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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
A economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), Rosângela Vieira, abriu sua fala na 24ª Conferência Nacional, neste sábado (10), em São Paulo, lembrando que os bancos brasileiros estão entre os mais rentáveis do mundo, únicos da América Latina entre os que aparecem nos primeiros lugares dos ranking internacionais em faturamento e que o setor vem reduzindo despesas com pessoal.
“Existem cinco questões estruturais que já estão postas como tendências na categoria bancária que não vão retornar: a redução absoluta no número de trabalhadores, sendo que há um estreitamento da pirâmide, como caixas e escriturários que estão desaparecendo e dando lugar a outras formas de contratação; a ‘gerencialização’ da categoria e a ampliação do teletrabalho. Estas mudanças sempre aconteceram e costumam começar na categoria bancária, o que se tornou um desafio para a representação sindical”, disse, lembrando que o home office já era uma tendência no mundo, mas foi ampliado em função da pandemia do novo coronavírus. .
Redução de postos de trabalho
A economista mostrou que nos anos 90, quando foi negociada a primeira convenção coletiva nacional, a categoria tinha 652 mil trabalhadores. Em 2019 eram 455 mil, uma redução de quase 200 mil. “Os postos estão sendo reduzidos em função do fechamento das agências físicas e da saída de trabalhadores dos bancos”, explicou, mostrando um estudo que revela a alteração na estrutura da pirâmide ocupacional nos bancos. Em 2003, os escriturários, que representavam 43% dos trabalhadores no setor foram reduzidos a 29% em 2019. Já os empregados de atendimento ao público, que eram 4% foram reduzidos para a metade: 2%. Em contrapartida cresceram o número de funcionários da área gerencial (19% em 2003 e 23% em 2019) e de ciências humanas (18% em 2003 e 32% em 2019).
Mais vagas para TIs
Nos últimos dois anos se ampliaram muito as vagas de trabalhadores de outras áreas, como trabalhadores de TI (Tecnologia da Informação), publicidade e marketing, locados especialmente nas matrizes e em prédios dos bancos.
Ampliação do home office
Rosângela falou também da ampliação do home Office. Mostrou que, apesar dos problemas apontados pelos trabalhadores que exercem suas atividades em suas residências, como falta de estrutura adequada, falta de equipamentos, aumento da jornada - apontado como o maior problema - sentimento de isolamento, problemas de saúde e elevação de despesas, como energia elétrica e material de trabalho, uma pesquisa realizada pela Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) revelou que a maioria destes empregados ainda prefere o teletrabalho do que exercer sua atividade profissional nas unidades físicas.
A pesquisa mostra que 38% optaram por permanecer em home Office todos os dias, e também 38% querem ficar em regime misto. Já 21% preferem voltar ao trabalho presencial e 2% são indiferentes, sendo que apenas 1% não respondeu à enquete.
“A dificuldade de mobilidade urbana, o custo dos combustíveis ajudam a explicar em parte essa preferência dos bancários pelo home Office e esta é uma tendência que veio para ficar”, acrescentou.
Fintechs e bancos digitais
Ao final falou das fintechs, a maioria sem regulação do Banco Central, que contratam funcionários de outras categorias, muitos profissionais, inclusive que foram rejeitados pelos bancos tradicionais no mercado de trabalho.
A própria Febraban – Federação Brasileira dos Bancos - critica que as fintechs não sofrem a mesma exigência para funcionamento como nas instituições financeiras tradicionais. Em 2007 eram apenas seis fintechs e atualmente são mais de mil atuando no Brasil, com cerca de 60 mil trabalhadores, número maior do que muitas categorias. Menos de 10% destas empresas possuem regulamentação do Banco Central.
“É muito difícil a gente identificar qual atividade, a qual a categoria pertencem estes trabalhadores de fintechs e qual a representação sindical, já que este não é um mercado regulamentado”, disse, confirmando que este modelo de trabalho é mais um desafio para o movimento sindical.
Destacou também as plataformas digitais do setor, que contratam agentes autônomos e praticam outras formas de contratação. “Há um grande número de bancos digitais, inclusive das grandes instituições tradicionais, o que tem feito crescer o número de trabalhadores nestas plataformas”, disse. Em 2019 eram 7.015 trabalhadores nos bancos digitais. Em 2020 este número saltou para 8.166, ou seja, 1.151 funcionários a mais em apenas um ano, o que comprova que o aumento de contratação em todo o setor financeiro ocorre em outras modelos que não da categoria bancária tradicional.
“Tem crescido o numero de agentes autônomos no país. Em 2016 eles eram 6% de todo ramo financeiro e em 2021 chegaram a 10% do total do setor. Eles são atraídos pela lógica neoliberal de empreendedorismo e individualismo, os bancos dizem que eles vão receber 'muito mais dinheiro que a PLR' paga nas instituições tradicionais”, completou, destacando que a redução do trabalhador bancário se deve também ao fato de que muitos funcionários estão pedindo demissão, em função da pressão que sofrem nos bancos relacionada à metas.