Quarta, 08 Junho 2022 18:16

Vídeo de presidente do Bradesco soa como apoio a ameaças golpistas de Bolsonaro

Olyntho Contente*

Imprensa SeebRio

Causou uma grande surpresa o vídeo institucional, postado nas redes sociais dia 4 de junho, em que o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, exalta virtudes do Exército brasileiro. Em meio a seguidas falas do presidente Jair Bolsonaro dando a entender que não aceitará o resultado das eleições caso perca, atacando o Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmando que as urnas eletrônicas fraudam as eleições, sem nenhuma prova, o vídeo do executivo foi entendido como apoio à visão de Bolsonaro.

A gravação repercutiu negativamente e foi ligada a um possível golpe de estado. Diante das críticas, Lazari tentou se explicar, gravando um áudio a amigos, publicado no portal Metrópoles, em que argumenta que o comandante do batalhão em que serviu, há dois meses, havia pedido a ele para gravar um depoimento sobre o seu período de caserna. “Como fazem diversos ex-soldados que, hoje, estão na vida privada". E que este vídeo ‘vazou’ fora de contexto.

Para a jornalista Cristina Serra na situação atual é impossível assistir ao vídeo sem fazer relação com o discurso golpista de Bolsonaro. "E é óbvio que o executivo de um dos maiores (e piores) bancos do país não pode alegar ingenuidade em relação a isso. Lazari diz que se orgulha do tempo em que se apresentava como “soldado 939 Lazari, ao seu comando”. O comando, no caso, era um certo “capitão Gonçalves” (sim, capitão), que o fazia se sentir “diferente”, “especial”". A jornalista chama a atenção para o fato de Lazari ter feito o vídeo com a logomarca do banco. "Trata-se, portanto, de um vídeo institucional e não “pessoal”, como a assessoria do banco alegou ao jornal. Impossível que isso não tenha passado pela avaliação da cúpula do banco", avalia. E acrescenta: "Como sempre, o grande capital sabe escolher seus capatazes".

Assista ao vídeo aqui.

Pedido de explicações

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) solicitou audiência com o Bradesco para obter explicações sobre o vídeo. Nele Lazari se coloca ‘de prontidão’ e afirma que ‘missão dada é missão cumprida’.

A gravação segue com Lazari afirmando seu privilégio de ter servido como militar em 1982, no mesmo quartel que seu pai se alistou em 1956. De acordo com ele sua formação militar reforçou valores que foram “fundamentais para que eu pudesse construir minha carreira”. O presidente do Bradesco encerra o vídeo ressaltando que “o soldado Lazari continua de prontidão”.

Golpe?

Em nota divulgada ontem (7), a Contraf-CUT contesta a versão do executivo, enfatizando que a peça tem características institucionais. Isso porque o vídeo traz a logomarca do Bradesco. E o pronunciamento do presidente faz referências ao banco como “um dos maiores do mundo” com “90 mil funcionários”.

Para a entidade, Lazari precisa dar explicações quanto ao posicionamento da instituição financeira sobre o regime democrático brasileiro. “Essas informações interessam a seus mais de 90 mil trabalhadores e a seus clientes, bem como a toda a sociedade brasileira, pois uma instituição financeira é uma concessão pública. Trata-se de uma regra fundamental do Estado de direito, e democracia exige o pleno respeito às regras”, destaca o documento.

A avaliação é que a fala do presidente “pode ser entendida como um apoio do Bradesco aos ataques à democracia”, promovidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). “Pois o presidente capitão do Exército Jair Bolsonaro ataca insistentemente o sistema eleitoral, o Poder Judiciário, a imprensa, as entidades sindicais, as universidades e os movimentos sociais”, completa. 

*Com informações da Reuters e da Rede Brasil Atual.

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