Quinta, 15 Setembro 2022 12:21

Fome no Brasil pode se agravar ainda mais, caso seja mantido o atual modelo econômico

Com Bolsonaro, fome e miséria aumentaram Com Bolsonaro, fome e miséria aumentaram

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Imprensa SeebRio

Um levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), divulgado nesta quarta-feira (14), mostrou que 125,2 milhões estão passando fome. Três em cada dez famílias brasileiras enfrentam algum tipo de dificuldade de se alimentar. Economistas e historiadores alertam que a situação pode se agravar ainda mais, gerando uma crise social sem precedentes.

Para o historiador e analista político Lincoln Penna, essa situação tem a ver basicamente com três fatores, a começar pelo total desprezo do atual governo com relação a políticas sociais que só foram consideradas a partir do processo eleitoral, portanto dentro de uma perspectiva meramente oportunista. “Não há nenhum programa social consistente. Essas políticas de compensação, assistencialistas, não resolvem o drama da sociedade brasileira”, afirmou. Em segundo lugar, apontou como causa, o desemprego agravado pela pandemia, sem qualquer amparo governamental, e, também, a crise estrutural do capitalismo que se agravou com a crise mundial de 2008.

A pesquisa comprovou que a maior proporção de famílias nessa situação está nas regiões Norte e Nordeste. Alagoas é o estado em que os casos de insegurança alimentar grave são mais frequentes, atingindo 36,7% das famílias pesquisadas. Em segundo lugar vem o Amapá, com 32% dos domicílios nessa situação. Na sequência, estão Pará e Sergipe, ambos com 30% da população atingida.

Mesmo atingindo proporcionalmente mais as regiões Norte e Nordeste, a maior concentração de pessoas que passam fome em números absolutos está no Sudeste, região mais populosa do país. Pincipalmente São Paulo, com 6,8 milhões de pessoas em insegurança alimentar grave, e pelo Rio de Janeiro, com 2,7 milhões na mesma situação.

Modelo econômico excludente

Para o economista Adhemar Mineiro, ex-técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) os números da pesquisa são o resultado de um modelo econômico que combina a redução do apoio às políticas sociais de renda no país, ao longo destes últimos seis anos (governos Temer e Bolsonaro), aprofundada nos quatro anos do governo atual, associada à falta de apoio à agricultura familiar que é quem mais produz alimentos no país.

“Isto faz com que o Brasil dependa cada vez mais de alimentos que têm seus preços guiados pelo mercado internacional, que subiram, assim como ocorreu com o dólar em relação ao real. Esses preços dolarizados, dispararam e a renda das pessoas caiu no Brasil”, explicou.

Lembra que este modelo explica porque quase um terço da população brasileira esteja nessa situação de insegurança alimentar. E alerta que essa situação vai se agravar caso não sejam retomadas rapidamente, de forma persistente e de longo prazo políticas públicas que garantam uma renda básica da população mais pobre e miserável, a promoção de aumentos do salário mínimo e o incentivo à agricultura familiar de forma a baratear os alimentos.

Falta de apoio a regiões mais pobres

Fernando Amorim, economista e técnico do Dieese, frisa que os números mostram um quadro dramático e inaceitável. Acrescentou que estados do Norte e Nordeste apresentam uma situação mais grave, por uma questão histórica de distribuição da estrutura produtiva. Mas que, apesar disto, as políticas governamentais não são feitas de forma direcionada, levando em conta estas diferenças gritantes entre regiões. “Se faz política macroeconômica como se o Brasil fosse do tamanho da Suíça, e não um país continental. Isso agrava ainda mais a situação”, frisou.

Na sua avaliação outra necessidade urgente é que o sistema financeiro, direcione o crédito também de forma diferenciada de acordo com cada região. “A situação se agrava ainda mais, em boa medida, porque grande parte das pessoas estão desempregadas, a renda caiu, a inflação subiu, ou seja, com a renda mais baixa, com o poder de compra reduzido e um nível de endividamento lá em cima, as pessoas se veem obrigadas a pagar por serviço básicos, como luz, água, gás vivendo uma situação que é agravada pelo endividamento, o que acaba refletindo nesses níveis estratosféricos de pessoas passando fome”, alertou.

Para Amorim todo este quadro deve ser pensado em conjunto para que ações sejam direcionadas para resolver este problema dramático. “Não basta fazer um discurso de que é preciso só estabilidade e inflação controlada. Isso não vai resolver o problema das famílias que estão famintas”, afirmou. “Tem que ser feito uma série de acertos para lidar com este problema que em algum momento da nossa história recente a gente parecia estar conseguindo resolver a agora nos deparamos com uma situação pior do que havia nos anos 1990”, argumentou.

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