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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Com informações da Contraf-CUT
Delegados e delegadas de todo o Brasil estiveram reunidos, nesta quinta-feira (6), em São Paulo, para o Encontro Nacional dos Funcionários do Santander. Após debater a análise de conjuntura, apresentar resultados da pesquisa de saúde, trazer o último balanço do banco e discutir propostas, os participantes aprovaram a minuta de reivindicações específicas, que servirá de base para as discussões da renovação do Acordo de Trabalho Coletivo (ACT) aditivo.
O encontro contou com a participação de mais de 100 delegados e delegadas.
"Aprovamos o documento com nossas reivindicações específicas que será entregue ao Santander no dia 10 de junho, na Torre do banco, aqui em São Paulo. Esperamos que o banco, que tem aumentado seus lucros, atenda nossas demandas, mas para isso, é necessário uma ampla participação dos bancários e bancárias nas atividades de mobilização da Campanha Salarial, até porque, este ano, a categoria tem a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho ", avaliou o diretor do Sindicato do Rio, Marcos Vicente.
O grupo espanhol está presente em 26 países.
"Vale destacar que incluímos na nossa minuta de propostas que já foram clausuladas no acordo dos bancários da Espanha, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho, cláusulas ambientais, para que o banco possa dar cobertura aos seus funcionários em caso de catástrofes e emergências climáticas, e também propostas que atendam o grupo de trabalhadores, bem como seus filhos, que se enquadram como neuro divergentes”, afirmou Wanessa Queiroz, coordenadora da Comissão de Organização dos Empregados (COE), lembrando ainda que é preciso valorizar também cláusulas econômicas, que incluem as bolsas de estudo e os programas próprios e PPRS.
Mundo em crise
O Encontro Nacional foi aberto com a participação do cientista social e professor Moisés Marques e o ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, João Vaccari Neto, que fizeram uma ampla análise de conjuntura nacional e internacional.
Moisés Marques começou afirmando que "vivemos atualmente um cenário com pelo menos oitos crises acontecendo simultâneamente: de saúde, ordem social e governança, do sistema alimentar, segurança internacional, energética, ambiental, dos transportes e tecnologias da informação e econômica.
“Nos próximos anos, muitas mudanças tecnológicas afetarão nosso trabalho. Além disso, conviveremos com a geopolítica de um mundo em transição. Ou seja, estamos diante de um cenário bastante complexo”, afirmou.
O professor abordou ainda fatos relacionados às últimas eleições no mundo e apontou para um cenário de baixa popularidades dos líderes políticos, marcado por uma crise global da democracia liberal, pela ascensão da extrema direita na Europa e pelo crescimento do conservadorismo, citando também o déficit fiscal dos Estados Unidos e a baixa popularidade do atual presidente norte-americano Joe Biden.
"Temos, com isso, uma nova geografia do poder, com o crescimento dos Brics e tendo China e Índia com os dois maiores volumes de subsídios do mundo”, afirmou. Abordou ainda os conflitos entre Rússia e Ucrânia, Israel e Palestina e encerrou destacando a questão ambiental, que tem afetado todo o planeta.
“Apesar de parecer um cenário catastrófico, nós temos algumas coisas interessantes acontecendo, como, por exemplo, a eleição de Claudia Sheinbaum Pardo no México. O que nos aponta que é preciso continuar lutando, pois lutar vale a pena”, encerrou.
Petróleo e sustentabilidade
João Vaccari Neto, por sua vez, iniciou sua análise de conjuntura nacional na questão do petróleo. “Desde 1975 a questão do petróleo nos afeta. Qual foi a base operativa da Lava Jato? Justamente o petróleo. Qual foi a primeira coisa que fizeram quando derrubaram a Dilma? Mudaram a legislação do petróleo, acabando com a partilha”, pontuouu, defendendo que enquanto o petróleo não for desnecessário, é preciso agir de forma a proteger o meio ambiente e criar fundos que garantam a industrialização e o desenvolvimento do País.
"Precisamos continuar fazendo o desenvolvimento da exploração do petróleo com todos os cuidados que isso requer e com toda a tecnologia necessária. Para nós, é importante agregar isso ao nosso patrimônio, pois significa uma mudança de patamar. Precisamos que o petróleo seja o condutor do desenvolvimento, já que ainda temos que fazer a industrialização do Brasil, caso não queiramos estar fadados apenas a plantar soja e milho para exportação", acrescentou.
Regular o sistema financeiro
Em relação à política nacional, Vaccari disse que estamos vivendo um governo marcado por contradições, por não possuir maioria no Congresso Nacional e ficar refém de forças políticas atrasadas, como o Centrão.
“Precisamos avançar no debate da regulamentação do setor financeiro, pressionando para que ela ocorra de forma a respeitar os nossos direitos, conquistados com anos de organização. A luta dos trabalhadores passa por um momento difícil, mas nós precisamos continuar combatendo a precarização, e para isso precisamos mobilizar, denunciar, discutir, negociar e propor mudanças”, concluiu.
Futuro incerto
O secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles Machado, apresentou a síntese da pesquisa “Modelos de gestão e patologias do trabalho bancário”. O dirigente afirmou que o setor passa por profundas mudanças que afetam a organização do trabalho bancário.
“Atualmente, vivenciamos nos bancos um clima organizacional crítico, marcado pela incerteza no futuro. São reestruturações permanentes, demissões, fechamento de agências e terceirização, além do aumento da pressão por resultados com uma gestão pautada pelo medo, o ambiente hostil e a desregulamentação na legislação trabalhista", avalia.
Mecanismo adoecedor
O secretário de Saúde considera esse conjunto de fatores como um “mecanismo adoecedor”, que se caracteriza pela busca do lucro, com aumento do ritmo de trabalho e a pressão por resultados, com metas abusivas, gerando um ciclo em que a remuneração variável está atrelada às avaliações. Tudo isso gera um aumento das violências e do assédio moral a que os bancários estão submetidos e, ao final, culmina no adoecimento.
Mauro citou o caso do Santander, que sofre ação condenatória do Ministério Público do Trabalho (MPT), que já comprovou que o banco vem adotando medidas precarizantes, com exigência de metas abusivas e excessivas.
“A sentença estabelece três principais obrigações ao banco, que compreendem a implementação de nova sistemática de metas; a negociação coletiva sobre taxas de incremento de metas e frequência; e as vedações de práticas patronais no que tange ao manejo de metas. Cabe a nós acompanharmos e cobrar respostas do Santander!”, concluiu.
Números do adoecimento
Ao apresentar os resultados da pesquisa, Salles informou que 5.803 trabalhadores bancários de todo o Brasil responderam ao questionário. Destes, a maior parte declarou estar trabalhando (86,7%). Outros 9% declararam estar em afastamento devido a licença-saúde e 15,5% dos respondentes declararam estar com atestado médico recomendando o afastamento do trabalho.
Para 54,5% dos participantes, o principal motivo para buscar tratamento médico foi o trabalho e 76,5% declarou ter tido pelo menos um problema de saúde que considera relacionado ao trabalho no último ano. Quase metade dos respondentes (40,2%) disse estar em acompanhamento psiquiátrico e mais da metade (59,7%) informou estar em acompanhamento com outras especialidades. Entre os que estão em acompanhamento psiquiátrico, 91,5% estão utilizando medicações prescritas.
"Trata-se, portanto, de um resultado crítico que indica a alta ocorrência de situações associadas a um modelo de gestão pautado no controle e na vigilância, causando patologias da sobrecarga e da violência e múltiplos sintomas de adoecimento no nível físico, psicológico e social", explicou, em matéria publicada no site da Contraf-CUT.
"Diante desses dados, é importante chamar atenção para que a Saúde seja prioridade da Campanha Nacional dos Bancários 2024. E no Santander, em especial, não podemos normalizar essa situação. Precisamos dar visibilidade ao problema, conversando com os bancários e também com a sociedade", concluiu.
Lucros crescem
Na parte da tarde, o Encontro Nacional teve a apresentação da análise dos resultados do banco no primeiro trimestre de 2024 e em relação ao emprego, feito pela economista e técnica na subseção Contraf-CUT do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Vivian Machado, relembrando que, em 2023, a soma dos lucros dos cinco maiores bancos totalizou R$ 108,6 bilhões. Somente o Santander lucrou R$ 9,38 bilhões.
Já no primeiro trimestre de 2024, o lucro líquido dos três maiores bancos privados no Brasil somou R$ 17,0 bilhões. Nesse período, o Santander lucrou R$ 3,02 bilhões, uma alta de 41,2% se comparado ao último trimestre de 2023, levando o grupo espanhol a uma das melhores rentabilidades em seu balanço global.
“Ao considerar o lucro líquido global de € 2,852 bilhões, a unidade brasileira representou 19,7% do resultado do Grupo Santander”, destacou a economista.
Inadimplência
Sobre a inadimplência, a economista afirmou que a situação se manteve estável, dentro da média do sistema.
“As taxas de inadimplência estão caindo, mas ainda se mantêm acima do período anterior à pandemia”, destacou. Ainda segundo ela, as despesas de PDD (Previsão de Devedores Duvidosos) reduziram quase pela metade.
Em 2023, a PDD cresceu, em função do caso das Lojas Americanas e de outra empresa do atacado, mas em 2024, estão em queda, segundo a técnica do Dieese.
Para finalizar, Vivian apresentou o crescimento do número de postos de trabalho no primeiro trimestre na holding Santander, em doze meses, embora o banco não divulgue mais dados específicos de bancários. “O saldo, em 12 meses, é de 1.654 postos abertos, porém, no trimestre, foram fechados 401 postos de trabalho”, informou. O Brasil representa 27% do emprego global do Santander e 29,6% do número de agências. O banco também não publica mais o número de agências físicas, a informação é agregada como pontos de atendimento. No primeiro trimestre de 2024, o Santander fechou 89 pontos de atendimento e, em 12 meses, fechou 374 pontos.