Terça, 18 Outubro 2022 18:05

Venezuelanas recusam-se a gravar vídeo que reduziria desgaste da declaração pedófila de Bolsonaro

Por Olyntho Contente*

Imprensa SeebRio

Pressionadas pela campanha eleitoral de Jair Bolsonaro (PL), as meninas venezuelanas citadas pelo candidato na semana passada, se recusaram a gravar vídeo em que teriam que declarar não ter passado de um mal-entendido a fala pedófila do candidato. Segundo o jornal o Estado de S. Paulo, as jovens e suas mães ficaram com receio da exposição e do desgaste que isso poderia gerar. 

Para o presidente do Sindicato, José Ferreira, a atitude da campanha do presidente merece um veemente repúdio. "A categoria bancária tem esta luta histórica em defesa dos direitos das mulheres e condena a atitude de Bolsonaro. Todo este caso é gravíssimo e absurdo ainda mais que se trata do presidente brasileiro, pessoa que deveria dar o exemplo, ajudando e não tentando desqualificar pessoas que buscam no Brasil melhores condições de vida. Tudo isto mostra o caráter do presidente", afirmou. Acrescentou que mais uma vez Bolsonaro envergonhou o Brasil diante do mundo.

Nas declarações feitas numa entrevista na internet, o atual presidente conta que 'pintou um clima' com garotas venezuelanas de 14, 15 anos em uma comunidade de Brasília. "Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três ou quatro, bonitas. De 14, 15 anos. Arrumadinhas, num sábado, numa comunidade. Vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na tua casa?' Entrei", iniciou.

Bolsonaro foi além afirmando que se tratavam de prostitutas. "Tinha umas 15 a 20 meninas, num sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. Eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando no sábado. Pra quê? Ganhar a vida!", completou posteriormente. Na verdade, elas estavam se qualificando como manicures e cabeleireiras através de uma organização não governamental para poderem se sustentar no Brasil.

De acordo com o Estadão, a equipe de Bolsonaro queria que algumas delas divulgassem uma mensagem, sozinhas, dizendo que tudo havia sido um mal-entendido, já esclarecido. Antes, Bolsonaro gravou um vídeo ao lado da primeira-dama Michelle, em que pede desculpas por suas declarações sobre as menores venezuelanas. 

Assista à declaração de Bosonaro: https://youtu.be/QPlRVM6s12E?t=6

Investigação

O deputado distrital Leandro Grass (PV-DF), ex-candidato ao governo do Distrito Federal, encaminhou um ofício à Procuradoria-Geral da República (PGR) solicitando que seja feita uma investigação sobre a fala de Jair Bolsonaro ao podcast Paparazzo Rubro-Negro, no último sábado (15), onde ele afirma ter “pintado um clima” entre ele e um grupo de adolescentes venezuelanas de 13 e 14 anos enquanto andava de moto na cidade de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal.

Na avaliação de Grass, todas as possíveis justificativas do presidente para sua fala levam a indicar um ilícito. “Ele disse que ‘pintou um clima’ com as meninas, e afirmou categoricamente que elas estavam ali para ‘ganhar a vida’. Se o interesse dele foi apenas de averiguar uma situação de abuso sexual, prostituição infantil ou algo do tipo, a postura dele, como de qualquer agente público, teria que ser a de ativar qualquer um dos órgãos de proteção aos direitos da criança e do adolescente. Se ele viu essa situação e não o fez, então ele prevaricou”, apontou em entrevista ao Congresso em Foco.

Prevaricação

A deputada Maria do Rosário (PT-RS) e movimentos sociais em defesa da criança e do adolescente acionaram o Ministério Público Federal para apurar se o presidente Jair Bolsonaro prevaricou ao tomar conhecimento de exploração sexual infantil e não tomar providência. O caso ganhou repercussão nacional na última sexta-feira (14) após Bolsonaro relatar uma visita que fez a uma casa com adolescentes venezuelanas em Brasília. O presidente usou a expressão “pintou um clima” para justificar a visita às jovens em São Sebastião (DF).

De acordo com Código Penal, prevaricar é “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”. A pena para este tipo de crime é de três meses a um ano de prisão, além de multa.

Bolsonaro divulgou um vídeo nesta terça pedindo desculpas às venezuelanas. Em outra entrevista, em setembro, ele havia dito expressamente que as adolescentes “faziam programa”.

*Com informações do jornal Estado de Minas e do site Congresso em Foco. 

 

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