Sexta, 26 Agosto 2022 20:55
ASSEMBLEIA ORGANIZA LUTA

Bancários rejeitam perdas salariais e aprovam assembleias permanentes de mobilização

Categoria não aceita propostas rebaixadas dos bancos e retirada de direitos e prepara resposta dura à intransigência da Fenaban
A votação da assembleia terminou às 23h59 de sexta-feira (26). Caso a Fenaban não apresente uma proposta digna na negociação de segunda-feira (29), o movimento sindical promete uma resposta dura aos bancos A votação da assembleia terminou às 23h59 de sexta-feira (26). Caso a Fenaban não apresente uma proposta digna na negociação de segunda-feira (29), o movimento sindical promete uma resposta dura aos bancos Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Os bancários e bancárias aprovaram nesta sexta-feira (26), em assembleia extraordinária da categoria realizada por meio virtual, à rejeição das propostas na mesa da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) e a retirada de direitos apresentadas na mesa de negociação com o Comando Nacional dos Bancários. A categoria aprovou ainda a realização de assembleias permanentes para organizar a luta e dar uma resposta dura já na próxima semana à intransigência dos bancos. As negociações específicas da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e instituições financeiras privadas também não avançaram e apresentaram até retrocessos em relação aos direitos dos trabalhadorres. A proposta da Fenaban foi rejeitada com 98,47% dos votos. A votação começou às 19h e foi até às 23h59 o que permitiu uma grande participação na assembleia. 

Proposta com perdas

No Rio, o Sindicato iniciou a assembleia com informes das negociações da Fenaban (Federação Nacional dos Bancos ) e das mesas específicas do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e das instituições financeiras do setor privado. Adriana Nalesso, presidenta da Federa/RJ (Federação das Trabalhadoras e dos Trabalhadores no Ramo Financeiro do Estado do Rio de Janeiro), que participou da mesa de negociação com a Fenaban, em São Paulo, fez uma saudação à categoria e disse que os bancos têm frustrado às expectativas dos bancários e bancárias. Na negociação realizada no mesmo dia da assembleia, os bancos voltaram a decepcionar após 17 reuniões. com uma proposta rebaixada para o reajuste salarial, que representa apenas 75,8% da inflação e gera uma perda real de 2% nos salários, o que foi rejeitado pelo Comando Nacional. Para os tíquetes, os bancos ofereceram apenas a inflação geral (INPC) do período, que é de 8,68%, no entanto a alta dos alimentos supera este índice. Houve alguns avanços no teletrabalho, mas o Comando cobra neste item que os bancos  garantam as despesas extras paraquem trabalhar em casa, como internet e energia elétrica. 

"Não vamos aceitar proposta que sem aumento real de salários e com retirada de direitos. É um absurdo o que os bancos estão fazendo com os bancários e esperamos que eles cumpram com a palavra e apresentem uma proposta justa para a categoria que garanta ganhos e recupere o poder de compra dos bancários", alerta a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira. 

“Nossa consulta nacional revelou que 92% da categoria defendem um aumento maior nos tíquetes alimentação e refeição. Em seguida, as prioridades apontadas na enquete são o aumento real de salários e uma melhor PLR. O setor é altamente lucrativo e não reivindicamos nenhum absurdo. É possível, sim, a gente conseguir um acordo que atenda às expectativas da categoria e é importante, para isso, que os bancários e bancárias participem de nossa campanha nas redes sociais, criando novos perfis e pedindo a amigos e grupos que compartilhem nossas hashtags no Twitter, pois tocar na imagem das empresas incomoda muito os bancos”, disse.

A vice-presidenta do Sindicato Kátia Branco disse acreditar na capacidade de mobilização dos bancários e bancárias a fim de garantir um acordo digno.  “Estamos acompanhando as negociações da Fenaban e a recusa dos banqueiros, mas tenho certeza de que vamos ganhar esse jogo. Sem uma proposta decente com certeza vamos ter nossa luta fortalecida a partir das decisões tomadas nesta assembleia pela categoria”, destacou.

Combate ao assédio

José Ferreira lembrou que o Comando destacou na mesa a importância de os bancos debaterem a questão do assédio sexual e moral, citando o caso do ex-presidente da Caixa, Pedro Guimarães.  “Cobramos dos bancos medidas duras de combate ao assédio sexual e moral”, explicou.

O sindicalista informou ainda que os bancos aceitaram criar um Grupo de Trabalho para discutir assédio sexual e violência contra a mulher, criando e fortalecendo mecanismos de combate a estas práticas, mas mesmo neste item as propostas da Fenaban são consideradas ainda insuficientes e precisam avançar mais.

Teletrabalho

Ferreira disse ainda que o movimento sindical tem cobrado também dos bancos, condições melhores para o teletrabalho.  

“Cobramos o controle da jornada de trabalho no home Office, garantia de mobiliário adequado e nas questões dos custos como internet e energia elétrica, que entendemos serem de responsabilidade das empresas”, acrescentou.

Avaliação geral

Além de o Comando reivindicar o fim de metas abusivas que têm elevado o número de empregados adoecidos, José Ferreira falou também das propostas rebaixadas dos bancos nos itens remuneratórios.

“Hoje (sexta), os banqueiros insistiram em apresentar uma proposta com perdas para a categoria. Vamos organizar bancários e bancárias de todo o país e dar uma resposta ao setor mais lucrativo que insiste em não valorizar o trabalho daos bancários", destacou. 

Reajuste e PLR

O presidente do Sindicato lembrou que a reivindicação aprovada pela categoria na 24ª Conferência Nacional para os itens remuneratórios, realizada em junho deste ano, foram o aumento real de 5% mais a inflação do período repercutindo em todas as verbas remuneratórios, aumento ainda maior nos tíquetes e uma melhor PLR.  

“Mesmo tendo conquistado aumento real ao longo dos anos, a fatia da participação dos trabalhadores nos lucros das empresas tem caído em relação aos ganhos dos bancos”, ressaltou.

Foi explicado também que os bancos continuam querendo compensar os valores pagos pelos programas próprios na parcela adicional da PLR. Com isso, os bancários de bancos que possuem programas próprios têm perdas diretas na parcela adicional, o que também foi rejeitado pelo Comando.

A Fenaban chegou a oferecer para os tíquetes, 100% da inflação (INPC), mas o Comando voltou a defender um ganho real e um índice maior, pois com a alta dos alimentos acima da inflação geral, a proposta patronal representaria uma perda para a categoria.

Banco do Brasil

A diretora do Sindicato e representante da Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), Rita Mota, trouxe as informações sobre a situação das negociações com o banco.

“Tivemos apenas uma reunião esta semana e falamos da questão das horas negativas, pois o BB não quer anistiar todas as horas. No entanto, nós mostramos que os funcionários não ficaram com horas negativas por vontade própria, mas em função da pandemia e por decisão dos gestores”, explicou.

Segundo a empresa, 20.912 funcionários ainda devem ao banco de horas negativas, em decorrência do Acordo Coletivo de Trabalho Emergencial da Covid-19. A proposta da direção do BB é que o acordo para pagar o banco seja prorrogado por mais 18 meses e cumprido em até duas horas acima da carga horária diária de trabalho. Na avaliação do funcionalismo, a proposta resolve os problemas do banco, mas não dos trabalhadores.

“O banco disse ainda que não pode atender a nossa reivindicação de ampliar o teletrabalho”, informou Rita. Pelo acordo atual, os funcionários só podem trabalhar em home office por dois dias na semana ou o seu equivalente mensal. Cada departamento pode ter, por dia, ausência de, no máximo, 30% dos seus trabalhadores em teletrabalho, levando em consideração ausências físicas programadas, como férias e abonos.

Nas negociações sobre Avaliação da Gestão de Desenvolvimento por Competências (GDP), Rita criticou a intransigência do BB que insiste em manter apenas um ciclo de avaliação, um retrocesso.  Atualmente, o funcionário poderá ser dispensado da função ou descomissionado com três ciclos de avaliação “consecutivos de desempenho insatisfatório”. O BB trouxe a proposta de apenas um ciclo avaliatório para descomissionamento por desempenho, o que foi rejeitado pela representação dos trabalhadores.

Negociações na Caixa

O diretor do Sindicato Rogério Campanate abriu os informes das negociações da Caixa, que também não têm avançado, lembrando que os sindicatos têm cobrado desde o inicio das reuniões com o banco, a punição de assédio sexual e moral, citando sempre o caso do ex-presidente da estatal, Pedro Guimarães.

“Sentimos a direção da estatal muito acuada, demorando a responder, mas ágeis em apresentar propostas de retirada de direitos”, criticou.

“Cobramos rigor no processo de investigações dos casos de assédio sexual e moral na empresa, mas os representantes do banco alegaram que está em sigilo”, destacou.

Ressaltou que a CEE (Comissão Executiva dos Empregados) reafirmou dados da pesquisa organizada pela Fenae (Federação Nacional dos Empregados da Caixa) sobre condições de trabalho,  e cobrou a contratação de mais bancários concursados.

“Perdemos cerca de 20 mil empregados. Já tivemos mais de 103 mil bancários, mas para avançarmos, é preciso mudar e eleger um governo que compreenda a importância do papel social do banco público para a população”, avaliou Campanate. O sindicalista criticou também o acúmulo de função na estatal.

“Tem muita gente acumulando função sem ganhar nada para isso. Pedimos a criação de um GT (Grupo de Trabalho) para discutir a quebra de caixa. Cobramos a questão da descentralização de diversas áreas, como a Gilog (Gerência de Filial Logística), melhores condições de saúde para os empregados, que estão adoecendo em função das condições precárias de trabalho, especialmente de doenças psíquicas”, disse, destacando que a Caixa ficou de avaliar as demandas. 

Rogério falou ainda das denúncias dos empregados a respeito da nova presidenta da empresa, Daniella Marques, de que ela estaria  fazendo campanha eleitoral para o presidente Bolsonaro durante o expediente de trabalho.

O sindicalista disse ainda que, em relação à Funcef, o fundo de pensão dos trabalhadres da Caixa, a CEE cobrou de forma mais efetiva as questões de incorporação do REG e o contencioso,

“As ações judiciais enfrentadas pela Funcef deveriam ser contra a empresa”, acrescentou.

Sobre o teletrabalho o banco disse que iria esperar as decisões na Fenaban. "Tivemos um debate acumulado sobre o home office, mas a empresa recuou e agora começa do zero como se não tivéssemos discutidos o tema”, criticou.

Disse que atualização da cláusula de trabalhadores em home Office condicionada ao banco de horas de seis meses vai incidir na falta de pagamento das horas extras aos trabalhadores e sobrecarregar ainda mais quem fica na agência em função dos dias de abono, além da perda de remuneração pelos empregados.

No tiem da PLR Social, a Caixa alega terque pagou a mais porque a lei exige limites em função do pagamento de dividendos ao Tesouro.

“Na verdade, o que recebemos foi apenas a regra da Fenaban”, disse Campanate

Bancos privados

Quanto a questão dos bancos privados, José Ferreira disse que não houve avanços, exceto um item na mesa do Santander: o banco garantiu que não descontará programas próprios da PLR.

 “No entanto, criticamos veementemente as praticas antissindicais do banco espanhol”, disse.

A hora da pressão

Ao final, Ferreira falou do indicativo do Comando Nacional e do Sindicato pela rejeição do índice de reajuste e demais propostas da Fenaban e mesas específicas e a aprovação de assembleias permanentes, o que acabou sendo seguido pela categoria em nível nacional. "É hora de organizarmos uma forte mobilização da categoria, incluindo paralisações, para pressionarmos os bancos na mesa de negociação. Confio na unidade e na capacidade de organização dos bancários e bancárias e vamos ganhar esse jogo", concluiu Ferreira. 

Uma nova reunião com a Fenaban está agendada para  segunda-feira, 29 de agosto, em São Paulo. Os bancos prometem apresentar uma nova proposta e o movimento sindical espera que a representação patronal atenda às expectativas da categoria e apresente uma proposta digna, com aumento real e sem retirada de direitos, renovando a Convenção Coletiva, acrescentando itens importantes como melhores condições de saúde e de trabalho e garantias também para os bancários que permanecem no teletrabalho. 

 

 

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