O estudo mostra que em todos os estados as famílias mais vulneráveis à insegurança alimentar grave e moderada são aquelas com renda inferior a meio salário mínimo, com pessoas estão desempregadas ou em condições de trabalho precárias, além de apresentarem baixa escolaridade.
O maior percentual de fome em casas com crianças pode ser também um dos reflexos do novo recorte do Auxílio Brasil, que criou um piso que não levou em conta o número de menores em uma casa.
Segundo Diego de Vasconcelos, mestre em economia pela UFRGS, "o Auxílio Brasil é insuficiente para retirar as famílias da condição de insegurança alimentar":
"Neste contexto, o Brasil precisa fortalecer as políticas de combate a pobreza e as desigualdades regionais que existem no país, que podem ser através de políticas de apoio de renda para as famílias. Políticas que atuem nas cadeias de abastecimento alimentar de forma a melhorar a qualidade das estradas e outros meios de transporte podem reduzir o custo dos alimentos e facilitar o acesso deste para a população", ressalta Vasconcelos.
Segundo o estudo, cerca de 37,8% dos lares brasileiros com crianças de até 10 anos enfrentam insegurança alimentar grave ou moderada. A insegurança alimentar na infância afeta o desenvolvimento cognitivo, psicológico e físicos da crianças, que podem acarretar em problemas futuros.
"Com o significativo aumento da insegurança alimentar entre 2020 e 2022 no Brasil principalmente em lares que residem crianças com menos de 10 anos, podemos pensar em possíveis causas para isso. Podemos indicar que a forma como o Auxílio Brasil foi proposto acaba acentuando o problema em lares com famílias numerosas. Pois o Auxílio Brasil não diferencia famílias com diversos integrantes das que têm apenas um morador", explica Vasconcelos.
O economista Caio Ferrari, professor do Ibmec, destaca outros aspectos que impactam a situação no Estado:
"O problema do Rio de Janeiro, que os índices mostram acima da média, tem muita relação com o próprio problema que temos vivido na implementação do programa (Auxílio Brasil), como o ataque hacker no sistema do CadÚnico. Isso dificultou bastante o acesso das famílias, o que acaba criando uma barreira que distancia ainda mais as pessoas que precisam, uma vez que o programa já não é o ideal, fora as dificuldades técnicas", destaca Ferrari.
Ações do governo estadual
Em nota, o Governo do Estado afirma que tem "trabalhado intensamente no combate à fome em todo o estado" por meio de programas que fornecem alimentação gratuita ou a preços simbólicos. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos cita as ações de combate à fome em todo o Rio de Janeiro.
A pasta menciona os programas que fornecem alimentação gratuita ou a preços simbólicos, como os Restaurantes do Povo, que oferece de quentinhas, café da manhã a R$ 0,50, além de hospedagem e alimentação para a população em situação de rua. Tais iniciativas, destaca a secretaria "fazem parte da política estadual para reduzir a fome, a insegurança alimentar e nutricional por meio do fornecimento de refeições balanceadas."
Segundo o governo estadual, "até 2023 estarão em funcionamento cerca de 26 restaurantes para atender a população fluminense em diferentes municípios do Estado. E 59 pontos de fornecimento de café da manhã. Além dos demais programas de distribuição de alimentos que seguem em expansão."
*Estagiária sob supervisão de Marlucio Luna