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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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A política econômica do governo Jair Bolsonaro (PL-RJ) voltada para beneficiar bancos, agronegócio, madeireiras e outros grandes grupos nacionais e estrangeiros concentrou a renda e tornou ainda mais difícil a vida da população. O número de pessoas em situação de pobreza é recorde, saltando para 19,8 milhões de pessoas nas grandes metrópoles brasileiras. O corte do auxílio emergencial, a pandemia, o alto desemprego e a disparada da inflação foram os principais geradores desta grave situação social.
Os dados são resultado da pesquisa Desigualdade nas Metrópoles feita desde 2012 pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Observatório das Metrópoles e Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL). O número é o maior em uma década, desde que o levantamento começou a ser feito naquele ano, um dado alarmante que mostra as consequências da política econômica desastrosa do governo Bolsonaro, voltada para beneficiar os mais ricos, deixando a população em condições de vida cada vez mais subumanas.
Desmonte do Estado
Para o economista Fernando Amorim, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), este é o resultado da política econômica que passou a ser imposta a partir de 2016, com o golpe que derrubou Dilma Roussef e a posse do governo Michel Temer e depois Bolsonaro. “Todo o desmonte institucional, através das chamadas reformas, como a trabalhista, com os seguidos cortes de direitos e o desmonte do Estado, dos serviços prestados à população, e das estatais, que de fato investiam no crescimento da economia, na geração de renda, tudo isto acabou por causar este resultado perverso”, avaliou.
Frisou que o governo federal apostou num modelo, que classificou como insano, acreditando que com a retirada dos investimentos feitos pelo setor público, venda de estatais, entre outros, como num passe de mágica a economia voltaria a crescer. “Não voltou, nem voltará a crescer, e o resultado para a população é o desemprego, a queda na renda que, num contexto de alta inflação a situação se agrava muito, tanto para as categorias organizadas, que não estão conseguindo sequer repor o seu poder de compra, quanto para os trabalhadores informais, que são 40% da população economicamente ativa, que é pior ainda”, analisou.
Salientou que num país que não cresce e com consumo em queda as pessoas vivem num contexto de vida cada vez pior. “Chama a atenção neste estudo, os vários ‘brasis’ dentro do Brasil. Consegue-se visualizar esta realidade facilmente, pegando vários indicadores, quando vemos a diferença gritante entre a taxa de desemprego no sul e no norte e no nordeste. No caso da pobreza e da extrema pobreza isto fica mais evidente ainda. Num país como o nosso, heterogêneo e assimétrico, precisamos ter políticas regionalizadas para compensar esta desigualdade”, disse.
Amorim acredita ser fundamental que num futuro governo que o desmonte do Estado seja revertido para encarar este grave problema social e econômico, estimulando o investimento, o crescimento econômico, as políticas de cunho social, e ainda políticas direcionadas a regiões com contextos diferenciados entre si.
Situação se agravou com Bolsonaro
Com Bolsonaro, o número de pessoas vivendo na pobreza passou a representar 23,7% – quase um quarto – da população total de 22 grandes cidades brasileiras analisadas. Desde 2012, esse percentual nunca havia alcançado 20%.
A pesquisa da PUC-SP classifica como pobres ou extremamente pobres a partir de critérios do Banco Mundial. Nesse caso, são considerados pobres aqueles cuja renda per capita por mês não ultrapassa os R$ 465. Já as pessoas em extrema pobreza são aqueles que sobrevivem com cerca de R$ 160.
Miséria também aumentou
O contingente de pessoas em pobreza extrema (miséria) também bateu recorde e chegou a 5,3 milhões nas regiões metropolitanas no ano passado. Um acréscimo de 1,6 milhão na comparação com 2020, quando 3,7 milhões estavam nesse grupo. O número de novas pessoas na pobreza extrema chega a superar a população de Porto Alegre. Na capital gaúcha vivem aproximadamente 1,5 milhão de pessoas.
Os responsáveis pela pesquisa, divulgada nesta segunda-feira (8) pelo jornal Folha de S. Paulo, avaliam que a situação se agravou devido à pandemia, mas deu um salto em 2021 por conta do alto desemprego, da disparada da inflação e da extinção do auxílio emergencial no início do ano passado.
Para desvirar recursos públicos para a campanha salarial, via orçamento secreto, Bolsonaro suspendeu o auxílio em janeiro daquele ano e só foi retomado três meses depois, em abril, mas com valor e pessoas beneficiadas com número reduzido. À época, ao menos 22 milhões de pessoas deixaram de ser beneficiários do programa, em contexto pandêmico e com elevados índices de desemprego.
“Isso fez os indicadores de pobreza darem um salto”, destaca o professor André Salata, o programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-RS e um dos coordenadores da pesquisa.