Quinta, 05 Mai 2022 09:39

Copom eleva Selic a 12,75% e anuncia novo aumento para junho

Energia deverá ter bandeira amarela em dezembro de 2022 e de 2023

 
Sede do BC, em BrasíliaCredit... Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES

  •  
 

Apesar da demora na divulgação, feita às 19h12, 42 minutos além do previsto (18h30), o Comitê de Política Monetária do Banco Central reconheceu que “a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, mas após acaloradas discussões, decidiu, por unanimidade, elevar em um ponto percentual, para 12,75% ao ano, a taxa Selic e anunciou aumento de “menor intensidade” na reunião de 16 de junho.

Mas o Copom deu um recado surpreendente. Considerando no seu cenário para 2022 e 2023 que a tarifa de energia elétrica terá bandeira amarela em dezembro deste ano e do ano que vem. O governo antecipou para 16 de abril a redução da bandeira hídrica extra (vigente desde o fim de 2020) para a bandeira verde, prometendo manter a tarifa baixa até dezembro. O Banco Central projeta o cenário com pressão mais alta na tarifa, depois da eleição, em outubro e inflação de 7,3% este ano e 3,8% em 2023.

O cenário que serviu à decisão do Copom foi o seguinte:

O ambiente externo seguiu se deteriorando. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de Covid-19 na China e da guerra na Ucrânia. A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes;

Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom indica um crescimento em linha com o que era esperado pelo Comitê;

A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;

As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;

As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,9% e 4,1%, respectivamente; e

No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95,­ evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Optou-se por manter a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$ 100/barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária "amarela" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023. As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,4% para 2022 e 5,7% para 2023. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê avalia que a conjuntura particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.

Olhando para 2023

Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.

 


Fed acalmou mercado

O mercado financeiro brasileiro, seguindo as praças internacionais, andou nervoso desde a semana passada, com desvalorização elevada do real ante o temor de que o Federal Reserve Bank, o Banco Central dos Estados Unidos, que anunciou as taxas de juros às 15 horas pudesse abandonar a sinalização de que faria três aumentos de mio ponto percentual e engatar uma alta de 0,75 ponto percentual. O Fed manteve a trajetória e o mercado respirou aliviado.

Se o Fed acelerasse a escalada de juros, o ciclo de alta no Brasil poderia se estender até agosto para evitar que o desnível entre os juros nos Estados Unidos e no Brasil drenasse recursos do mercado brasileiro para o exterior.

O mercado costuma atribuir a fuga de capitais especulativos em busca do diferencial de juros no Brasil como sendo basicamente capitais de investidores estrangeiros. Mas a realidade é que o grosso dos recursos é mesmo de capitais mantidos por brasileiros em off-shores erm paraísos fiscais, além de receitas dos exportadores à espera de maior diferencial de juros.

O fato é que abril teve grande fuga de capitais e perdas na Bovespa. Maio ainda não disse ao que veio. Vai depender da extensão do ciclo de alta dos juros e da inflação de abril que o IBGE divulga no próximo dia 10 de maio, com expectativa de que alcance 0s 12% em 12 meses. Por ora, o consenso do mercado é de que a Selic aumenta para 13,25% ao ano em 16 de junho e encerra o ciclo.

 

Mídia