Quinta, 02 Julho 2020 17:15

Santander no “País das Maravilhas’

Banco espanhol nega que há demissões no Brasil, não apresenta o número de trabalhadores dispensados e diz que funcionários estão felizes

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Não houve avanços na negociação do movimento sindical com os representantes da área de Recursos Humanos do Santander, na última quarta-feira, dia 1º de julho. O banco até parece sofrer da “síndrome de Alice no País das Maravilhas”, doença em que a pessoa perde completamente a noção da realidade.

Com cerca de 400 demissões em andamento no Brasil desde junho, o grupo espanhol negou que haja dispensas em curso, não apresentou números do saldo entre demissões e contratações e alega haver apenas casos pontuais de dispensa “por falta de produtividade segundo critérios normais de avaliação de desempenho”.

O diretor do Sindicato dos Bancários do Rio e membro da COE (Comissão de Organização dos Empregados) Marcos Vicente, desmentiu a alegação do banco e confirmou que os sindicatos têm recebido muitas denúncias de dispensas em todo o país.

“Ao contrário do que o banco alega, há demissões em todo o país, inclusive em setores do Corporate (unidades especializadas para atender empresas), ouvidoria e núcleos de Pessoa Jurídica, tanto assim que o RH sequer apresentou números de contratações e dispensas. Quanto à alegação dos critérios de avaliação também não condizem com a realidade, pois trabalhadores com ótima produtividade também têm sido demitidos”, afirma.

Acordo descumprido

Na avaliação dos sindicalistas as verdadeiras razões do banco são as mesmas de sempre: cortas custos para aumentar ainda mais os lucros.

“O pior é que o banco descumpre um acordo firmado na mesa de negociação que tivemos com a Fenaban de que não iria demitir neste período tão delicado de pandemia”, critica Vicente.

Propaganda enganosa

O movimento sindical denuncia ainda que existe uma nota no balanço do banco em que a empresa assume seu compromisso social em não promover demissões, o que na prática, não aconteceu. O corte em massa no número de funcionários não tem acontecido em outros países, somente no Brasil, o que causa estranheza aos sindicatos.

O banco afirmou também na negociação - realizada de forma virtual em função do novo coronavírus - que “a pandemia trouxe a necessidade de adequações para que a instituição seja competitiva no mercado”. Para o Santander não há espaço de negociação sobre as demissões, “pois não se trata de um número relevante de demitidos, mas apenas de ajustes pontuais e necessários para trazer mais dinamismo.” Os trabalhadores rebatem as afirmações.

“Na verdade, o Santander quer é fazer cortes para lucrar mais e elevar a exploração e a cobrança por metas para quem continua nas agências ou está em home Office, em função da pandemia”, ressalta Marcos.  

Cobrança de metas

Ao contrário da realidade dura dos funcionários, os representantes do RH disseram que em relação à cobrança de metas, o banco “tem até recebido elogios de muitos trabalhadores que se dizem satisfeitos com o programa 'motor de vendas' e que, agora, eles estariam entregando até mais resultados do que antes da pandemia”.

“Parece até que os diretores executivos sofrem da síndrome de Alice. A realidade é de pelo menos 400 trabalhadores demitidos. A intenção de cortar mão de obra chegou a vazar na imprensa, em matéria da Folha de S. Paulo, e eles continuam negando tudo, além da cobrança por metas com práticas que humilham e adoecem o trabalhador”, explica a diretora do Sindicato do Rio, Maria de Fátima. Para os dirigentes sindicais, a postura do Santander em se negar a negociar sobre as demissões é também uma prática antissindical.

Redução de salários e perda de direitos -  Os sindicatos cobraram também respostas sobre a afirmação do presidente da instituição no Brasil, Sérgio Rial, em live nas redes sociais, quando propôs redução salarial e de benefícios para os trabalhadores em home office. O RH disse que se trata apenas de uma opinião pessoal do presidente do banco e que não terá nenhum reflexo para os trabalhadores.

“A alegação do RH de que não devemos levar em consideração estas opiniões do Rial não faz o menor sentido. Nenhum executivo de banco dá declarações como estas se isto não for uma estratégia da empresa, até porque o que afirma publicamente o presidente do Santander repercute entre os investidores do mercado financeiro”, conclui Vicente. 

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