Terça, 05 Julho 2022 10:35

Com Bolsonaro, aumentam casos de assédio sexual no governo: média de um por dia

Amigos, Pedro Guimarães e Bolsonaro passeiam de lancha em Guarujá (SP) Amigos, Pedro Guimarães e Bolsonaro passeiam de lancha em Guarujá (SP)

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

Os casos de assédio sexual cresceram de forma espantosa no governo de Jair Bolsonaro. As denúncias aumentaram 65,1% em 2021, atingindo um volume recorde com 251, segundo dados da Controladoria-Geral da União (CGU). Somente em 2022 houve, em média, um caso por dia, o dobro do ano anterior.

Nos últimos três anos, as denúncias de assédio sexual registradas no governo federal deram um salto, passando de 155, em 2019, para 251, em 2021. Neste ano, somente no primeiro semestre, os casos somaram 214.

Os números podem ser ainda maiores já que em sua maioria as vítimas temem ser demitidas ou perseguidas de outras formas caso façam denúncia a órgãos internos de fiscalização, o que foi admitido pelas funcionárias assediadas por Pedro Guimarães, aliado e amigo de Bolsonaro que pediu demissão da presidência da Caixa Econômica Federal, após ser denunciado por inúmeros casos de assédio sexual.

Os números também não levam em conta as denúncias nas empresas estatais como a CEF, mas somente em órgãos da administração direta. Registradas nas ouvidorias federais da administração federal, os casos são compilados por auditores da CGU em um sistema que monitora cada procedimento aberto. Os canais de contatos para as vítimas vão desde ministérios a órgãos subsidiários, como universidades federais.

A CGU é um órgão interno do próprio governo. Quem caracteriza cada denúncia como assédio sexual são os auditores da CGU, que centraliza as denúncias que chegam das ouvidorias e, quando necessário, acrescenta a elas novos elementos de prova para, então, encaminhá-las para apuração pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal.

Bolsonaro é mau exemplo

Em entrevista ao site Yahoo, a presidente do Me Too Brasil, a advogada Marina Ganzarolli, explicou que um elemento importante que pode explicar parte do aumento de registros é a conscientização das pessoas a respeito do tema, uma vez que casos emblemáticos vieram à tona nos últimos anos. A especialista destaca, no entanto, que esse não é o único fator:

“Nos ministérios e por parte do próprio chefe do Executivo há um comportamento reiterado, público e escancarado de desrespeito às mulheres em geral e às pessoas LBGTQIAP+. Seja numa organização pública ou privada, quando a alta liderança colabora com o comportamento abusivo e desmoralizante, isso reflete nas pessoas que estão abaixo”.

Pedro Guimarães

As denúncias de assédio sexual de Pedro Guimarães foram feitas pela vítimas ao portal de notícias Metrópoles. Para saber mais, leia aqui https://www.metropoles.com/colunas/rodrigo-rangel/exclusivo-funcionarias-denunciam-presidente-da-caixa-por-assedio-sexual.

Ao menos cinco funcionárias do alto escalão da Caixa fazem parte do grupo que rompeu o silêncio da ouvidoria do banco – que só divulgou a misoginia endêmica na instituição com o advento do bolsonarismo após a demissão de Guimarães.

Os relatos, revelados pelo portal Metrópoles e pulverizados em vídeos com imagens distorcidas das mulheres pela Globo, causaram ódio e nojo nas redes e calaram a horda bolsonarista, que ficou sem argumentos.

“É comum ele pegar na cintura, pegar no pescoço.” “Ele falou assim: ‘Vai lá, toma um banho e vem aqui depois para a gente conversar sobre sua carreira’.” “Ele abriu a porta com um short, parecia que estava sem cueca.” “Tenho pânico de ter que trabalhar com ele.”

Os depoimentos estarrecedores mostraram a face da cultura patriarcalista, machista e misógina que Guimarães levou da iniciativa privada. No Santander foi demitido por quebrar o braço de uma colega em meio a denúncias de assédio em 2018.

 

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