Quinta, 14 Abril 2022 17:14

Movimento sindical entrega a Lula documento com pauta dos trabalhadores

Ex-presidente disse que é possível reconstruir o Brasil através do diálogo de trabalhadores e empresários junto com o governo na busca de soluções
Lula defende um amplo diálogo na sociedade para tirar o Brasil da crise e recuperar o desenvolvimento econômico e social Lula defende um amplo diálogo na sociedade para tirar o Brasil da crise e recuperar o desenvolvimento econômico e social Roberto Parizotti/CUT

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e demais centrais sindicais entregaram ao ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva, nesta quinta-feira (14), o documento com a pauta que é o resultado do Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora) 2022. No evento, o movimento sindical apresentou um vídeo mostrando o agravamento da crise econômica e da fome no Brasil desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer à presidência da República, chegando ao desastroso governo de Jair Bolsonaro que agravou a crise econômica e desprezou a pandemia da covid-19, resultando em mais de 660 mil mortos. O documentário mostrou ainda a resistência e a mobilização dos sindicatos e de todos os trabalhadores, o que impediu a perda de mais direitos e que este ano, as centrais sindicais estarão nas ruas lutando por um governo popular que gere empregos e renda e pelo desenvolvimento nacional.

Encontro histórico

O presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, saudou a presença de Lula e do possível candidato a vice-presidente na chapa do PT, Geraldo Alckmin (PSB).

Alckmin disse que este encontro foi um dia histórico, reunindo as maiores centrais sindicais do Brasil, destacando a importância da união do Brasil para enfrentar a ditadura militar.

“Quando precisamos tirar o país da ditadura, unimos Brizola, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Fernando Henrique e é neste Brasil de inflação, de fome e de 660 mil mortes é que o país se agiganta e se une”, disse, lembrando que a luta sindical deu ao pais o maior líder popular da história.

“Viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil”, concluiu Alckmin.

Um Brasil justo é possível

Lula disse que os sindicalistas apresentaram no encontro, mais do que uma pauta de reivindicações, mas quase um programa de governo e de reconstrução nacional.

“É preciso sentar não somente com os sindicalistas, mas com todos os setores da sociedade. É plenamente possível termos um país justo, solidário, acabar com a miséria, gerar os empregos que o trabalhador tanto precisa para viver com dignidade, colocar o povo mais humilde nas universidades brasileiras, fazer as pessoas tomarem café, almoçar e jantar todos os dias e usufruir de tudo do que elas produzem.”, disse.  

“O país não merece o que está passando. Toda vez que no Brasil ou qualquer nação da America latina aparece um governo progressista que quer melhorar a vida do povo, aprece alguém para tentar destruir as conquistas sociais”, disse.

Trabalhador como protagonista

Lula destacou ainda o papel do trabalhador como protagonista da política nacional.

“Achavam que prendendo o Lula, acabando com o PT, com o movimento e a estrutura sindical eles conseguiriam o que queriam. Eles perceberam agora que nós existimos independentemente da vontade deles. Somos uma parte da sociedade que levanta as cinco da manhã para trabalhar até as 18 horas, que fica três horas na condução para ir para a casa e muitas vezes não consegue ter o que comer, que já não consegue encher o carrinho de compras nos supermercados como faziam quando governamos este país”, disse.

O que é soberania?

O pré-candidato do PT à presidência da República destacou que o atual governo destruiu uma “coisa sagrada”, que é a soberania.

“Soberania não significa apenas tomar conta das fronteiras e ser respeitado por outros países. Mas a maior fotografia da soberania é cuidar de seu povo, é a condição de vida e salarial das pessoas”, acrescentou o presidenciável do PT.

Lembrou que “o Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e que mesmo assim, termos 19 milhões de brasileiros passando fome, que o país é o  maior produtor de proteína do mundo e “as pessoas estão procurando carcaça e osso para comer” e o governo “não cuida da educação de seus jovens, não concede aumento real de salários há muitos anos”.  

“Aumentar os salários não gera inflação, porque aumenta a produção, e nós fizemos isso cumprindo as metas de inflação. Há quanto tempo não tem a revisão da tabela do imposto de renda, num pais que em que o rico paga menos imposto que o pobre”, disse defendendo uma reforma tributária.

Eleição no parlamento

O ex-presidente ressaltou ainda a importância da eleição para deputados e senadores em 2022.

“Para a gente fazer as mudanças necessárias é preciso que a gente eleja também a maioria de deputados e senadores, muitas mulheres, candidatos comprometidos com os trabalhadores, caso contrário, o centrão vai continuar fazendo o orçamento secreto e o dinheiro será revertido para quem menos precisa e não para quem mais precisa”, explica.

Um governo de todos

Lembrou ainda das muitas reuniões que teve como presidente da República com os trabalhadores. “Não foram poucas as reuniões que fizemos em Brasília, muitas vezes discordando, mas conseguimos estabelecer um governo que gerou 22 milhões de empregos com carteira de trabalho assinada. Pela primeira vez na história, proporcionalmente, os 10% mais pobres tiveram mais renda transferida do que os 10% mais ricos”, esclareceu, dizendo que "os mais pobres não são problema, mas a solução deste país.

“O trabalhador com pouco de dinheiro vai para o comércio, elevando assim também a produção da indústria”, afirma, mostrando que quanto mais o povo compra, mais a economia cresce.

“Pobre que ganha um salário mínimo não pode alugar uma casa. Ou ele mora e não come ou come e não mora. Loucura é ver um brasileiro morando nas pontes e ruas como vemos em São Paulo”, disse, defendendo subsídio para construção de habitação popular e lembrando que seu governo garantiu cinco milhões de novas casas para o povo.  

O Brasil está desrespeitando aquilo que nós mesmos escrevemos na Constituição Federal. Vamos chamar os empresários, as universidades, os trabalhadores para conversar. O trabalhador quer é que sua empresa cresça, ganhe dinheiro, gere mais empregos e melhore a renda de seus funcionários. Quem fica feliz quando a Ford e a Toyota vão embora do Brasil?”, questiona, destacando que, em seu governo, a indústria automobilística vendia quatro milhões de carros e hoje vende metade.

“Queremos chamar o presidente da Fiesp, da Febraban e quero saber qual é o compromisso de cada um com  a melhoria de vida do povo em nosso país. Temos que ter o emprego como uma coisa sagrada, garantir salário que dê para comer, cuidar dos filhos e garantir a seguridade e a previdência social. Quando isso acontece parece que a gente está no céu, mas quando a gente passa pelo  desemprego, vê nossos irmãos desempregados, a vida do povo vira uma desgraça”, avaliou, criticando o trabalho intermitente e a situação precária dos trabalhadores de aplicativos, que não ganham o suficiente para sustentar a família, não têm direito às férias e nem possuem um sistema de previdência em caso de doença ou acidente de trabalho.

“Que tipo de empreendedorismo é este?”, questiona.

Novo mundo do trabalho

Lula disse que não se trata do mundo do trabalho voltar ao que era antes, mas criar uma uma nova legislação trabalhista em função da realidade atual dos trabalhadores, para avançar ainda mais. 

“A gente chegando ao governo, vocês serão convidados a Brasília para a gente começar a discutir  e vamos criar uma mesa de negociação com trabalhadores e empresários. Não vamos fazer nada na marra, mas garantir o direito de negociar a contratação coletiva e o respeito ao que foi acordado”.

 “Vamos fazer um governo que conversa com sindicatos, mulheres, negros e índios, que dialoga com todo mundo,  através da negociação”, afirmou.

Acusou também o governo Bolsonaro de asfixiar o movimento sindical.

“Não precisamos recriar o imposto sindical, trabalhador não gosta disso, mas tem que ter um aditivo na lei que permita que as finanças dos sindicatos sejam decididas em assembleias livres pelas categorias”, propõe.

Participação dos bancários

A presidenta da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Juvandia Moreira disse que o Brasil, desde o golpe que derrubou a presidenta Dilma, está destruído.

“Os bancos e empresas públicas estão sendo desmontados. Em vez de oferecer crédito para o desenvolvimento e para geração de emprego e renda, num pais em que o povo está na miséria, estão vendendo carteiras de crédito pela metade do preço. É balcão de negócio”, criticou as práticas do governo Bolsonaro.  Juvandia lembrou que a população ou está desempregada ou está endividada no rotativo do cartão de crédito.

“Os juros são mais de 400% no rotativo do cartão de credito. Estão tirando dinheiro do povo para dar aos bancos. Nós precisamos que Lula volte a governar este país”, acrescentou. Falou ainda da necessidade de criação de políticas voltadas para as mulheres, que sofrem violência domestica e discriminação no mercado de trabalho.

“O desemprego é maior entre mulheres e maior ainda entre as mulheres negras”, destacou.

Combustíveis e gás de cozinha

David Barcelar, coordenador nacional da Federação Única dos Petroleiros, criticou os altos preços dos combustíveis e do gás de cozinha impostos pelas políticas dos governos Temer e Bolsonaro e disse que, num passado recente, tudo era diferente.

“Nós sabemos muito bem o que o presidente Lula fez com a Petrobras, realizando a maior captação de investimentos da história da empresa, que tinha lucro líquido médio de R$5 bilhões e saltou para 20 bilhões de dólares, tinha 34 mil petroleiros e petroleiras e chegamos a 87 mil trabalhadores. A indústria naval que estava destruída, com cinco mil trabalhadores passou a ter 87 mil empregados, com a construção de navios no Brasil”, disse.

“Tínhamos geração de emprego e de renda, mas apequenaram a Petrobras que tornando a empresa apenas uma exportadora de petróleo cru e importadora de derivados. Acreditamos que em 2023 teremos a Petrobras de volta, abrasileirando os preços dos combustíveis, com Lula e Geraldo Alckmin”, completou.

 

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