Terça, 25 Outubro 2022 15:46

Matéria da Folha de 98 confirma que Lula sempre foi contra aborto e ideologia de gênero

Informação de 24 anos atrás e nova carta de compromisso com cristãos em 2022 desmentem fake news bolsonarista disseminada em igrejas evangélicas
Pastores evangélicos que apoiam Lula oram pelo candidato, que como católico, sempre defendeu valores morais cristãos, o que desmente fake news espalhadas nas igrejas Pastores evangélicos que apoiam Lula oram pelo candidato, que como católico, sempre defendeu valores morais cristãos, o que desmente fake news espalhadas nas igrejas Foto: Ricardo Stuckert

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

O terrorismo eleitoral feito pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) está espalhando fake news para o eleitor evangélico não votar em Lula. O discurso é sempre o mesmo: “não podemos votar em candidato que contrarie valores cristãos e seja a favor do aborto e da ideologia de gênero”. Contrariando as informações falsas, Luiz Inácio Lula da Silva, católico, sempre se posicionou contra o aborto e a ideologia de gênero nas escolas. Matéria do jornal Folha de S. Paulo comprova isso, num período em que parlamentares do partido colocam estas questões de valores morais em pauta.  O candidato petista disse ainda ser contra o jogo.  

Diante da enxurrada de fake news nas redes sociais e reproduzidas por pastores evangélicos de várias denominações, Lula decidiu reafirmar suas posições numa carta expressando seus compromissos com estes valores cristãos, divulgada no último dia 18 de outubro (terça-feira). No documento, o candidato petista rebate as fake news que afirmam que, se ele ganhar a eleição, “a liberdade de culto estaria ameaçada” e “as igrejas correriam risco de serem fechadas”.

“A grande maioria dos brasileiros e brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República, sabe que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela Liberdade Religiosa”, explica na carta.

Esta postura de Lula em relação aos temas tabus no meio cristão vem desde a primeira eleição presidencial em que participou, quando escreveu sua primeira carta aos cristão assumindo compromissos com a liberdade de culto e os valores morais ensinados das igrejas, em 1989.

Apesar de sua posição pessoal e como homem público, Lula critica a disseminação do ódio e da discriminação aos homossexuais apregoada por algumas lideranças políticas de extrema-direita. 

Interesses político e econômico

De fato, o governo petista jamais perseguiu ou trouxe quaisquer dificuldades para os evangélicos ou outras religiões. Ao contrário. Foi Lula quem sancionou, a pedido da bancada evangélica no Congresso Nacional, a Lei criando a “Marcha para Jesus” e outra reafirmando o direito constitucional à liberdade de culto. Em 14 anos dos governos Lula e Dilma Rousseff, por exemplo, foi o período em que a Igreja Assembleia de Deus da Vitória, do pastor Silas Malafaia mais cresceu, abrindo 42 novos templos.

Na verdade, os motivos para o apoio incondicional das cúpulas evangélicas ao candidato Jair Bolsonaro estão muito longe de serem os valores morais e cristãos. Segundo denúncia de alguns pastores que alegam estar sendo perseguidos e ameaçados por apoiar Lula, as razões da campanha para Bolsonaro nas igrejas são interesses por mais influência política no governo e para isenções de dívidas à Receita Federal. Matéria publicada no site Uol, em 2021, revela que a igreja e editora dirigidas pelo empresário e pastor Malafaia possuem uma dívida ativa estimada em R$4,6 milhões em impostos à União, sendo que R$1,3 milhão está sendo parcelado num acordo com o atual governo. O valor da dívida é quase três maior que o registrado em dezembro de 2018, segundo dados da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

As dívidas totais da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, da qual Malafaia é presidente, somam R$ 2,89 milhões. A editora Central Gospel, que também possui R$ 26 mil em débitos da CSLL (Contribuição Social do Lucro Líquido), do mesmo proprietário e de cujos lucros Malafaia diz garantir sua sobrevivência e de sua família, está em recuperação judicial desde 2019, e possui R$ 1,76 milhão em dívida ativa no total.

“Poder e dinheiro. É isto que está por trás do apoio de pastores à Bolsonaro e tanto medo de Lula vencer a eleição. Nada tem a ver com valores cristãos. São perdões e parcelamento de dívidas, empreendimentos, como editoras, cursos teológicos e escolas e até problemas na Justiça que estão em jogo”, denuncia um pastor de outra igreja pentecostal, que temendo retaliação, prefere não se identificar. 

O curioso é que Bolsonaro mudou de opinião sobre os temas ao longo de sua trajetória política. Como parlamentar, já chegou a defender a pílula do aborto, citando a China como exemplo, como forma de controle de natalidade, dizendo que " de nada adiantam nossas convicções religiosas" e, em outra entrevista, disse que "o aborto é uma decisão que cabe ao casal", declarou em entrevista à jornalista Cláudia Carneiro, no ano de 2000. 

Confira baixo, na íntegra, a matéria da Folha de 1998 em que Lula fala de sua posição sobre tabus como aborto e ideologia de gênero nas escolas e a carta aos evangélicos, divulgada em outubro destre ano, para desmentir fake news bolsonaristas, iniciativa que ele tomou também nas eleições de 1989 na disputa contra Fernando Collor de Mello. 

 

São Paulo, sexta, 26 de junho de 1998

Lula diz ser contra aborto e casamento homossexual

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem, em programa de uma rádio católica do Rio, ser pessoalmente contrário ao aborto, ao casamento entre homossexuais e ao jogo.
Dois projetos de autoria da deputada federal petista e candidata ao governo de São Paulo Marta Suplicy propõem a ampliação do aborto legal e a legalização da união civil entre homossexuais.
Sobre os três temas, Lula deu respostas vagas. Pessoalmente, afirmou ser contra o aborto, o casamento de homossexuais e o jogo, mas fez algumas ressalvas.
Afirmou que o Estado precisa tratar o aborto como "uma questão de saúde pública quando for necessário, até para cumprir a lei".
Lula disse ser contra o casamento de homossexuais, mas que não poderia ser hipócrita e não perceber "que existem casais que moram juntos". Segundo ele, o que se está pedindo "é a união civil", para que os que vivem juntos tenham direito aos bens que produziram durante a relação.
Sobre o jogo, Lula disse ser contra a sua utilização no Brasil como "uma forma de despertar no povo uma idéia de que ele vai conseguir sua independência". Não respondeu, porém, se admitiria ou não a sua legalização, como presidente.

Drogas

Lula disse ainda ser favorável à descriminação do uso de drogas e a um controle social sobre a programação de TV.
Após a gravação do programa "Vox Populi", no estúdio da rádio Catedral, na sede da Arquidiocese do Rio, na Glória (zona sul), Lula disse ser favorável à punição do traficante, e não do usuário de droga, do "jovem viciado".
Lembrou que tem cinco filhos e afirmou ser contra "liberar a (venda da) droga".
Segundo ele, além de uma mudança da legislação sobre o tema, é necessário haver investimentos em educação e se utilizar a TV, o rádio e a imprensa para combater o vício das drogas.
"Temos que usar todos os espaços possíveis para ter uma sociedade sem vício", afirmou.
Lula disse também ser contra qualquer tipo de censura à programação de TV. Ele defendeu a criação de comissões para que a sociedade possa discutir programas que possam estimular a violência e até o uso de drogas.
Ele disse que os programas de TV precisam "colocar menos gente matando gente e mais gente educando gente".
Na rádio, Lula lembrou o problema do desemprego no país, afirmando que o jovem, sem perspectiva e marginalizado, pode ser levado, em uma situação de desespero, "à violência e à droga".
"Se você resolver colocar esse jovem na cadeia para punir a questão da droga, você poderá estar cometendo um genocídio com milhões de adolescentes", disse durante a gravação do programa, que iria ao ar ontem à noite. 

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Carta de Lula aos Evangélicos

"Meus Amigos e Minhas Amigas, nesta reta final do segundo turno, decidi escrever esta Carta Pública ao Povo Evangélico.

A grande maioria dos brasileiros e brasileiras que viveram os oito anos em que fui Presidente da República, sabe que mantive o mais absoluto respeito pelas liberdades coletivas e individuais, particularmente pela Liberdade Religiosa.

Como todos devem se lembrar, no período de meu governo, tivemos a honra de assinar leis e decretos que reforçaram a plena liberdade religiosa. Destaco a Reforma do Código Civil assegurando a Liberdade Religiosa no Brasil, o Decreto que criou o dia dedicado à Marcha para Jesus e ainda o Dia Nacional dos Evangélicos. Mantenho o mesmo respeito e o mesmo compromisso que me motivou a apoiar essas conquistas do povo evangélico.

E o nosso Povo sabe também que cuidei, com especial carinho, dos mais pobres e injustiçados e assim, sob as Bênçãos de Deus, meu governo contribuiu para melhorar a vida de milhões de famílias brasileiras. Sempre penso, neste sentido, no trecho bíblico que diz: “a verdadeira religião é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades...” (Tiago, 1,27)

Vivemos, entretanto, um período em que mentiras passaram a ser usadas intensamente com o objetivo de provocar medo nas pessoas de boa-fé, e afastá-las do apoio a uma Candidatura que justamente mais as defende.

Por isso senti a necessidade de reafirmar meu compromisso com a liberdade de culto e de religião em nosso País. Todos sabem que nunca houve qualquer risco ao funcionamento das Igrejas enquanto fui Presidente. Pelo contrário! Com a prosperidade que ajudamos a construir, foi no nosso Governo que as Igrejas mais cresceram, principalmente as Evangélicas, sem qualquer impedimento e até tiveram condições de enviar missionários para outros países.

Não há por que acreditar que agora seria diferente. Posso lhes assegurar, portanto, que meu Governo não adotará quaisquer atitudes que firam a liberdade de Culto e de Pregação ou criem obstáculos ao livre funcionamento dos Templos.

Envio-lhes esta mensagem, portanto, em respeito à Verdade e ao apreço que tenho a esse Povo crente no Verdadeiro Deus da Misericórdia e a seus dedicados pastores e pastoras.

Se Deus e o povo brasileiro permitirem que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e famílias brasileiras.

Sei muito bem que em todas as regiões do Brasil há Igrejas com Irmãos e Irmãs que trabalham ativamente nas suas comunidades com a propagação do Evangelho e com o cuidado do povo, dedicando-se a tornar mais leve os fardos espiritual e social de milhões de pessoas.

Declaro meu respeito e minha admiração pela fé, dedicação e amor com que os evangélicos realizam sua missão, seja na área da difusão do evangelho, seja na área da assistência social, proteção da infância, da juventude, das mulheres, dos idosos e das pessoas com deficiência. Da mesma forma é bem-vinda a participação de Evangélicos nas diversas formas de participação social no

Governo, como Conselhos Setoriais e Conferências Públicas.

Em meio a este triste escândalo do uso da Fé para fins eleitorais, assumo com vocês este compromisso: meu Governo jamais vai usar símbolos de sua Fé para fins político-partidários, respeitando as leis e as tradições que separam o Estado da Igreja, para que não haja interferência política na prática da Fé.

Esse é um ensinamento que a própria Bíblia nos dá: andar pelo caminho da Paz com todos. Jesus nos mostra que a casa dividida não prospera. A religião é para ser respeitada e vivida de acordo com a livre escolha de cada pessoa.

Portanto, a tentativa de uso político da fé para dividir os brasileiros não ajuda ninguém, nem ao Estado, nem às igrejas, porque afasta as Pessoas da mensagem do Evangelho. Jesus Cristo nos ensinou Liberdade e paz, respeito e união, disso

precisamos. E os cristãos evangélicos têm dado mostras, ao longo da História, de seu compromisso com a paz, seguindo o que Jesus ensinou: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus” (Mateus, 22,21).

Outro compromisso que assumo: fortalecer as famílias para que os nossos jovens sejam mantidos longe das drogas. Nós queremos nossa Juventude na escola, na iniciação profissional, realizando atividades esportivas e culturais para que tenham mais oportunidades e exerçam cidadania de forma produtiva, saudável e plena.

O respeito à família sempre foi um valor central na minha vida, que se reflete no profundo amor que dedico à minha esposa, aos meus filhos e netos. Por isso compreendo o lugar central que a família ocupa na fé cristã.

Também entendo que o lar e a orientação dos pais são fundamentais na educação de seus filhos, cabendo à escola apoiá-los dialogando e respeitando os valores das famílias, em a interferência do Estado.

A preocupação com as Famílias Brasileiras deve ser integral. O povo brasileiro está numa condição de desespero, e precisaremos muito da ajuda das Igrejas para, o quanto antes, reverter esta situação. De nada adianta se dizer defensor da Família e ao mesmo tempo destruí-las pela miséria, pelo desemprego, pelo corte das políticas sociais e de moradia popular. Queremos dar às famílias, prosperidade e segurança. O Lar é a garantia de proteção. É inaceitável que milhões de brasileiros e brasileiras não tenham um teto. Por isso, vamos retomar o vitorioso programa Minha Casa Minha Vida, com toda intensidade, para que todas as Famílias brasileiras tenham uma casa onde possam viver com segurança e dignidade.

Nosso governo implementará políticas públicas consistentes para que nenhuma família brasileira enfrente o flagelo da fome. Sobretudo, não pouparei esforços para que possam adquirir os necessários e suficientes meios, para viver dignamente por seu trabalho, sem ter que depender da ajuda do Estado.

Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional.

Meus Queridos e Minhas Queridas, peço que recebam essas palavras como uma demonstração de meu desejo sincero de servir, de ajudar e trabalhar pelo bem de nosso país. E estejam certos de minha estima e meu compromisso com todo o povo cristão de nosso país. Reitero meu compromisso, que é o mesmo de vocês: paz, união e fraternidade entre todos os brasileiros e brasileiras.

Com as bênçãos de Deus, haveremos de honrar nossa dupla condição, de cidadãos e cristãos, pois não há contradição entre elas quando o propósito é servir, buscando a paz e o entendimento.

E digo tudo isso com muito amor pelo nosso querido Brasil e pelo Povo Brasileiro: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes Amor uns pelos outros!” (João,13,35).

JUNTOS PELO BRASIL!

Luiz Inácio Lula da Silva

São Paulo, 19 de outubro de 2022.

 

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