Quarta, 25 Mai 2022 18:09
VILA CRUZEIRO SANGRA

Ação da PM que matou 25 é eleitoreira e abre caminho para milícias, diz antropóloga

Modelo de aparato de guerra em comunidades revela fracasso da política de segurança e situação se agravou em governos Witzel e Cláudio Castro
Ação da polícia na Vila Cruzeiro atende demanda eleitoreira e pode abrir caminho para as milícias na comunidade da Penha, diz antropóloga Ação da polícia na Vila Cruzeiro atende demanda eleitoreira e pode abrir caminho para as milícias na comunidade da Penha, diz antropóloga Tânia Rêgo/Agência Brasil

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Assassinato coletivo; ação de matar muitas pessoas ao mesmo tempo; massacre. O significado da palavra “chacina” deixa claro que a política de segurança do Rio de Janeiro nos últimos anos é um extermínio de pobres, a maioria jovens e negros.  Na onda bolsonarista de “primeiro atira, depois pergunta”, as balas perdidas acharam trabalhadores comuns, como a cabeleira Gabrielle Ferreira da Cunha, 41 anos, baleada dentro de casa, na comunidade da Chatuba, no Caju, vizinha à Vila Cruzeiro. A mãe, Divone Ferreira, estava inconsolada no enterro da filha, nesta quarta-feira (25). O número já chega a 25 mortos na guerra entre polícia e traficantes.  

A polícia alega que 15 mortos "teriam" ligação com o tráfico de drogas. A subjetividade da afirmação oficial confirmam que "suspeitos" são assassinados pelo critério de julgamento dos policiais na região. 

A bem da verdade, persiste no Brasil um modelo arcaico de uma polícia militar violenta, que incorporou os anos de chumbo dos 21 anos de ditadura no Brasil e está na contramão de um sistema de segurança que preze pela cidadania e os direitos humanos, uma polícia "cidadã" que deu certo em países mais desenvolvidos. A PM brasileira é a que mais mata no mundo, mas também a que mais morre. No estado do Rio, a situação de mortes em ações policiais nas comunidades se agravou ainda mais nos governos Witzel e Cláudio Castro, virando uma rotina sem nenhum critério de qualidade e com resultados ineficazes. 

Modelo fracassado

A antropóloga Jacquelina Muniz, do Departamento de Segurança Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), em entrevista à ‘Radioweb RW’ criticou a ação policial, que resultou em dezenas de mortos.

“Quanto mais operação policial nas comunidades, pelo grande número de homens e recursos utilizados, você escasseia a capacidade de patrulhamento da polícia na cidade. Uma operação que inviabiliza a vida de 350 mil moradores para prender 20 ou 30 se mostra fracassada”, disse, considerando que uma ação policial deve ser demandada pela população e não pelo próprio aparato de segurança.

Jacquelina disse que a guerra contra os crimes do tráfico de drogas pode ter como razão, a venda de uma suposta “segurança” oferecida pelas milícias do Rio.  

“A polícia tem que oferecer repressão qualificada e a PM não apresentou sequer seu relatório e padrão de funcionamento da ação. Tem que haver base legal e condições propícias para atuar para evitar tiroteios nas comunidades”, acrescentou. Defendeu ainda clareza de objetivos nas ações e lembrou que a polícia pertence aos cidadãos.  

“A polícia cumpriu seus próprios critérios de qualidade nas ações ou age com puro amadorismo? Essa é a polícia espetáculo, que não atende a necessidade da população, mas sim o apetite político e a publicidade eleitoral”, destacou

“Quem está morrendo não são os chefões do crime. Essa política de segurança atende aos políticos e aos policiais desonestos das milícias, tornando uma rotina o que deveria ser uma exceção. Esse filme antigo desmoraliza o Bope. Polícia é corpo tático. Ninguém é contra repressão, mas são quatro décadas de um modelo que fracassou”, completou.

O Ministério Público Federal (MPF) anunciou a abertura de um procedimento investigatório criminal para apurar condutas e possíveis violações cometidas por policiais de forma individual.  

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