Sexta, 14 Outubro 2022 15:59

Após espalhar ‘denúncias’, Damares não apresenta provas sobre estupro e tráfico de crianças

Ex-ministra e senadora eleita admite que apenas ‘ouviu falar nas ruas’ sobre situação, mas não tem provas. Governo ainda não respondeu ao MPF
A ex-ministra Damares Alves, senadora eleita, espalhou informações de uma grave denúncia de crimes sexuais contra crianças no Pará, mas não apresentou provas e admite que ouvir falar dos casos "na rua" A ex-ministra Damares Alves, senadora eleita, espalhou informações de uma grave denúncia de crimes sexuais contra crianças no Pará, mas não apresentou provas e admite que ouvir falar dos casos "na rua" Rodrigues Pozzebon/Agência Brasil

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

A ex-ministra do governo Bolsonaro e senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves, deu declarações bombásticas nas redes sociais denunciando estupro e tráfico de crianças no Marajó, no estado do Pará. Ao fazer as afirmações, uma das mais radicais bolsonaristas do atual governo tentou relacionar as denúncias a governos de esquerda, referindo-se aos 14 anos de governo petista (como se o país não estivesse há quase quatro anos sob a gestão do atual governo do qual ela fez parte).  Em função da gravidade das denúncias, o Ministério Público Federal (MPF) e Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) cobram da ex-ministra, provas dos graves relatos. Damares, em mais uma de suas insanas declarações, está numa arapuca criada por ela mesmo: se estiver mentindo, espalhou fake news, prática comum em membros do governo Bolsonaro. Se o que falou é verdade, ela poderá responder por crime de prevarização ("Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal"), previsto no artigo 319 do Código Penal, pois, enquanto ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, teria a obrigação legal de comunicar o fato às autoridades competentes para que fosse aberta uma investigação.

Sem provas

A ex-ministra de Bolsonaro admitiu não ter provas de suas afirmações, mas apenas que ouviu "nas ruas" relatos sobre os crimes contra crianças na região paraense. Damares fez as afirmações em uma igreja evangélica, dizendo que “crianças do Marajó são traficadas para o exterior e submetidas a mutilações corporais e a regimes alimentares que facilitam abusos sexuais”. Ela afirmou, também, que “explodiu o número de estupros de recém-nascidos”, que no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) “há imagens de crianças de oito dias de vida sendo estupradas e que um vídeo de estupro de crianças é vendido por preços entre R$ 50 e R$ 100 mil. Em entrevista à rádio Bandeirantes de São Paulo, nesta quinta-feira (13), ela não apresentou provas das denúncias

Governo em silêncio

O Ministério Público Federal do Pará deu um prazo de três dias para a senadora detalhar as denúncias. 

"Isso tudo é falado nas ruas do Marajó, nas ruas da fronteira, no começo do meu vídeo eu falo Marajó porque é onde a gente começou um programa, mas o tráfico de crianças no Brasil acontece na fronteira. Em áreas de fronteiras a gente ouve coisas absurdas como o tráfico de mulheres e de crianças. Essa coisa de quando as crianças saem dopadas e seus dentinhos são arrancados onde chegam”, declarou. Os documentos entregues por Damares Alves a jornal não comprovam denúncias dela sobre supostos abusos sexuais infantis no Pará. O MPF informou que ainda não recebeu respostas do MMFDH sobre as declarações de Damares, e que providências teriam sido tomadas. Em nota, o órgão informou que "nos últimos 30 anos, nenhuma denúncia ao MPF sobre tráfico de crianças no Marajó mencionou torturas citadas por Damares".

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