Quinta, 14 Fevereiro 2019 15:08

Obrigado, Bibi, pelo privilégio que você me deu

Peço licença para um minuto de pausa da abjeção da política como hoje ela é para agradecer a alguém que se foi.

Bibi Ferreira, aos 18 anos, proporcionou-me o privilégio de vê-la como Joana, na inesquecível Gota D’Água de Chico Buarque e Paulo Pontes, feita sobre a adaptação de Oduvaldo Vianna Filho sobre a Medeia, a tragédia grega de Eurípides.

Era ditadura, treva, e o guri entrou numa fila, comprando com os cruzeiros que lhe restavam depois do ingresso, um jornal-programa da peça, inspirado na demolição, à força, da Vila Mimosa, o mangue carioca, com um título “popularesco” e genial: “Prostituição é mal social que picareta não derruba”.

Dentro do teatro, o espetacular cenário de três andares da Vila do Meio Dia e nele, brilhando como um sol escuro, a trágica Joana de Bibi.

Trágica, mas dramática, espetacular, magnífica, cantando tão maravilhosamente que, durante 20 anos, diverti-me fazendo meus filhos rirem de minhas desafinadas ao cantar que “meu coração é um pote até aqui de mágoa”.

Da vida a gente recolhe mesmo o que é bom, o mal se dissolve com o tempo.

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