Quinta, 06 Junho 2024 20:57

Encontro Nacional dos Funcionários do Santander aprova proposta do Acordo Coletivo Aditivo

Minuta de reivindicações será entregue no próximo dia 10 de junho, na Torre do Santander, Centro de São Paulo
Os representantes da base do Rio de Janeiro no Encontro Nacional do Santander, realizado em São Paulo Os representantes da base do Rio de Janeiro no Encontro Nacional do Santander, realizado em São Paulo Foto: Divulgação

 

Carlos Vasconcellos 

Imprensa SeebRio 

Com informações da Contraf-CUT 

Delegados e delegadas de todo o Brasil estiveram reunidos, nesta quinta-feira (6), em São Paulo, para o Encontro Nacional dos Funcionários do Santander. Após debater a análise de conjuntura, apresentar resultados da pesquisa de saúde, trazer o último balanço do banco e discutir propostas, os participantes aprovaram a minuta de reivindicações específicas, que servirá de base para as discussões da renovação do Acordo de Trabalho Coletivo (ACT) aditivo. 

O encontro contou com a participação de mais de 100 delegados e delegadas.  

"Aprovamos o documento com nossas reivindicações específicas que será entregue ao Santander no dia 10 de junho, na Torre do banco, aqui em São Paulo. Esperamos que o banco, que tem aumentado seus lucros, atenda nossas demandas, mas para isso, é necessário uma ampla participação dos bancários e bancárias nas atividades de mobilização da Campanha Salarial, até porque, este ano, a categoria tem a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho ", avaliou o diretor do Sindicato do Rio, Marcos Vicente.  

O grupo espanhol está presente em 26 países. 

"Vale destacar que incluímos na nossa minuta de propostas que já foram clausuladas no acordo dos bancários da Espanha, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho, cláusulas ambientais, para que o banco possa dar cobertura aos seus funcionários em caso de catástrofes e emergências climáticas, e também propostas que atendam o grupo de trabalhadores, bem como seus filhos, que se enquadram como neuro divergentes”, afirmou Wanessa Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE), lembrando ainda que é preciso valorizar também cláusulas econômicas, que incluem as bolsas de estudo e os programas próprios e PPRS. 

Mundo em crise

O Encontro Nacional foi aberto com a participação do cientista social e professor Moisés Marques e o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, João Vaccari Neto, que fizeram uma ampla análise de conjuntura nacional e internacional.

Moisés Marques começou afirmando que "vivemos atualmente um cenário com pelo menos oitos crises acontecendo simultâneamente: de saúde, ordem social e governança, do sistema alimentar, segurança internacional, energética, ambiental, dos transportes e tecnologias da informação e econômica.

“Nos próximos anos, muitas mudanças tecnológicas afetarão nosso trabalho. Além disso, conviveremos com a geopolítica de um mundo em transição. Ou seja, estamos diante de um cenário bastante complexo”, afirmou.

O professor abordou ainda fatos relacionados às últimas eleições no mundo e apontou para um cenário de baixa popularidades dos líderes políticos, marcado por uma crise global da democracia liberal, pela ascensão da extrema direita na Europa e pelo crescimento do conservadorismo, citando também o déficit fiscal dos Estados Unidos e a baixa popularidade do atual presidente norte-americano Joe Biden. 

"Temos, com isso, uma nova geografia do poder, com o crescimento dos Brics e tendo China e Índia com os dois maiores volumes de subsídios do mundo”, afirmou. Abordou ainda os conflitos entre Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina e encerrou destacando a questão ambiental, que tem afetado todo o planeta. 

“Apesar de parecer um cenário catastrófico, nós temos algumas coisas interessantes acontecendo, como, por exemplo, a eleição de Claudia Sheinbaum Pardo no México. O que nos aponta que é preciso continuar lutando, pois lutar vale a pena”, encerrou.

Petróleo e sustentabilidade 

João Vaccari Neto, por sua vez, iniciou sua análise de conjuntura nacional na questão do petróleo. “Desde 1975 a questão do petróleo nos afeta. Qual foi a base operativa da Lava Jato? Justamente o petróleo. Qual foi a primeira coisa que fizeram quando derrubaram a Dilma? Mudaram a legislação do petróleo, acabando com a partilha”, pontuouu, defendendo que enquanto o petróleo não for desnecessário, é preciso agir de forma a proteger o meio ambiente e criar fundos que garantam a industrialização e o desenvolvimento do País.

"Precisamos continuar fazendo o desenvolvimento da exploração do petróleo com todos os cuidados que isso requer e com toda a tecnologia necessária. Para nós, é importante agregar isso ao nosso patrimônio, pois significa uma mudança de patamar. Precisamos que o petróleo seja o condutor do desenvolvimento, já que ainda temos que fazer a industrialização do Brasil, caso não queiramos estar fadados apenas a plantar soja e milho para exportação", acrescentou. 

Regular o sistema financeiro 

Em relação à política nacional, Vaccari disse que estamos vivendo um governo marcado por contradições, por não possuir maioria no Congresso Nacional e ficar refém de forças políticas atrasadas, como o Centrão. 

“Precisamos avançar no debate da regulamentação do setor financeiro, pressionando para que ela ocorra de forma a respeitar os nossos direitos, conquistados com anos de organização. A luta dos trabalhadores passa por um momento difícil, mas nós precisamos continuar combatendo a precarização, e para isso precisamos mobilizar, denunciar, discutir, negociar e propor mudanças”, concluiu.

Futuro incerto

O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles Machado, apresentou a síntese da pesquisa “Modelos de gestão e patologias do trabalho bancário”. O dirigente afirmou que o setor passa por profundas mudanças que afetam a organização do trabalho bancário.

“Atualmente, vivenciamos nos bancos um clima organizacional crítico, marcado pela incerteza no futuro. São reestruturações permanentes, demissões, fechamento de agências e terceirização, além do aumento da pressão por resultados com uma gestão pautada pelo medo, o ambiente hostil e a desregulamentação na legislação trabalhista", avalia. 

Mecanismo adoecedor 

O secretário de Saúde considera esse conjunto de fatores como um “mecanismo adoecedor”, que se caracteriza pela busca do lucro, com aumento do ritmo de trabalho e a pressão por resultados, com metas abusivas, gerando um ciclo em que a remuneração variável está atrelada às avaliações. Tudo isso gera um aumento das violências e do assédio moral a que os bancários estão submetidos e, ao final, culmina no adoecimento.

Mauro citou o caso do Santander, que sofre ação condenatória do Ministério Público do Trabalho (MPT), que já comprovou que o banco vem adotando medidas precarizantes, com exigência de metas abusivas e excessivas. 

 “A sentença estabelece três principais obrigações ao banco, que compreendem a implementação de nova sistemática de metas; a negociação coletiva sobre taxas de incremento de metas e frequência; e as vedações de práticas patronais no que tange ao manejo de metas. Cabe a nós acompanharmos e cobrar respostas do Santander!”, concluiu.  

Números do adoecimento 

Ao apresentar os resultados da pesquisa, Salles informou que 5.803 trabalhadores bancários de todo o Brasil responderam ao questionário. Destes, a maior parte declarou estar trabalhando (86,7%). Outros 9% declararam estar em afastamento devido a licença-saúde e 15,5% dos respondentes declararam estar com atestado médico recomendando o afastamento do trabalho.

Para 54,5% dos participantes, o principal motivo para buscar tratamento médico foi o trabalho e 76,5% declarou ter tido pelo menos um problema de saúde que considera relacionado ao trabalho no último ano. Quase metade dos respondentes (40,2%) disse estar em acompanhamento psiquiátrico e mais da metade (59,7%) informou estar em acompanhamento com outras especialidades. Entre os que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando medicações prescritas. 

"Trata-se, portanto, de um resultado crítico que indica a alta ocorrência de situações associadas a um modelo de gestão pautado no controle e na vigilância, causando patologias da sobrecarga e da violência e múltiplos sintomas de adoecimento no nível físico, psicológico e social", explicou, em matéria publicada no site da Contraf-CUT. 

"Diante desses dados, é importante chamar atenção para que a Saúde seja prioridade da Campanha Nacional dos Bancários 2024. E no Santander, em especial, não podemos normalizar essa situação. Precisamos dar visibilidade ao problema, conversando com os bancários e também com a sociedade", concluiu. 

Lucros crescem 

Na parte da tarde, o Encontro Nacional teve a apresentação da análise dos resultados do banco no primeiro trimestre de 2024 e em relação ao emprego, feito pela economista e técnica na subseção Contraf-CUT do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Vivian Machado, relembrando que, em 2023, a soma dos lucros dos cinco maiores bancos totalizou R$ 108,6 bilhões. Somente o Santander lucrou R$ 9,38 bilhões.

Já no primeiro trimestre de 2024, o lucro líquido dos três maiores bancos privados no Brasil somou R$ 17,0 bilhões. Nesse período, o Santander lucrou R$ 3,02 bilhões, uma alta de 41,2% se comparado ao último trimestre de 2023, levando o grupo espanhol a uma das melhores rentabilidades em seu balanço global. 

“Ao considerar o lucro líquido global de € 2,852 bilhões, a unidade brasileira representou 19,7% do resultado do Grupo Santander”, destacou a economista.

 

Inadimplência 

Sobre a inadimplência, a economista afirmou que a situação se manteve estável, dentro da média do sistema. 

“As taxas de inadimplência estão caindo, mas ainda se mantêm acima do período anterior à pandemia”, destacou. Ainda segundo ela, as despesas de PDD (Previsão de Devedores Duvidosos) reduziram quase pela metade. 

Em 2023, a PDD cresceu, em função do caso das Lojas Americanas e de outra empresa do atacado, mas em 2024, estão em queda, segundo a técnica do Dieese. 

Para finalizar, Vivian apresentou o crescimento do número de postos de trabalho no primeiro trimestre na holding Santander, em doze meses, embora o banco não divulgue mais dados específicos de bancários. “O saldo, em 12 meses, é de 1.654 postos abertos, porém, no trimestre, foram fechados 401 postos de trabalho”, informou. O Brasil representa 27% do emprego global do Santander e 29,6% do número de agências. O banco também não publica mais o número de agências físicas, a informação é agregada como pontos de atendimento. No primeiro trimestre de 2024, o Santander fechou 89 pontos de atendimento e, em 12 meses, fechou 374 pontos.

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