Sexta, 24 Setembro 2021 14:21

A quem atende a precarização na segurança bancária?

Sou contra a retirada de portas giratórias e de vigilantes nas agências bancárias e não faltam argumentos para isso
 Adriana Nalesso Presidenta da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro - Federa-RJ Adriana Nalesso Presidenta da Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro - Federa-RJ

Qual a principal motivação de um Projeto de Lei que visa retirar portas giratórias e seguranças das agências bancárias? Esse é o conteúdo do PL 4772/2021, que tramita na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Por parte dos bancos, com certeza está relacionada a mais uma forma de economizar, se preocupando apenas com o dinheiro, desconsiderando a necessidade de proteção dos clientes, usuários e bancários. As reestruturações em andamento no setor bancário estão relacionadas à implementação de um novo conceito: a transformação das agências em lojas de atendimento. A principal argumentação por parte dos bancos para retirada de portas e seguranças nas unidades é a ausência de movimentação financeira.

Mas não é bem assim. O banco é visto por criminosos como uma oportunidade de praticar atos ilícitos. No estado do Rio de Janeiro, e no Brasil como um todo, nota-se o aumento da criminalidade e violência principalmente nos grandes centros urbanos e uma quantidade cada vez maior de registros de sequestros e extorsões. Conhecemos como funciona. Geralmente a quadrilha leva um tempo analisando a rotina das pessoas antes de agir. Diversos bancários já foram vítimas de sequestros. Agora, se tornou ainda mais fácil, já que, através das novas tecnologias, a transferência de recursos é imediata como no caso do Pix, o que dificulta o trabalho da polícia. A movimentação se consolida na mesma hora e o criminoso, na outra ponta, pode retirar o dinheiro ou até fazer qualquer outro tipo de movimentação.

Sou contra a retirada de portas giratórias e de vigilantes nas agências bancárias e não faltam argumentos para isso. Primeiramente porque a segurança não deve ser apenas para o “dinheiro” e sim para as pessoas, sejam elas, clientes, usuários ou bancários. Segundo, porque não é verdade que não há movimentação financeira: as transações financeiras, como depósitos, retiradas, transferências, pagamentos e muito mais, continuam acontecendo nos caixas eletrônicos e são constantemente alvos de quadrilhas especializadas. Terceiro, porque os bancos, que têm responsabilidade inquestionável com a segurança das pessoas, querem ampliar ainda mais suas margens de lucro com uma economia que pode levar a maior insegurança, assim como, contribuir para o aumento do desemprego, possibilitando a demissão de caixas bancários e de vigilantes que atuam no setor no estado do Rio de Janeiro.

De acordo com dados do Dieese, os bancos economizaram mais de R$ 750 milhões durante a pandemia em função da redução de gastos administrativos como luz, água, alugueis, segurança, entre outros. Além disso, fecharam mais de 1300 agências e eliminaram cerca de 10 mil postos de trabalho entre março de 2020 e março de 2021. O número de demitidos passa de 13 mil em função da rotatividade. Enquanto isso, no país dos juros extorsivos, conseguiram aumentar em mais de 50% os lucros, se comparado ao ano passado, chegando a um montante de mais de R$ 70 bilhões.

Os bancos poderiam transformar suas propagandas em realidade e ter responsabilidade social e compromisso com a geração de empregos, contribuir com a segurança pública e reduzir as taxas de juros possibilitando acesso a crédito, criando oportunidades de investimentos a quem mais precisa viabilizando a alavancagem econômica. Importante lembrar que banco é concessão pública: deveria prestar serviços à população em geral e também proteger a vida e a integridade física dos clientes que pagam tarifas altíssimas, realizam suas próprias operações e ainda ficam mais vulneráveis nas unidades bancárias sem segurança.

Todos nós notamos a sobrecarga de trabalho da polícia em função da realidade econômica e social que vivenciamos, impactados pelo tamanho de nossas cidades e a quantidade de ocorrências diárias. Sabemos que em casos de emergência, o tempo é um fator vital para solução de eventuais problemas. E agora, com a possibilidade de realização de grandes operações digitais, a transferência pode ocorrer a partir de constrangimento violento de bancários e clientes. Por tudo isso, a manutenção da estrutura de segurança é importante para coibir a violência e crimes nas unidades bancárias.

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