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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
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Ao impor o 10º aumento da taxa básica de juros, a Selic, que chegou este mês a 12,75%, o Banco Central de Bolsonaro faz com que a economia brasileira seja jogada ainda mais no buraco. Economistas avaliam que estes aumentos não terão, como não vêm tendo, qualquer efeito de frear a disparada dos preços, já que a inflação não é fruto de um aumento de consumo de bens e serviços, pelo contrário, a consumo nunca esteve tão baixo.
Em agosto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve alta de 0,87%, bem acima do esperado pelos analistas e maior aumento para o mês em 21 anos. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses chegou a 9,68%. O aumento foi puxado pelo preço dos combustíveis e dos alimentos e levou diversos economistas a preverem uma inflação maior para este e o próximo ano.
Estagnação da economia
Os economistas Fernando Amorim e Adhemar Mineiro, respectivamente integrante e ex-integrante do corpo técnico do Departamento Sindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), lembram que além de não ter qualquer impacto sobre a inflação, a disparada da Selic ainda possui o efeito colateral de reduzir ainda mais o consumo, ao encarecer sistematicamente o crédito, sendo que os juros mais altos, aumentam a estagnação de toda e economia.
“O governo continua tentando resolver o problema da enchente jogando mais água. Obviamente, aumentar a Selic não apenas não vai ajudar a debelar a inflação galopante, porque ela não vem sendo gerada pela chamada inflação de demanda – quando o consumo é alto – como tem o perverso efeito de frear ainda mais a economia, impedindo a retomada do crescimento”, observou Adhemar Mineiro.
Câmbio e mercado internacional
Fernando Amorim lembra que não se vislumbra, pelos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), qualquer pressão de demanda, ou seja, por conta disto, o aumento da Selic que visa esfriar qualquer consumo, não é remédio para a inflação brasileira que está relacionada aos preços internacionais. “Outra parte da inflação está ligada ao câmbio e à política de preços dos combustíveis, que acaba repercutindo negativamente em toda a nossa economia que é baseada no modal rodoviário, girando em torno do uso do combustível”, explicou.
Acrescentou que o aumento da Selic, neste sentido, não facilita a vida de ninguém. “Na verdade, vai encarecer o crédito, jogando ainda mais para baixo a recuperação econômica”, disse.
Campanha eleitoral
Acrescentou que, como existe uma campanha eleitoral, o governo acaba tendo um comportamento contraditório, porque aumenta a dificuldade da população com o aumento de Selic não resolvendo o problema da inflação, e, ao mesmo tempo, dá o auxílio-emergencial e tem fomentado o crédito à pessoa física, tentando estimular o consumo, mas ao mesmo tempo aumenta a Selic para desestimular o consumo. “É uma esquizofrenia completa que não resolve a questão inflacionária”, analisou.
Adhemar Mineiro frisou não ter sentido a política do BC de frear a demanda para jogar os preços para baixo. “Esta é a lógica do programa de metas de inflação que dá ao BC uma e somente uma ferramenta para debelar o processo inflacionário que é aumentar a taxa de juros. Evidentemente tem o efeito colateral de desestimular ainda mais a produção e o emprego. Com este tipo de política a economia vai continuar estagnada e o desemprego elevado.”, afirmou.
Juros internacionais
Fernando Amorim aponta uma mudança no panorama internacional que pode levar a um aumento ainda maior da Selic. “O nó górdio para sair dessa situação de aumento da Selic é que os outros bancos centrais do mundo que não estavam subindo os juros, começaram a se mexer, porque com a inflação aumentado nos Estados Unidos, já chegando a 8%, o que para eles é muito alto, o BC deles (Federal Reserve) anunciou que vai aumentar os juros. Para manter o fluxo de capitais, o Brasil e outros países, devem aumentar a taxa de juros o que só prejudica a economia”, avaliou.
Apontou outras saídas para o controle da inflação, como revisão da política de preços de derivados da Petrobras, algum controle cambial, ou mesmo esperar que este choque de custos vá reduzindo aos poucos.
Queda recorde no investimento
Outro problema que agrava a situação econômica é a redução drástica dos investimentos públicos na economia. O valor destinado para investimentos públicos federais em 2022, ou seja, os gastos que não são obrigatórios, como infraestrutura, postos de saúde, construção de escolas e afins, foi de R$ 44 bilhões. Trata-se do menor valor da história. Em 2012, o valor chegou a R$ 200 bilhões. Em 2021, foram R$ 48 bilhões.
Uma das explicações para o recorde é o Teto de Gastos, que congela o valor do orçamento de acordo com a inflação do ano anterior.
Segundo David Deccache, diretor do Instituto de Finanças Funcionais para o Desenvolvimento, doutorando em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e assessor na Câmara dos Deputados, o orçamento é dividido em duas partes: uma para os gastos não discricionários, que são os obrigatórios, que crescem anualmente, e outra para os gastos discricionários, que não são obrigatórios, como os investimentos públicos.
Teto de gastos
“Conforme as despesas obrigatórias vão crescendo, e existe um teto para o orçamento como um todo, elas vão esmagando as despesas discricionárias. E, dentro das despesas discricionárias, está o investimento público. Esse é um problema de ordem estrutural”, afirmou Deccache.
“Tem pouco espaço para fazer investimento por conta do teto. Só que esse pouco espaço que a gente tem está sendo super mal gerido, utilizado para fazer política eleitoreira, com base de apoio eleitoral do presidente.”
Dos investimentos públicos, as pastas que receberam mais investimentos foram o Ministério da Defesa, com R$ 8,8 bilhões, e o Ministério do Desenvolvimento Regional, com R$ 8,2 bilhões.
Enquanto “o mundo está discutindo como ampliar investimentos públicos”, principalmente devido à crise econômica intensificada pela pandemia de covi-19 que mostrou a importância dos serviços públicos, “aqui, a gente está reduzindo o pouco que tem”.