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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Publicado: 09 Novembro, 2022 - 10h38 | Última modificação: 09 Novembro, 2022 - 11h54
Escrito por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz
Representantes da CUT, da Confederação Sindical Internacional (CSI) e da Confederação Sindical das Américas (CSA) estão no Egito participando dos debates da 27ª Conferência do Clima das Organizações das Nações Unidas (COP 27).
O objetivo do movimento sindical é cobrar que as propostas discutidas para resolver o drama das mudanças climáticas contemplem a proteção social aos trabalhadores e às trabalhadoras e aos povos originários dos países.
Para isso, terão de dialogar e negociar com líderes de governos, empresários, diplomatas e cientistas, que participam da COP 27, que teve início no dia 6 e segue até o dia 18 de novembro.
A COP 27 tem por objetivo definir metas e compromissos para conter as mudanças climáticas por meio da redução das emissões de carbono - os gases de efeito estufa - e da busca por soluções que possam ser aplicadas em nível global. os debates terão como foco a implementação do Acordo de Paris (2015), garantindo mecanismos para sua execução, financiamento e compromissos nacionais frente ao fato de que o mundo não está agindo o suficiente para reverter o cenário atual.
O papel das organizações sindicais na busca por soluções é exercer pressão para que os líderes mundiais incluam na pauta temas prioritários como proteção e geração de trabalho decente, com representação sindical, negociação coletiva e programas sociais para os trabalhadores, população que mais é impactada em processos de transição energética pelos países, explica o secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, que representa a central na COP-27.
“É um momento central para apresentarmos essas questões. Os governos têm que se comprometer em proteger o emprego ao cumprir com a redução de emissão de gases de efeito estufa, em suas NDC´s e têm que incluir a perspectiva social, de direitos, tais como aposentadoria, requalificação, entre outros”, diz o dirigente.
NDC’s, cuja tradução da sigla é ‘Contribuição Nacionalmente Determinada’ são as metas de redução de emissão de gases que cada país apresenta. A NDC brasileira é de 2015 e estabelece que o Brasil deve reduzir suas emissões em 37% até 2025 e em 43% até 2030, tendo como base as emissões do ano de 2005. A sociedade civil vem apontando a necessidade de o Brasil atualizar esta meta e aumentar a sua ambição.
Nesses encontros, diz Daniel, são apresentados estudos sobre diversos aspectos como as condições em que se promove a transição energética e sobre o efeito da degradação do meio ambiente aos trabalhadores, povos e comunidades tradicionais e a sociedade como um todo, por exemplo, sobre os impactos do desmatamento e da exploração predatória em biomas - como a Amazônia, no caso do Brasil.
“É importante entender que o combate ao desmatamento tem que vir pelo papel público do Estado, com perspectiva social e diminuição da desigualdade. A atuação de órgãos públicos deve ter um olhar específico para os povos originários que dali tiram o sustento”, explica Daniel.
REUNIÃO DE LÍDERES SINDICAIS NA COP-27/FOTO: DANIEL GAIO
Posicionamento dos trabalhadores na COP 27
A bancada sindical internacional, coordenada pela CSI, apresenta oficialmente seu posicionamento – olhar e as demandas da classe trabalhadora - sobre a transição justa, na COP 27, por meio de um documento com questões relativas ao mundo do trabalho - questionando os formatos de transição e reforçando que “é urgente avançar para uma transição verdadeiramente justa”. Entre os destaques estão:
O documento regional apresentado pela CSA também aponta a urgência de financiamento para enfrentar as mudanças climáticas e denuncia processos na região das Américas onde a transição não está acontecendo de forma justa como o caso chileno e mexicano.
Além disso, elenca as principais demandas dos trabalhadores:
Lula na COP27
A presença do presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, na COP 27, que deve ocorrer a partir do dia 15, deu uma sacudida nas expectativas criadas para esta edição.
“O que se vê é muita esperança por parte dos diversos setores que participam, em especial dos governos. Líderes mundiais têm a consciência da importância do Brasil nas discussões sobre transição energética e o desejo de voltar a negociar com o Brasil”, diz Daniel Gaio.
O mais importante é que o Brasil, com Lula, volta a ser uma força motriz que puxa as negociações para frente, adianta, e apontas perspectivas para o cumprimento de metas
E o dirigente afirma: “Vários dos líderes já anunciaram que querem ter diálogos paralelos com Lula”.
Fim de uma era de vergonha internacional
Apesar da presença de Lula na COP27, o Brasil ainda é presidido por Jair Bolsonaro (PL) e o país, no que diz respeito à participação governamental, ainda carregará o sobrenome do atual presidente. A exemplo do ano passado, na COP26, em Glasgow, na Escócia, o governo brasileiro deverá apresentar dados distorcidos sobre combate ao desmatamento no Brasil para angariar recursos de outros países.
“É mais uma vergonha que o Brasil passa, com fake news nos processos de negociação, falando uma coisa e fazendo outra”, critica o dirigente.
Ele reforça ainda que em 2022, com aumento das queimadas, o país fica em situação preocupante no cenário internacional. Daniel explica que 77% das emissões de carbono têm como causa as alterações do uso da terra, ou seja, o desflorestamento, em especial da Amazônia.
“Será uma negociação que deverá apresentar compromissos sérios e deverá apontar desde já resultados para poder efetivamente se ter a esperança de limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C”, diz Daniel Gaio em referência à expectativa das negociações entre os países.
Atuação dos povos originários
Enquanto o foco do governo brasileiro na COP27 está nas “energias verdes brasileiras, a indústria e o agro sustentável”, conforme declaração do próprio ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, no programa “A voz do Brasil”, os povos indígenas, quilombolas e povos e comunidades tradicionais esperam que a COP deste ano seja um momento de ratificar que a saída para o clima não existe sem a participação deles na defesa das florestas e sem o respeito aos seus modos de vida ligados à proteção das matas.
Em setembro deste ano, lideranças indígenas do Brasil participaram da Semana Climática de Nova York, nos Estados Unidos, para denunciar, durante Assembleia Geral da ONU, os ataques à vida e aos territórios provocados pelo Estado brasileiro.
A principal reivindicação da articulação à comunidade internacional foi a criação de um mecanismo de financiamento direto para os povos indígenas, sem intermédio de governos nacionais, para apoiar a conservação da biodiversidade nos seus territórios.
A expectativa é que a pressão feita em Nova York dê força a medidas práticas, em especial ao cumprimento da promessa de doação de US$ 1,7 bilhão feita na COP26, em 2021, pelos governos do Reino Unido, EUA, Alemanha, Noruega e Países Baixos, para que os povos originários sigam protegendo seus territórios e desempenhando seu papel fundamental na luta contra a emergência climática.