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Sérgio Nobre pede ao MPT que apure e puna empresários que exploram trabalhadores sem teto e os fazem trabalhar na montagem de shows em condições precárias, com diárias baixíssimas, sem nenhuma proteção
Publicado: 19 Setembro, 2022 - 09h41 | Última modificação: 19 Setembro, 2022 - 09h58
Escrito por: Vanilda Oliveira
Empresas do setor de promoção de grandes eventos e espetáculos exploram a mão de obra da população que mora nas ruas, inclusive em condições análogas à escravidão. Pela vulnerabilidade, miséria e fome, essas pessoas se tornam alvos “fáceis e baratos”, uma situação absurda e cruel que aumentou com o retorno a ativa do setor de entretenimento. São trabalhadores e trabalhadoras desempregados por uma pandemia negada pelo governo e pela miséria causada por Bolsonaro.
O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, levou a denúncia desse cenário de precarização extrema ao procurador-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), José de Lima Ramos Pereira, na reunião que o magistrado teve com centrais sindicais, na semana passada, em Brasília.
Os dirigentes pediram ao MPT que amplie a fiscalização, para garantir o combate e a punição dos responsáveis por essa exploração, que aumentou após o retorno das atividades de entretenimento, que ficaram paralisadas durante mais de dois anos por causa da pandemia de Covid-19.
“Muitos desses moradores de rua empurrados para a miséria são pessoas que têm profissão, mas perderam o emprego; são costureiras, soldadores, mecânicos, gente de todos os setores dessa economia em crise, servindo de mão de obra barata para empresas que realizam grandes eventos”, disse Sérgio Nobre.
"Gente", complementou o presidente nacional da CUT, "que se vê obrigada a aceitar diárias baixíssimas, sem a proteção de qualquer tipo nem contrato, trabalhando de forma quase análoga à escravidão, em grandes eventos nos estádios e espaços de shows, como o Lollapalooza.”
A denúncia das centrais ao MPT sobre a exploração laboral da população de rua surgiu da reunião do presidente da CUT e de dirigentes de outras centrais sindicais com o padre Júlio Lancellotti, em 18 agosto passado, em São Paulo. No encontro, sacerdote, moradores de rua e sindicalistas debateram ações conjuntas de solidariedade e combate à miséria e à fome, em defesa da população de rua.
REPRODUÇÃOPadre Júlio e a Pastoral do Povo de Rua denunciam e realizam campanha permanente contra a aporofobia, palavra que significa ódio e aversão a pobres. Aversão que leva lojistas e prefeituras a se valer de ferros pontiagudos, pedras, grades em marquises, baixos de viadutos, além da retirada de bancos de espaços públicos, para impedir o uso e acesso dos moradores de rua.
Essas barreiras são chamadas de “arquitetura hostil” e ficaram mais conhecidas pelo público quando o padre Júlio Lancellotti, que é da paróquia de São Miguel Arcanjo, na capital paulistana, quebrou com marretadas as pedras instaladas em um viaduto que era abrigo para a população de rua.
REPRODUÇÃO/INSTAGRAMA aversão à pobreza não é novidade, mas só ganhou nome próprio há cerca 20 anos. De origem grega, á-poros (pobres) e fobos (medo), a aporofobia se refere ao medo e à rejeição aos pobres.
“Falei ao procurador-geral do Ministério Público tudo que nos foi relatado pelo padre Júlio, inclusive esse crime cometido por algumas prefeituras que, em vez de acolher os moradores de ruas, os expulsem do espaço público.
Direitos humanos
O padre Júlio Lancellotti denunciou, no início deste ano, a exploração da população de rua pelos organizadores do Lollapalooza, versão São Paulo, um dos maiores festivais de música do mundo, e que, segundo a mídia especializada, vendeu ingressos que custaram de R$ 720,00 (meia) a R$ 1.440,00 (inteira), por dia de evento. Na recente versão carioca, o mais caro ultrapassou o valor de R$ 3 mil.
As mesmas denúncias foram feitas contra os organizadores do festival das edições de edições de 2018 e 2019, quando, segundo apuração da Folha de S.Paulo, pessoas em situação de rua foram contratadas para a montagem e carregamento de equipamentos, por R$ 50,00 por 12 horas de trabalho.
Conforme denunciou o padre Júlio Lancellotti à época, os responsáveis pela contratação das pessoas em situação de rua vão buscá-las onde há mais concentração desta população, com vans. Em nota divulgada pela imprensa em março deste ano, a organização do Lola em São Paulo negou a denúncia de exploração dos trabalhadores de rua para a montagem do festival e informou que só para o evento na capital paulista gerou 9 mil empregos. Que tipo de emprego? É isso que o movimento sindical quer que o Ministério Público do Trabalho apure.