Quarta, 04 Agosto 2021 22:47
BMB

Funcionários do Mercantil criticam retorno ao trabalho presencial sem negociar com sindicatos

Encontro Nacional defende o fim das metas na pandemia e o apoio psicológico para bancários se readaptarem às atividades profissionais
Marlene Miranda, diretora do Sindicato do Rio, da CUT-RJ e representante da COE, criticou o fato dos bancos negligenciarem os casos de sequelas da Covid-19 em bancários Marlene Miranda, diretora do Sindicato do Rio, da CUT-RJ e representante da COE, criticou o fato dos bancos negligenciarem os casos de sequelas da Covid-19 em bancários Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRIo

Foto: Nando Neves 

Melhores condições de saúde, imunização de toda a categoria e melhorias nos protocolos de prevenção e uma negociação dos bancários com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) estão entre os principais itens debatidos sobre a saúde dos funcionários, no Encontro Nacional dos trabalhadores do Banco Mercantil do Brasil (BMB), nesta quarta (4/8).

Os números apresentados pelo Dieese, na abertura do encontro, revelam que a Covid-19 explica o aumento vertiginoso no número de desligamentos por mortes nos bancos: de janeiro de 2020 até junho deste ano, houve um crescimento de 183,6% nestes casos na categoria.

“A pandemia tornou-se o tema prioritário da luta do movimento sindical. Mas as transformações no modo e condições de trabalho também repercutem negativamente no corpo e na mente dos trabalhadores. Queremos um debate nacional com a Fenaban”, disse Marcos Salles, secretário de Saúde da Contraf-CUT. O sindicalista disse ainda que a primeira preocupação do movimento sindical, desde o início da pandemia em março 2020, tem sido a proteção da vida para impedir o contágio.

“Focamos na preservação da vida. Metade da categoria ficou em home office, cobramos o uso de máscara, a sanitização dos ambientes de trabalho, o afastamento de suspeitos de contágio e garantia dos empregos”, acrescentou.

Os participantes do encontro defenderam que essas medidas de prevenção precisam continuar e criticaram os movimentos de bancos, que já estão afrouxando os protocolos e pressionando pelo retorno ao trabalho presencial.

“A situação é ainda muito grave, as variantes delta, ainda mais violentas, levaram a Europa e os EUA a retomarem com as medidas de proteção e o ritmo de vacinação no Brasil é ainda muito lento e desigual . A imunização total no país está em torno de 20%”, alerta Salles.

Segundo informação da Fiocruz, tem que haver pelo menos 80% da população integralmente vacinada para um retorno mínimo de normalidade e no atual contexto “não dá ainda para baixar a guarda”.

“Já falamos para a Fenaban que não pode haver a volta ao trabalho presencial se não dialogar com o movimento sindical, mas os bancos já estão ensaiando o retorno. Cobramos ainda um protocolo único, por escrito, padronizado para todos os bancos. Atualmente cada empresa faz o procedimento da sua forma. Isto cria uma confusão e dificulta a fiscalização e até os critérios de como os gestores devem proceder”, destaca o sindicalista.  

Na avaliação dos delegados eleitos para o Encontro Nacional do BMB, tem que haver uma proposta única, com protocolos de prevenção e proteção,  pois as informações de sanitaristas e da OMS (Organização Mundial de Saúde) é de que o mundo vai ter que conviver por mais um tempo com a pandemia.

Salles lembrou ainda que os sindicatos cobram a vacinação da categoria desde o ano passado e somente agora, após muita pressão do movimento sindical com apoio de parlamentares da oposição, o Ministério da Saúde incluiu os bancários entre as categorias prioritárias.

“Não foi uma demanda corporativa. O nível de risco na categoria era muito maior, enquanto serviço essencial, atendendo milhares pessoas diariamente, os ambientes de trabalho são fechados, não têm janelas e nem ventilação natural e a transmissão acontece principalmente por via respiratória”, explicou.

O número de bancários desligados de seus empregos por morte chegou a 152 entre os meses de janeiro e março deste ano. Foram 50 óbitos por mês, em média, ou seja, um aumento de 176% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Os números, na avaliação dos sindicalistas, dão a dimensão da importância da inclusão da categoria entre os grupos prioritários para a vacinação.

“A questão é garantirmos uma volta segura ao trabalho e este tema precisa ser negociado com os sindicatos e com critérios, acompanhando a evolução da pandemia, com exames para o retorno e vacinação completa. É preciso levar em consideração os bancários que coabitam com filhos menores, pessoas com comorbidades severas. Temos que ter muitos cuidados médicos e avalizar caso a caso. Na última reunião avisamos a Fenaban que não pode haver nenhuma volta sem negociar com os trabalhadores, mas o problema é que alguns bancos já se movimentam pelo retorno”, afirma Salles.

Sequelas da Covid e metas

Outra preocupação apontada no encontro são as chamadas sequelas da Covid-19. Os dirigentes sindicais lembraram que, mesmo em casos leves há consequências, algumas graves, como cansaço, fadiga, falhas de memória, infecções renais e problemas cardíacos.

“Hoje vemos colegas voltando sem as menores condições de saúde para retornar. O bancário ainda tem que dar respostas às metas, à pressão e a retornar sem avaliação médica. Muitos empregados são descomissionados ou demitidos por não atingir os resultados”, relata o secretário da Contraf-CUT. Ele disse ainda quem há casos de caixas que perderam dinheiro por problemas de memória.

As pesquisas sobre sequelas da Covid realizada pelo movimento sindical foram apontadas pelos participantes do evento como fundamentais para nortear às negociações com os bancos.  

A pressão e o assédio moral em função das metas abusivas, impostas em plena pandemia, foram apontados como mais motivos para o adoecimento dos bancários. Há de 17% a 20% mais trabalhadores afastados por doença ocupacional nos bancos do que em outras categorias.

Os sindicalistas apontaram também que, mesmo com a pandemia, o aumento da pressão por metas ocorre também estre trabalhadores que estão em home office.

“As cobranças são feitas em plena crise econômica e sanitária e o medo e a incerteza quanto ao emprego, ao futuro,  impacta ainda mais na mente das pessoas”, disse o coordenador da COE.

Na avaliação dos dirigentes sindicais os bancos se aproveitaram da pandemia para acelerar o processo de reestruturação, experimentando o home Office e esta nova forma de trabalho também contribuiu para o aumento de casos de LER Dorts. “Bancários trabalham em mesa onde fazem as refeições, com o notebook no colo. Precisamos regular as condições no teletrabalho”, propõe Marcos Salles.

Foi denunciado os serviços médicos vinculados ao banco que cada vez mais são usados para a empresa “eliminar os empregados que considerados indesejados, para criar dificuldades ao reconhecimento das patologias e que não têm a preocupação de acompanhar a condição de saúde do trabalhador.

Representação sindical

O encontro debateu ainda o desafio da necessidade de novas formas de organização, como dialogar com trabalhadores PJs, terceirizados, agentes de negócio que não possuem a proteção da convenção coletiva de trabalho e sofrem com condições de trabalho ainda mais precárias.

“É preciso organizar estes trabalhadores, que são superexplorados. A questão de saúde pode ser um instrumento de diálogo e de formação de consciência critica com o bancário que perdeu renda salarial por causa da covid, adoeceu e o banco desprezou e abandonou. Precisamos potencializar nossa ação sindical”, disse Marcos Salles.

Retorno ao presencial

Marco Aurélio disse que preocupa a forma com que os bancos começam a pressionar pela volta ao trabalho presencial. “O Mercantil manda telegrama para funcionários afastados voltarem a trabalhar. Não garantiu o home office, anunciou que não vai mais pagar transporte alternativo. O banco age como se a pandemia estivesse acabando”, alerta.

Os bancários denunciaram casos graves de sequelas, como o de uma funcionária que foi contaminada três vezes pela Covid-19 e ficou com pneumonia e lapsos de memória.

“Temos um governo hostil e os sindicatos são os acolhedores destes trabalhadores”, acrescenta Marcos.

Há casos de bancários que estão há mais de um ano sem função no BMB e que, apesar de protegidos contra a Covid-19, relatam ter o sentimento de abandono por parte do banco, foram transferidos de unidade e até de cidade e só foram comunicados pela empresa das mudanças, dois meses depois.

Os participantes do encontro defendem que o banco garanta um acompanhamento psicológico para os funcionários que necessitarem de ajuda.

Ivanice dos Santos confirmou que os bancos não fazem os mesmos protocolos de prevenção e higienização das agencias e criticou a situação no Mercantil.

Importância da CAT

Os sindicalistas destacaram ainda a importância da emissão da CAT (Comunicação de Acidentes do trabalho) nos casos de Covid e suas sequelas e lembraram que o STF (Supremo Tribunal Federal) considerou que a empresa tem que emitir a CAT na suspeita de Covid adquirida no trabalho.

“É um registro epidemiológico importante para o banco ter políticas de saúde voltadas aos seus funcionários e o governo, políticas públicas”, acrescentou Marcos.

Os bancários denunciaram que os bancos negligenciam cotidianamente a saúde e as condições de trabalho da categoria, preocupados unicamente com os lucros.  

“O BMB é um banco conservador, com direção familiar e existe muito medo dos funcionários de pedir a emissão da CAT. Especialmente na matriz, as pessoas tem medo até de conversar com o movimento sindical e de se filiar ao sindicato”, afirma.  

Marlene Miranda, do Sindicato do Rio e dirigente da CUT-RJ, criticou o fato de que o banco e os planos de saúde tentam negar a assistência de saúde em casos de sequelas da Covid-19, alegando que a pandemia estaria incluída nos casos de calamidade ou catástrofe e que a legislação trata destas situações, mas que o argumento patronal já foi rejeitado pelo STF.

Os participantes do encontro denunciaram também que os bancos estão monitorando funcionários que não estão usando máscaras, alguns foram advertidos e até demitidos. Bisbilhotam a vida pessoal do bancário que está trabalhando em casa ou em isolamento social, o que é considerado mais um abuso cometido pelos patrões.

Ao final, os participantes do Encontro Nacional do Mercantil aprovaram algumas estratégias de luta na campanha nacional deste ano (confira abaixo).

 

Resoluções aprovadas no encontro nacional do BMB

  • Prazo para o banco negociar a minuta, caso não faça, os sindicatos vão buscar outros meios, como realizar mobilizações na porta das agências para denunciar à população e campanha nas redes sociais como fizeram os trabalhadores do Bradesco e do Itaú.
  • Defesa da padronização nacional no uso das placas de acrílicos (pedido em maio, não foi atendido) e medidas eficientes de prevenção ao coronavírus.
  • Mobilização, caso a proposta de PLR venha a ser rebaixada e negociar o tema com o banco. As previsões em função dos lucros são d\e que a participação nos lucros seja melhor este ano.
  • Campanha de combate à discriminação contra as mulheres no banco. 
  • Campanha contra a pressão e o assédio moral por metas abusivas. No encontro, os participantes denunciaram os casos de funcionários desligados por não atingirem os resultados impostos pela empresa.
  • Campanha junto à população contra demissões e falta de funcionários e denúncias aos procons e entidades de defesa do consumidor.
  • Defender mais contratações de bancários e menos rotatividade.
  • Defesa de programas de adaptação para o retorno dos bancários no pós-Covid, garantindo a saúde, a vida e condições de trabalho dos empregados.
  • Se as negociações não avançarem, será definido o Dia de Luta em redes sociais e em portas das agências.
  • Será definido um calendário de negociação e lutas

 

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