Quarta, 04 Agosto 2021 18:55
ENCONTRO NACIONAL

Funcionários do BMB debatem saúde, condições de trabalho e impactos da tecnologia no emprego

Participantes aprovam estratégias de luta e pauta de reivindicações que vão nortear negociações específicas e gerais na campanha nacional da categoria
OS NÚMEROS DA PRECARIZAÇÃO - Vivian Machado, economista do Dieese, apresentou o balanço do Mercantil e mostrou dados que revelam os riscos das plataformas digitais para o emprego da categoria bancária OS NÚMEROS DA PRECARIZAÇÃO - Vivian Machado, economista do Dieese, apresentou o balanço do Mercantil e mostrou dados que revelam os riscos das plataformas digitais para o emprego da categoria bancária Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Foto: Nando Neves

 

O Encontro Nacional dos funcionários do Banco Mercantil do Brasil (BMB), realizado por videoconferência nesta quarta-feira, 4 de agosto, debateu os principais temas que preocupam os bancários, como a questão da saúde e preservação da vida diante da gravidade da pandemia da Covid-19, as condições de trabalho e os impactos da reestruturação e das plataformas digitais no emprego da categoria.

Lucro crescente

A técnica do Dieese Vivian Machado, mestre em Economia Política pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), da subseção da Contraf-CUT, abriu o Encontro Nacional do Mercantil trazendo os números do balanço do banco em relação aos lucros, às reestruturações e ao avanço dos aplicativos digitais e seus impactos sobre o emprego e as condições de trabalho da categoria.  

Como nas demais instituições financeiras, o Mercantil teve um crescimento nos lucros, mesmo diante de uma das mais graves crises econômicas do país, agravada pela pandemia da Covid-19, que impactam sobre os demais setores e principalmente sobre a vida dos trabalhadores.

O Lucro cresceu 10% em 12 meses e 4% no segundo trimestre de 2021.

Mesmo com a recessão econômica do país agravada pela crise sanitária, o banco registrou lucro líquido de R$ 151 milhões no quarto trimestre de 2020. O valor é recorde para o período e representa incremento de 24% na comparação com o mesmo período de 2019. De acordo com a própria direção da instituição, o desempenho mantém a trajetória de crescimento observada desde 2018.  

O Mercantil tem um nicho muito particular de clientela de aposentados e pessoas a partir da meia idade: 74% clientes tem mais de 50 anos. Os empregados defendem a contratação de mais trabalhadores para reduzir a sobrecarga de trabalho dos bancários, mas também para melhor atender aos clientes.

Pagamento da PLR

Na avaliação dos resultados, a economista do Dieese disse que o banco deverá atingir a meta de lucro líquido para o pagamento da PLR dos empregados. O movimento sindical tem a preocupação para que a direção do Mercantil não faça como em outros anos, em que impôs uma participação nos lucros rebaixada.  

Redução de despesas

Vivian Machado apresentou ainda números a respeito das despesas do banco. No primeiro trimestre de 2021 houve um crescimento de 13%, mas no segundo trimestre redução de 0,6%. A despesa administrativa teve alta de 22% em 12 meses, mas apresentou queda no segundo trimestre deste ano. A queda nos custos tem a ver com as demissões, aumento de plataformas de atendimento digital e o maior número de trabalhadores em home Office no período da pandemia.

Novas tecnologias

Seguindo a tendência de todo o sistema financeiro, o Mercantil apresentou um crescimento nas operações por aplicativos. No banco, este modelo de transações cresceu 18% no ano passado.

No final de 2020 o banco contava com 42 agências físicas, 234 postos de atendimento e 2.899 funcionários e já conta com 278 lojas digitais, além de agências transformadas em unidades de negócio, que são mais enxutas, com menos funcionários. As reestruturações e mudanças, com avanço dos serviços digitais, ameaçam o emprego da categoria.  

O banco tem um orçamento de R$137 milhões em projetos de inovação, aumento de 47% e prevê que, com as novas tecnologias através de plataformas digitais de atendimento, uma redução de 10% no adicional dos custos e a diminuição de 63% no tempo de atendimento aos clientes.  

“Em março de 2021 o banco anunciou a criação da Domo Digital Tecnologia para avançar na atuação do ambiente tecnológico, mas estas mudanças não são favoráveis aos bancários”, explica Vivian, lembrando que os bancos reduzem o número de bancários e contratam trabalhadores sem a cobertura da convenção coletiva da categoria, salários inferiores e trabalhos ainda mais precários.

“O Santander, por exemplo, cria plataformas digitais e pressiona funcionários para sair do banco e entrar nestas empresas sem a cobertura dos direitos da convenção coletiva de trabalho, que passam a ser trabalhadores Técnicos de Informação (TIs) com condições de trabalho ainda mais precárias e sem a representação sindical da categoria”, explica.  

Vivian disse que o Banco do Brasil abriu concurso para contratar empregados especialistas em TI e que até trabalhadores correspondentes bancários estão sendo recrutados para a área digital.

Uberização do trabalho

A palestrante relatou que a PersonalBank, uma plataforma digital, criou uma espécie de “Uber de ex-bancários”.

“Há uma verdadeira uberização do trabalho. O ex-bancário paga uma mensalidade para a plataforma e negocia sua base de clientes que possuía no próprio banco onde trabalhou para então oferecer produtos de outras instituições financeiras”, adverte. A empresa digital, que pratica a precarização do trabalho, possui hoje 1.500 trabalhadores prestadores de serviços e pretende até 2022, contar com 25 mil ex-bancários, se tornando oficialmente um banco digital.

“Esta plataforma não exige nenhuma certificação dos empregados. Um funcionário demitido pelo Itaú, por exemplo, pode continuar vendendo os produtos do banco nesta plataforma, mas sem nenhuma proteção trabalhista”, afirma.

Os impactos da tecnologia nas condições de trabalho e nos empregos é atualmente, uma das maiores preocupações do movimento sindical. “Nossa luta é muito grande porque, com o avanço desta terceirização, a categoria pode deixar literalmente de existir”, disse o sindicalista Marco Aurélio Alves, do Sindicato de Belo Horizonte e coordenador nacional da COE (Comissão de Organização dos Empregados) do Mercantil.   

Mulheres discriminadas

O painel do Dieese mostrou também que a discriminação contra as mulheres na categoria apresenta números preocupantes no Mercantil: as bancárias representam 43,64% do quadro funcional e os homens, 56,36%. Mas a maioria delas está nos estágios. Já em relação à presença nas funções de chefia, fica claro que o banco discrimina as bancárias: nas coordenações, são 114 homens contra apenas 64 mulheres e nos cargos de superintendência, são 48 homens contra apenas 17 funcionárias.   

Alta rotatividade

A economista apresentou também dados que revelam uma alta rotatividade, um problema comum no setor, apesar das instituições financeiras negarem o problema. “A rotatividade só não é ainda mais alta por causa dos bancos públicos. Se levarmos em conta apenas o setor privado, a média é elevada e chega a mais de 20%”, disse.

Nos setores de serviços, como comércio, é ainda maior e chega a 50% e isso ocorre por que estas categorias, ao contrário dos bancários, não possuem uma cobertura de convenções coletivas em nível nacional, e nem uma representação sindical forte. 

“Os números e dados do Dieese são imprescindíveis para a nossa negociação com os bancos e mostram que o banco tem projeções e resultados financeiros positivos. Temos que valorizar os funcionários que estão na linha de frente para garantir os lucros do banco”, disse Marco Aurélio Alves, coordenador nacional da COE (Comissão de Organização dos Empregados). 

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