Terça, 14 Junho 2022 11:32

Indigenistas da Funai anunciam paralisação por 24 horas

 

 
 

Em ato nesta terça, servidores exigirão retratação do presidente do órgão, que acusou Bruno Pereira de estar em área irregular, além do envio de apoio pelo governo aos colegas que estão em áreas de violência

 Publicado: 14 Junho, 2022 - 09h15

Escrito por: RBA

 MINISTÉRIO DA DEFESA - REPRODUÇÃO
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Após o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Xavier, não ter cumprido ultimato dado até as 18h desta segunda-feira (13), os servidores do órgão decidiram entrar em paralisação por 24 horas. O movimento está previsto para a partir das 9h desta terça-feira (14). As declarações feitas por Xavier, de que o jornalista Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira se encontravam em áreas não autorizadas na Amazônia, provocaram indignação por parte da categoria, que exigiu uma retratação. Os colegas do indigenista desaparecido agendaram um ato de protesto para as 9h em frente ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, em Brasília.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) respondeu que Bruno Araújo Pereira tinha licença para entrar em território indígena antes do desaparecimento na Amazônia. De acordo com os servidores, não houve, portanto, qualquer irregularidade na conduta de Bruno, que estava afastado do órgão. Portanto, as declarações do presidente da Funai são difamação.

“Ressaltamos que a retratação pública deve conter o reconhecimento das inverdades e criminalização relatadas publicamente sobre o servidor Bruno da Cunha Araújo Pereira, UNIVAJA e servidores da Coordenação Regional do Vale do Javari”, diz o texto. 

“Igualmente, considerando que não há quaisquer irregularidades legais na conduta do servidor Bruno da Cunha Araújo Pereira, bem como servidores da CR-VJ e representantes da UNIVAJA, a retratação deve admitir os equívocos de falsas argumentações sem nenhum embasamento legal dentro da política indigenista brasileira”, continua. 

Sob risco de violência

Em carta enviada a Marcelo Xavier, os indigenistas exigem também o envio imediato das forças de segurança pública para assegurar a integridade física dos que atuam lotados nas Bases de Proteção do Vale do Javari – Quixito, Curuçá e Jandiatuba, bem como as sedes das CRs do Vale do Javari e CFPE-VJ, região onde Bruno e Dom desapareceram. 

No documento, eles também cobram o imediato envio de força tarefa para apoio aos servidores e às atividades das CRs Alto Solimões e Vale do Javari, bem como da FPE-V. Os indigenistas alertam que, desde o começo do incidente, que começou dia 5 e agora tem despertado repúdio internacional crescente, os trabalhadores estão sozinhos para desempenhar suas funções – e apesar da ameaça também crescente de violência real.

A decisão de iniciar o movimento pela ausência de retratação do presidente da Funai foi tomada em assembleia realizada ontem à tarde por servidores de entidades que representam a categoria: Indigenistas Associados – INA; Associação Nacional dos Servidores da Funai – ANSEF; Sindicato dos Servidores Públicos do Distrito Federal – SINDSEP – DF; e Confederação dos Trabalhadores no serviço Público Federal – CONDSEF. As entidades exigem ainda que o governo tenha agilidade nas buscas aos desaparecidos.

Governo em guerra com a floresta

A polícia prendeu ao menos três suspeitos pelo desaparecimento de Bruno Araújo e Dom Phillips. Um deles foi Amarildo Oliveira, conhecido como “Pelado”. Uma perícia identificou vestígios de sangue na lancha usada por ele, mas ainda não foi possível chegar à conclusão sobre quem são os responsáveis diretos pelo sumiço do jornalista e do indigenista.  

A corporação também investiga um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais que pode estar relacionado ao desaparecimento. As suspeitas são de que o narcotraficante Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia, teria ordenado a Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, colocar a “cabeça de Bruno a leilão”.

Para Guenter Francisco Loebens, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Regional Norte I, com atuação nos estados do Amazonas e Roraima, a violência explosiva na região tem fundamento no discurso e ações do presidente Jair Bolsonaro, que estimula o desrespeito aos direitos indígenas e deixa claro seus vínculos com destruidores da floresta – garimpo e desmatamento ilegal, madeireiros, fazendeiros.

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