A falta de doses da Jynneos para atender à demanda mundial tem repetido o cenário visto na pandemia da covid-19, em que havia grande restrição de imunizantes no mercado global. O problema é que alguns países têm novamente contornado os esforços da Organização Mundial da Saúde (OMS) e negociado compras unilaterais diretamente com a Bavarian Nordic.
Os Estados Unidos já haviam aplicado mais de 460 mil doses da vacina contra a varíola dos macacos até a última semana. Dias antes, a Bavarian Nordic também se comprometeu a entregar outras 170 mil doses a países da União Europeia, especificamente Noruega e Islândia, por meio da Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias da Europa (HERA).
O Brasil, enquanto isso, ainda aguarda uma remessa de 50 mil doses que não seriam suficientes para proteger nem os profissionais da saúde na linha de frente, uma vez que o imunizante requer duas aplicações.
Para contornar esse problema, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA anunciou na última quinta-feira o início de um ensaio clínico em 200 adultos voluntários. O objetivo é testar a eficácia e nível de resposta imune que a vacina da Jynneos pode gerar se administrada com aplicações intradérmicas (entre duas camadas de pele), o que permitiria "até cinco vezes mais doses por frasco", segundo a tese do órgão. Hoje, a recomendação é para que ela seja aplicada em duas doses subcutâneas (no tecido abaixo da pele), separadas por 28 dias.
Paralelamente, os EUA também fecharam um contrato com a Bavarian Nordic para a transferência de tecnologia da vacina Jynneos, a ser produzida diretamente no país. O Departamento de Saúde e Serviços Humanos investiu US$ 11 milhões (aproximadamente R$ 56,6 milhões) para que um centro tecnológico em Michigan passe a envasar as doses e finalizar o processo de fabricação do imunizante.
O monopólio de tecnologia e produção da Bavarian, entretanto, pode estar com os dias contados. Ainda no mês passado, a Moderna anunciou que começa a estudar a possibilidade de desenvolver sua própria vacina de mRNA contra a monkeypox. O Conselho de Pesquisa Médica da Índia (ICMR) também abriu uma concorrência para fabricantes dispostas a desenvolver um imunizante e novos kits de testagem no país. Mesmo sem prazo para escolher uma vencedora, 31 empresas já demonstraram interesse na missão.
Apesar de alternativas à Bavarian ainda estarem nos estágios iniciais e sem data de previsão para quando começariam sequer os testes de desenvolvimento para um imunizante, a entrada de novos concorrentes no mercado pode ser o estímulo que faltava para o aumento da oferta em escala global. No caso do Brasil, entretanto, a perspectiva de produção pela UFMG pode resgatar o pioneirismo e reconhecimento do País nesse mercado.