Quarta, 01 Fevereiro 2023 17:17
FATOS E BOATOS

Fake News bolsonarista mente sobre empréstimos do BNDES no exterior

Investimentos que fomentam obras em outros países beneficiaram mais de 2 mil empresas brasileiras, como no caso de projeto de engenharia na Argentina

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Com informações da Contraf-CUT

Quem nunca leu alguma “informação” nas redes sociais de que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) durante os governos Lula e Dilma emprestou dinheiro a outros países, como Cuba, Venezuela e Argentina, “trazendo prejuízos para o Brasil”?

Com a volta dos investimentos do banco no exterior, no governo eleito, as fake News bolsonaristas voltam a mentir sobre o tema. Os empréstimos são, na verdade, investimentos externos que beneficiam milhares de empresas brasileiras que possuem negócios no exterior, como no caso dos projetos de engenharia para apoiar a construção de gasoduto na Argentina que, futuramente, poderá abastecer o Brasil com gás de xisto.
Segundo Lula, há interesses “no gasoduto, nos fertilizantes, no conhecimento científico e tecnológico que a Argentina tem”. O atual presidente lembra ainda que “países maiores têm que auxiliar os países que têm menos condições”. O BNDES é atualmente o terceiro maior banco de estímulo do mundo, atrás apenas de instituições da China e da Alemanha.

“A primeira grande fake news que temos que combater é de que o BNDES empresta dinheiro diretamente aos países”, pontua o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Vinícius Assumpção. “Quem recebe os aportes financeiros são empresas brasileiras que prestam serviços para as obras que serão desempenhadas no exterior”, destaca o sindicalista.  

Onde buscar informação

Uma forma de combater as mentiras disseminadas pelas redes bolsonaristas é cruzar informações em sites de credibilidade, como na própria página de notícias do BNDES: https://agenciadenoticias.bndes.gov.br/detalhe/fatoboato/Boato-BNDES-envia-dinheiro-para-outros-paises/.

O banco esclarece que “apoia a exportação de bens e serviços brasileiros para o exterior” e não envia dinheiro para outros países. São coisas bem diferentes. No apoio à exportação, os recursos são desembolsados aqui mesmo, no Brasil, em nossa moeda, o real, para a empresa brasileira exportadora. 

Nesta relação comercial dos investimentos fomentados pela instituição brasileira, os países estrangeiros que recebem as obras ficam responsáveis pelo pagamento dos débitos, de forma parcelada, com taxa de juros definida no acordo com o governo brasileiro. 

E em caso de inadimplência?

Em caso de inadimplência do devedor o banco é indenizado através do Fundo de Garantia à Exportação (FGE), vinculado ao Ministério da Fazenda, criado em 1997, ainda no governo Fernando Henrique (PSDB).

Os países que estão em atraso com o BNDES, atualmente, são Venezuela (US$ 681 milhões), Moçambique (US$ 122 milhões) e Cuba (US$ 226 milhões). Os débitos totalizam US$ 1,03 bilhão, até setembro de 2022. Mas outros US$ 573 milhões estão por vencer. Os valores relativos a esses empréstimos foram pagos pelo FGE.

Ganhando mercado

O Brasil e as empresas brasileiras ganham com os investimentos do BNDES no exterior. É o caso do setor de serviços de engenharia, onde o país chegou a ter 2,3% de presença no mercado global, nos anos em que a instituição brasileira atuou ativamente para financiar obras de engenharia mundo à fora.

Na década passada, mais de 2 mil empresas brasileiras, sendo 76% médias e pequenas, faziam parte da rede de fornecedores nesses empreendimentos. Hoje, com o corte dos investimentos nos governos Temer e principalmente nos quatro anos de Bolsonaro, a presença da engenharia brasileira está em menos de 1%. Os números confirmam que os empréstimos do BNDES para projetos em outros países fortalecem  as empresas nacionais.

BNDES só lucrou

Ao contrário do que afirmam as fakes bolsonaristas, o país, as empresas nacionais e o BNDES ganharam com estes investimentos: de 1998 até 2022, o BNDES desembolsou US$ 10,5 bilhões em obras realizadas no exterior. Nesse período, recebeu de volta US$ 12,7 bilhões. Portanto, o banco brasileiro teve lucro de US$ 2,2 bilhões ou pouco mais de R$ 11 bilhões.

“O banco não perdeu, mas ganhou dinheiro, com o financiamento para países da América Latina e da África”. Os dados estão no site do BNDES”, destacou o colunista do jornal Valor Econômico, Daniel Rittner, em matéria especial, publicada em novembro de 2022.
Ainda segundo informes divulgados pelo BNDES, em todo o período de 2003 a 2015, nos governos Lula e Dilma, o banco seguiu apresentando resultados positivos no lucro líquido. De 1998 até 2022, o banco emprestou US$ 274 bilhões à infraestrutura nacional, valor 26 vezes maior do que os empréstimos para financiar bens e serviços em obras de empresas brasileiras no exterior (US$ 10,5 bilhões).   

EUA: campeão de recursos

Nada de “ditadura socialista” no BNDES, nem durante os governos Lula e Dilma, ao contrário do que disseminam as notícias faltas. Um informe divulgado pelo BNDES, em 2019, mostra que, desde 1998, o BNDES destinou recursos para obras em mais de 40 países. O campeão dos recursos destinados pelo banco de fomento brasileiro foram os Estados Unidos, com mais US$ 17 bilhões, atrás de Argentina (US$ 3,5 bilhões) e Angola (US$ 3,4 bilhões).

Auditoria derrubou mentiras

A pedido do então presidente Bolsonaro, que ainda propagava a fake news da “caixa preta do BNDES”, o banco encomendou uma auditoria aos escritórios de advocacia Levy & Salomão e Cleary, Gottlieb Steen & Hamilton, com sedes no Rio e em Nova York, para analisar os contratos com o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
O relatório, de oito páginas e que custou R$ 48 milhões ao BNDES, nada constatou. “As decisões do banco parecem ter sido adotadas após considerações de diversos fatores negociais relevantes e ponderações dos riscos e potenciais benefícios para o banco”, concluíram os escritórios. 

Gás mais barato 

Vinícius Assumpção, ressalta que, na guerra de informações sobre o tema, pouco se comentou nas redes sociais sobre o que o Brasil pode ganhar com o gasoduto argentino. “A agência de notícias Reuters, por exemplo, avalia que a obra é interessante para o Brasil, que hoje compõe grande parte da sua demanda pelo gás boliviano”, destaca o dirigente da Contraf-CUT. 

O investimento no pais vizinho promoverá o desenvolvimento da infraestrutura para abastecer o Rio Grande do Sul, conforme declarou o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, no dia 23 de janeiro, em reunião ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Interesse nacional

Os Estados Unidos são, atualmente, o país que mais explora o xisto, por deter a maior reserva mundial deste tipo de rocha de onde é possível extrair petróleo e gás. Por ser uma fonte de energia barata, contribuiu para que o país do Norte mantivesse vantagens no crescimento econômico. A grande questão em torno da fonte de energia são os danos ambientais, pela forma como ocorre a extração e pela emissão de dióxido de carbono na atmosfera. 

O que muitos bolsonaristas não compreendem, mal informados por causa da rede de fake News é que está em jogo nos empréstimos do BNDES não é ideologia, mas o interesse nacional. Um exemplo vem do governo do general Geisel, ainda no regime militar, que foi o primeiro do mundo a reconhecer o governo após a revolução socialista em Angola por um motivo muito simples: o Brasil tinha inúmeras empresas e negócios no país africano que geravam recursos para o nosso país.

Mídia