Quinta, 09 Junho 2022 00:11
MODELO EXCLUDENTE

Eduardo Moreira diz que instituições no Brasil funcionam para 1% da população

Empresário diz que o grande desafio é fazer com que o sistema funcione para 99% dos brasileiros e brasileiras
TEM SAÍDA - O empresário Eduardo Moreira defendeu um novo sistema econômico e político que sirva a 99% dos brasileiros e não ao modelo de hoje que está a serviço de 1% que são os mais ricos TEM SAÍDA - O empresário Eduardo Moreira defendeu um novo sistema econômico e político que sirva a 99% dos brasileiros e não ao modelo de hoje que está a serviço de 1% que são os mais ricos

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O economista Eduardo Moreira participou da abertura dos congressos nacionais dos bancos públicos fazendo um relato da gravidade da situação econômica e social do país. Contou que constatou este drama visitando o interior da Bahia, quilombos e tribos indígenas em algumas das regiões das mais pobres do Brasil.

“Vocês lembram que há dois atrás eram 19 milhões de pessoas passando fome no país, o que já era um número impensável. E agora são 33 milhões de pessoas que estão nesta situação. Quando você vai para o interior do país vê as pessoas numa situação desesperadora e normalmente é o povo preto que gera a riqueza desse país mas não fica com nada dela, que elege mas não tem representatividade, que carrega a história do Brasil nas costas. Os negros ficam com a fome a miséria”, disse, criticando o preconceito racial.

Sistema para os ricos

Eduardo destacou que todo o sistema no Brasil, os bancos, as leis, o sistema judiciário, a polícia, funcionam  para proteger apenas 1% da população.

“A polícia funciona hoje para proteger os iphones das pessoas que moram nos Jardins – bairro nobre de São Paulo - e o nosso desafio é fazer com o sistema funcione para os 99% dos brasileiros, acrescentou.

Porque querem privatizar tudo

O ministro da Economia Paulo Guedes costuma dizer que é preciso privatizar tudo. Mas a quem interessa e porque essa sanha por privatizações no Brasil? Eduardo Moreira tem uma explicação. Disse que o tema ‘privatizações” é o que o moveu a participar do evento, lembrando que os últimos debates de que participou são sobre este assunto.

“Esse tema das privatizações é o que me faz sir de casa para debates. Estamos falando da mesma coisa: Eletrobrás, Petrobras, Correios, bancos públicos. Falam de uma nova economia prometendo que as pessoas vão poder ser empreendedoras, empresárias, que não vão ser mais exploradas e que vão poder competir em plataformas. Você pode, em tese, vender produtos, numa ‘nova economia’ onde você não precisa de empregados, de uma loja e nem de uma fábrica. Mas mais de 90% da população não tem capital, o que é necessário para empreender”, explicou o raciocínio de sua tese.  

“Das pessoas que tem algum dinheiro guardado no banco, 90% delas juntas , mais de 100 milhões de contas, têm R$1 trilhão de reais e 0,1% das contas tem R$1,7 trilhões”, comparou com dados da Anbima – Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais - para mostrar que, mesmo para uma minoria da população que tem dinheiro guardado, a desigualdade no Brasil é colossal. 

“A maioria das pessoas não possui dinheiro guardado, isso significa que não possuem capital e que vão precisar de financiamento”, disse. “Para você transformar produtos em riqueza você vai precisar ainda de energia, o segundo grande custo e depois vai precisar enviar os produtos para os consumidores. Por isso, não é à toa que estão querendo privatizar Correios, Eletrobras, Banco do Brasil e Caixa, criando monopólios privados em toda essa cadeia produtiva. Quando você é pequeno e busca financiamento privado terá custo muito mais caro do que o grande empresário. Com o custo muito mais caro o micro empreendedor não vão conseguir competir e vai acabar tendo que trabalhar para o grande, mas em que condições? Sem direitos por causa da reforma trabalhista. E vai trabalhar para sempre, por causa da reforma previdenciária”, acrescentou, explicando a engrenagem do modelo econômico que está em andamento no país.

“A única saída é tirar o governo Bolsonaro do poder no Brasil”, afirmou.

Incertezas econômicas

O palestrante lembrou que o Banco Mundial projetou uma queda do crescimento global de 4,2% para 2,9%, que a pandemia não acabou e que há uma guerra, fatores que trazem incertezas, o que leva a iniciativa privada a não investir para não arriscar seu capital.   

“Temos uma incerteza geopolítica da disputa entre a China e os EUA que respinga no mundo inteiro, uma incerteza institucional de Bolsonaro atentando todos os dias contra as instituições democráticas. Com tanta incerteza ninguém vai investir. Só tem um que pode investir: o estado, só tem um”, repetiu, fazendo o sinal do “L” de Lula e ressaltando que não se pode esperar nada da elite econômica brasileira para o Brasil sair desta situação.

“Não temos que pedir, mas exigir a mudança estrutural do país e isto passa pelos bancos públicos”, afirmou o empresário, considerando que a taxação das grandes fortunas “não é a solução definitiva para o país”.

Eu acho, por exemplo, que o sistema financeiro tinha que ser todo estatal”, disse sendo aplaudido pelos participantes do evento.

O seu dinheiro no banco

Moreira explicou que o investidor pequeno, chamado de varejo de alta renda, tipo cliente de Prime, Van Gogue, tem nos bancos R$4,5 trilhões, dinheiro que não é dos bancos, mas das pessoas que investiram. MNo entanto, os clientes assinam uma procuração, sem saber, para a instituição financeira decidir o que será feito com seu dinheiro.

“Sem saber, você é pacifista e seu dinheiro está sendo usado para financiar a Taurus, você é um ambientalista e seu dinheiro está sendo usado para financiar a Vale, você é vegano e seu dinheiro está sendo usado para financiar a JBS, é um acampando da reforma agrária e seu dinheiro é usado para comprar trator para o fazendeiro”, explicou. Citou ainda os R$900 bilhões que as pessoas têm na poupança é utilizado para financiar grandes construtoras e não para ajudar pessoas que têm muito pouco ou próprio pequeno poupador.

Fome e agronegócio

Criticou duramente o amento da fome no pais. “Em 2018 a cotação da JBS era R$5 por ação, hoje é R$35. O patrimônio do dono da empresa multiplicou por sete. No Brasil ninguém está tendo acesso ao que ele produz. Somos o maior exportador de carne, soja, açúcar, café, o terceiro de arroz e feijão, o segundo maior produtor de alimentos do mundo. A gente não pode passar fome neste país”, criticou em tom indignado.

O problema está no sistema

Eduardo disse ainda que respondeu a uma pergunta numa entrevista num site de notícias se a culpa da crise é este sistema neoliberal, ele respondeu:

“Se num país que tem a segunda maior produção de alimento do mundo, que encontrou a maior reserva de petróleo das ultimas décadas, que tem abundância de energia limpa, que é o país com mais terras cultiváveis, tem costa pesqueira, mais de 200 milhões de pessoas, que são um mercado consumidor, se esse Brasil não tem jeito, nenhum país do mundo tem solução. É claro que o problema está no sistema”, destacou, dizendo que os países mais corruptos do mundo são os que têm mais desigualdade.

O discurso da mídia

Disse ainda que a mídia faz com que as pessoas tenham medo de entrar nas periferias, favelas e bolsões de miséria para que as pessoas não reflitam sobre a realidade miserável do Brasil.

“Me aponte  uma das principais emissoras de TV, estação de rádio e jornal cujos donos não são latifundiários?”, declarou, explicando porque a grande mídia ataca tanto o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), estigmatizando-os como “bandidos” e “baderneiros.   

A luta é pela causa

Terminou sua participação dizendo que há saída para a crise, a desigualdade e a miséria no Brasil. “Não se desesperem. Nós vamos ganhar essa eleição. E um dia a gente não vai ganhar somente a eleição, mas vamos ganhar do sistema para criar um que seja para todas as pessoas”, disse, lembrando que não por acaso, os bancos públicos estão entre os setores mais atacados pelo setor privado.   

“Eu não gosto da luta, mas preciso da luta porque eu gosto da causa”, concluiu.

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