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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Levanta, sacode a poeira e vai…
Por Virginia Berriel
A conjuntura tem sido muito dinâmica e nos atropela pelo menos umas duas vezes ao dia. Impressionante viver em tempos de Pandemia e numa montanha russa de maluquices, perversidade e barbárie. É o que temos pela frente se não tivermos coragem, ânimo e as ferramentas certas para enfrentar o inimigo nessa luta. E o nosso inimigo está no poder, “está com poder”. Provoca e debocha o tempo todo dos brasileiros e tem prazer nisso, mais parece um sádico. Não estamos mais à beira do abismo – fomos empurrados, caímos dentro dele, mas ainda estamos vivos, portanto, temos que imaginar que seremos vitoriosos mais à frente. Agora, precisamos sobreviver às perdas e dores e saber quem é o alvo. O nosso alvo está no Planalto.
Tudo isso começou lá atrás, assim que o Presidente Lula assumiu. Desde então a direita vem se organizando, se articulando e não ia nos engolir de forma alguma. Mesmo uma esquerda boazinha, como foi na época do Presidente Lula, que abriu todos os canais de diálogo e, de certa maneira, os cofres. Transitou da esquerda para a direita, foi condescendente, soube articular muito bem com o empresariado, atendeu e supriu a demanda dos meios de comunicação, mesmo assim, eles estavam apenas nos cozinhando.
Daí vem uma mulher determinada, por vezes muito durona – é o que dizem até alguns militantes mais próximos. Dilma Rousseff foi extremamente técnica, fez um bom governo no seu primeiro mandato, saiu com 59% de aprovação, o maior índice para um presidente neste período desde a redemocratização. Vai para um segundo mandato disputando com um bon vivant – muito mais para bandido. Aécio Neves não aceita a derrota, junta-se com o que há de mais podre no país e chafurdam a Democracia no lamaçal que permeia o poder. O capital, a justiça, os meios de comunicação e os empresários sórdidos juntam-se ao candidato derrotado e ao vice presidente, um judas, e fomentam, articulam e organizam o Impeachement . O resto dessa história, todos nós conhecemos muito bem.
É necessário entender, ou pelo menos ter um pouco de conhecimento sobre as sequelas deixadas pelo golpe, sequelas essas que feriram de morte a nossa jovem Democracia. Criminalizaram o maior partido político do País, o PT, e outros partidos de esquerda também. Agora, é preciso reconhecermos que o partido político mais atingido e espoliado, sem dúvida, foi o Partido dos Trabalhadores, principalmente por conta da prisão do seu maior líder, o Presidente Lula. Nós do PT, os juristas, sabemos que foi preso injustamente, mas o que fica para o povo brasileiro, para a sociedade, é o que foi disseminado e não foi pouca coisa. A cegueira coletiva e o ódio foram plantados. Bolsonaro foi eleito à base de mentiras, do mau caráter que sempre foi. Ele nunca negou sua extrema ignorância, seu fascismo, machismo, misoginia, homofobia, racismo, descaso total aos pobres e trabalhadores.
O Governo que aí está, por enquanto, foi eleito exatamente porque sempre exaltou e explicitou a barbárie. A nossa sociedade, com Bolsonaro, conseguiu tirar a sua máscara, mostrar que é igual a ele, tem as mesmas qualidades e os adjetivos do seu líder neofacista. Já os pobres, os favelados que votaram em Bolsonaro, o fizeram, muitos porque foram ludibriados por ideologias e outros pelo cabresto das milícias e imposição de pastores. Já os trabalhadores o fizeram por ignorância e falta de trabalho de base de suas lideranças sindicais e políticas.
Não podemos errar novamente. Será que não aprendemos nada com os nossos desacertos e erros? Bolsonaro foi eleito não apenas pelas mentiras e verdades que contou, mas em parte por conta de uma conjunção ingênua da esquerda. Fomos muito ingênuos desde o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, já que naquele período a esquerda se dividiu, não teve força o suficiente para enfrentar os golpistas e tomar plenamente às ruas. Enfrentamos agora problemas semelhantes, pensando nas eleições municipais deste ano – e, evidentemente, o meu olhar principal é no Rio de Janeiro, onde temos o caos político instalado, há muito o povo do Rio sofre e não vê perspectivas e nem mudanças no cenário político da cidade.
A esperança para as eleições municipais no Rio de Janeiro durou pouco. A pré-candidatura Freixo/Benedita foi um suspiro. Foi abraçada pelo PT, parte do PSOL, mas não foi abraçada por toda a esquerda. Tem disputa de ego, ranço, despreparo e muita insensibilidade na esquerda e, nesse caso, muita falta de visão política. Não quero aqui gerar nenhuma polêmica ou desgaste, mas não dá para o PDT ficar nessa eterna rinha e nem para os demais partidos PSB, PCB e PCdoB fecharem os olhos diante do caos político na cidade. Marcelo Freixo retirou-se, creio nessa conjuntura teve medo de sair menor porque, excetuando o apoio total do PT, não tinha obtido o apoio total do seu partido, o PSOL, mas também não conseguiu o apoio dos demais partidos que costuraram aliança entre si. Inclusive o PCdoB e o PDT não abriram mão de pré-candidatura própria. Aliás, tem liderança que até fugiu da conversa para a construção da Frente Ampla.
O cenário político para as eleições municipais no Rio de Janeiro é totalmente desolador. De um lado o pastor Crivella e do outro Eduardo Paes. É de chorar. A Frente Ampla para enfrentar o fascismo precisa ser ampla. É necessário que os partidos verdadeiramente socialistas e democráticos, mas, sobretudo, que pensam no bem-estar da população, abdiquem de vaidades e egos. Não temos mais tempo e precisamos desesperadamente compor para contrapor e vencer o autoritarismo e o fascismo. As necessidades da população, principalmente das minorias, dos trabalhadores, dos pobres e vulneráveis poderão ser atendidas quando os políticos tiverem boa vontade política e altruísmo.
Como exemplo de coesão e organização cabe destacar que os partidos de esquerda, dentre eles o PT, PCdoB, PCB, PCO, PSOL, PSTU, UP e mais de 400 entidades do Movimento Social, todas as Centrais Sindicais e Frentes protocolaram pedido de impeachmant contra Bolsonaro. Essa mesma força precisa ser conduzida no caso das eleições municipais. Conseguiremos atingir os nossos alvos?
Por Virginia Berriel
Jornalista