Sábado, 02 Abril 2022 22:35

Apesar da reforma trabalhista, número de entidades sindicais cresceu no Brasil

Sociólogo Fausto Augusto Júnior aponta principais desafios do movimento sindical frente às mudanças do perfil do trabalhador do ramo financeiro
O sociólogo Fausto Augusto Júnior apontou os desafios do movimento sindical ante as mudanças de perfil dos trabalhadores do ramo financeiro e disse que a categoria bancária está na vanguarda das lutas da classe trabalhadora O sociólogo Fausto Augusto Júnior apontou os desafios do movimento sindical ante as mudanças de perfil dos trabalhadores do ramo financeiro e disse que a categoria bancária está na vanguarda das lutas da classe trabalhadora Foto: Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Foto: Nando Neves

 

O técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e sociólogo Fausto Augusto Júnior, disse neste sábado (2/4), ao falar no painel “O futuro da Organização Sindical”, quarto e último painel do dia no 9º Congresso Nacional da Contraf-CUT, que apesar da reforma trabalhista, o número de entidades sindicais aumentou de 2016 a 2022.

“Apesar de muitos dizerem que há muitos sindicatos de gaveta, vemos que, com esses números, que a questão do imposto sindical, extinta com a reforma trabalhista, não foi tão central. O pior problema foi a criação da negociação individual e a terceirização que estão minado as bases do movimento sindical”, afirmou. No entanto, o economista chamou a atenção que os sindicatos representam apenas 31% da classe que vive do trabalho e o índice de sindicalização é de apenas 11,5%, o que revela um problema na representação política, segundo Augusto Júnior.

28,15%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílio (PNAD contínua), do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Menos jovens nos sindicatos

Fausto disse ainda que preocupa não só a redução de sindicalização no país, mas também o número menor de jovens se associando aos sindicatos.

Destacou, entre os principais desafios do movimento sindical, a grande heterogeneidade entre seus representados, formas precárias de contratação e a desestruturação do próprio mercado de trabalho, como um todo, decorrente da recessão, baixo crescimento, a pandemia e a reforma trabalhista.

 No setor financeiro, o sociólogo considera que os fatores que afetam a atuação sindical estão relacionados às alterações do perfil da atividade, a redução da força de trabalho, o surgimento de entidades não bancárias no setor, como as fintechs, que são formas “de burlar os direitos trabalhistas”.
“A mudança do perfil do trabalhador no ramo financeiro é questão decisiva a ser enfrentada. Com o avanço tecnológico, houve crescimento dos chamados agentes autônomos de investimento em 121% nos últimos 10 anos, além de  correspondentes bancários e fintechs”, destacou. Lembrou ainda que as pessoas que trabalham “por conta própria” tendem a se afastar das entidades “Os bancários estão na vanguarda do movimento, e tem conquistas muito acima da média de toda a classe trabalhadora, por isso, pensar a reformulação do movimento sindical é ter a categoria bancária como referência”, elogiou.

Desafios do Home Office

Outro desafio apontado por Augusto para o movimento sindical é a adesão ao home office, que cresceu muito com a pandemia da Covid-19. Segundo pesquisa do Dieese, 38% dos bancários declaram querer permanecer apenas nesse regime, o que exigirá novas estratégias de ações coletivas, diferentes da que temos hoje. “O modelo de hoje não dá conta do mundo do trabalho, e a pergunta é sobre como vamos avançar”, acrescentou, lembrando que além da sindicalização de novos associados, é preciso “incluir trabalhadores com vínculo trabalhista precário, informais e desempregados, para que as entidades sindicais possam se tornar um espaço de articulação e unidade em torno dos interesses comuns de todos os segmentos da classe trabalhadora”.

O ramo financeiro

As principais questões que afetam a atuação sindical no setor financeiro estão relacionadas às alterações do perfil da atividade, redução da força de trabalho, o surgimento de entidades não bancárias no setor, como as fintechs, como forma de burlar os direitos trabalhistas.
A mudança do perfil do trabalhador no ramo financeiro é uma questão decisiva a ser enfrentada, na avaliação de Augusto.

“Com o avanço tecnológico, houve crescimento dos chamados agentes autônomos de investimento em 121% nos últimos 10 anos, além de trabalhadores que prestam serviço para corretoras, correspondentes bancários e fintechs. Por atuarem por conta própria ou como pessoa jurídica, esses profissionais se afastam dos sindicatos, o que pode enfraquecer a negociação coletiva, estratégia que tradicionalmente tem assegurado conquistas econômicas e sociais a toda categoria bancária”, acrescentou.

Elogios à categoria

Augusto disse ainda que os bancários estão na vanguarda do movimento, e tem conquistas muito acima da média de toda a classe trabalhadora.

“Pensar a reformulação do movimento sindical é ter a categoria bancária como referência”, elogiou. Para continuar na vanguarda, segundo Augusto Júnior, a categoria tem de valorizar os processos de negociações coletivas, os acordos específicos para fiscalizar e melhorar as condições de trabalho, aperfeiçoar as assembleias e encontros virtuais e desenvolver mecanismos para a compreensão das demandas dos trabalhadores.

O pior problema da reforma trabalhista foi a criação da negociação individual e a terceirização, que afetam a categoria e estão minando as bases do movimento sindical”, avalia.
Destacou ainda algumas resoluções do 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), de 2019, que devem ser observadas, em especial a ampliação da representação de toda a classe trabalhadora, e com isso ultrapassar o conceito de categorias e partir para o ramo de atividade.

“É muito importante para o movimento sindical que, além da luta pela formalização do emprego, incluir os profissionais com vínculo trabalhista precário, os trabalhadores informais e os desempregados. As entidades sindicais precisam se tornar espaço de articulação e unidade em torno dos interesses comuns de todos os segmentos da classe trabalhadora”, concluiu.

 

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