDD) constante do balanço fizeram também com que o lucro caísse. Segundo a análise do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) nos três primeiros trimestres deste ano, o índice de inadimplência total superior a 90 dias, incluindo pessoa física e jurídica, ficou em 3%, com alta de 0,6 ponto percentual em comparação ao mesmo período de 2021. Já as despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD) aumentaram 52,2% e somaram R$ 17,4 bilhões.
Juros se mantém nas nuvens
A coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE) do Santander, Lucimara Malaquias, relata que “em teleconferência, o banco afirmou que o aumento da inadimplência é devido ao varejo e a empresas pequenas”. No entanto, ela completa que, “muito provavelmente, essa deterioração ocorre devido à atual crise econômica e social que estamos vivendo e que reduziu a renda da população nos últimos anos”.
Lucimara observa ainda que “embora o balanço apresente uma redução em juros e tarifas, esse movimento é irrisório frente ao volume arrecadado, principalmente porque boa parte do mercado já não cobra tarifas pela cesta de serviços básicos. Mas, o Santander insiste em cobrar, inclusive de funcionários. Essa é mais uma contradição de um banco que vende redução de direitos como ‘inovação’, quando a inovação é tornar os trabalhadores sócios dos riscos, enquanto a inadimplência e a PDD vão para as nuvens e o lucro continua sendo remetido à Espanha e a acionistas”.