Sábado, 02 Abril 2022 23:36

É preciso inovar a organização sindical para enfrentar novo mundo do trabalho, diz sociólogo

O sociólogo Clemente Ganz Lúcio disse que o movimento sindical precisa ousar para enfrentar os desafios das novas estruturas do mundo do trabalho O sociólogo Clemente Ganz Lúcio disse que o movimento sindical precisa ousar para enfrentar os desafios das novas estruturas do mundo do trabalho Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Foto: Nando Neves

 

O sociólogo, ex-coordenador técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos socioeconômicos) e assessor do Fórum das Centrais Sindicais Clemente Ganz Lúcio disse que é preciso reestruturar a organização sindical para dar conta do novo mundo do trabalho que está vindo e que o sindicalismo só foi capaz de reformar quando rompeu os limites de sua própria organização limitados pelas leis.

“É preciso unir os terceirizados e perguntar se eles querem que sejamos a representação deles, com poder coletivo de mobilização”, sugeriu.

O palestrante falou também dos desafios das estratégias do movimento sindical diante dos trabalhadores no teletrabalho.

“Como fazer a greve em setembro com milhares de trabalhadores em home Office? Se não compreendermos este novo contexto nós vamos fracassar. Temos que inventar a ação sindical que responda a este mundo que está se modificando”, avalia.  

Protagonismo político

Para Ganz, os trabalhadores precisam voltar ao protagonismo do jogo político e econômico.  “Não podemos deixar na mão do capital a condução dessa trajetória. Estamos perdendo o protagonismo político e precisamos voltar ao jogo. E como fazer isso? Reorganizando o movimento sindical a partir do mundo do trabalho que está se formando. O sistema financeiro e a estrutura produtiva criaram tantos novos modelos de trabalho. Hoje os bancários representam apenas um terço do sistema financeiro”, disse. .

O técnico do Dieese disse ainda que é preciso ampliar os espaços de representação, como sugere a Contraf-CUT como entidade não apenas dos bancários, mas de todo o ramo financeiro.

“Representamos somente bancários e os banqueiros criaram novas categorias que não possuem representação sindical. Se dependermos das reformas e mudanças no trabalho, nós seremos cada vez menos capazes de representar os trabalhadores”, acrescentou.

“Temos de romper limites que nos impedem de avançar na organização, pois esta mudança capitalista não é provisória e a nova estrutura produtiva e nas formas de relações de contratação de trabalho vieram para ficar. Hoje quase 70% das operações financeiras não passam pelo trabalhador bancário. E neste novo mundo é que temos que pensar na ação sindical”, explicou Clemente Ganz. Considera que os trabalhadores estão resistindo tão bem às adversidades da atual conjuntura que o povo “vai eleger agora o Lula, que foi considerado o maior presidente deste país”, opina. Lembrou que a vice-presidente da Espanha, Yolanda Díaz disse num encontro na UERJ, que espera que o povo brasileiro seja capaz de eleger o presidente Lula, logo, este não é apenas um desejo interno, mas também de grande parte da opinião pública internacional.

“A primeira grande diretriz é deixar de olhar ara o retrovisor e dizer ‘como o meu sindicato era bom e gostaria que ele voltasse a ser’.  Os bancos não são os mesmos. É preciso deslocar o olhar para o futuro com conhecimento e informações para imaginar qual será a resposta política da atividade econômica que vai fragmentando as atividades, o sistema sindical que tem que unir e reunir, como a proposta de criação de sindicatos por ramo”, destacou, acrescentando que, no Brasil, não se pode aceitar a legislação nefasta que permitiu a negociação individual.

“É impossível construir uma capacidade de negociação coletiva se a legislação permite o acordo individual. Após 40 anos de reformas trabalhistas na Espanha, o novo governo progressista colocou fim ao acordo individual e a ideia de que o acordo do patrão com o empregado vale mais do que o coletivo”, explica. Defendeu ainda o retorno da ultratividade, como decisões que voltam a coloca os sindicato ao jogo político.

“Isso não virá do governo. Precisamos dizer que queremos autonomia, nem o estado e nem o patrão dizerem o que devemos fazer. O Sindicato não representa somente o sócio, mas toda a categoria. A representação tem de ser para todos os trabalhadores”, propõe.  Sugeriu ainda que todos assistam o filme francês  “Em guerra”, para compreender como os trabalhadores devem organizar sua resposta política, que é com um sindicato com pluralidade e autonomia.

“Precisamos dar passos que consigam a transformação dessas organizações, produzir o que existe de mais moderno. Vocês são ‘o embrião do futuro’, conquistaram o contrato coletivo nacional e precisam defender a ampliação desta representação aos demais setores, porque os trabalhadores não conseguiram fazer a leitura das mudanças de organização do mundo do trabalho e continuam fragmentando a organização sindical”, esclarece.  

Trabalhadores sem representação

Para Ganz, é preciso dar um basta a fragmentação e divisão e o movimento sindical precisa olhar e mobilizar os 1,4 milhões de trabalhadores de ifoods e Uber para que estes setores possam garantir melhores salários, proteção de saúde e previdência, como qualquer trabalhador. “Eles dizem que somos privilegiados e temos de levar a mensagem que o que temos é deles também e, juntos, podemos construir essa trajetória de mudanças”, afirma.

Disse ainda que os sindicatos precisam desmitificar a chamada “meritocracia”, o individualismo e a negação das organizações coletivas.

“Temos apenas 5% dos jovens filiados aos sindicatos”, alerta.

“Estamos na semana da medida provisória do teletralho. Eles estão anunciando a carteira verde amarela, sem direitos. Eles estão avançando. Já está em vigor. Temos que rexistir até o final do ano para eleger Lula e colocar os sindicatos de volta ao jogo. Não façamos como em 2003. Temos que fazer em três anos as mudanças que não fizemos e para isso, precisamos a unidade máxima dos trabalhadores e recolocar os sindicatos como protagonistas. Não há ninguém melhor do que o movimento sindical para fazer isso”, concluiu. 

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