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Carlos Vasconcellos
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Foto: Nando Neves
O técnico do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e sociólogo Fausto Augusto Júnior, disse neste sábado (2/4), ao falar no painel “O futuro da Organização Sindical”, quarto e último painel do dia no 9º Congresso Nacional da Contraf-CUT, que apesar da reforma trabalhista, o número de entidades sindicais aumentou de 2016 a 2022.
“Apesar de muitos dizerem que há muitos sindicatos de gaveta, vemos que, com esses números, que a questão do imposto sindical, extinta com a reforma trabalhista, não foi tão central. O pior problema foi a criação da negociação individual e a terceirização que estão minado as bases do movimento sindical”, afirmou. No entanto, o economista chamou a atenção que os sindicatos representam apenas 31% da classe que vive do trabalho e o índice de sindicalização é de apenas 11,5%, o que revela um problema na representação política, segundo Augusto Júnior.
28,15%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílio (PNAD contínua), do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Menos jovens nos sindicatos
Fausto disse ainda que preocupa não só a redução de sindicalização no país, mas também o número menor de jovens se associando aos sindicatos.
Destacou, entre os principais desafios do movimento sindical, a grande heterogeneidade entre seus representados, formas precárias de contratação e a desestruturação do próprio mercado de trabalho, como um todo, decorrente da recessão, baixo crescimento, a pandemia e a reforma trabalhista.
No setor financeiro, o sociólogo considera que os fatores que afetam a atuação sindical estão relacionados às alterações do perfil da atividade, a redução da força de trabalho, o surgimento de entidades não bancárias no setor, como as fintechs, que são formas “de burlar os direitos trabalhistas”.
“A mudança do perfil do trabalhador no ramo financeiro é questão decisiva a ser enfrentada. Com o avanço tecnológico, houve crescimento dos chamados agentes autônomos de investimento em 121% nos últimos 10 anos, além de correspondentes bancários e fintechs”, destacou. Lembrou ainda que as pessoas que trabalham “por conta própria” tendem a se afastar das entidades “Os bancários estão na vanguarda do movimento, e tem conquistas muito acima da média de toda a classe trabalhadora, por isso, pensar a reformulação do movimento sindical é ter a categoria bancária como referência”, elogiou.
Desafios do Home Office
Outro desafio apontado por Augusto para o movimento sindical é a adesão ao home office, que cresceu muito com a pandemia da Covid-19. Segundo pesquisa do Dieese, 38% dos bancários declaram querer permanecer apenas nesse regime, o que exigirá novas estratégias de ações coletivas, diferentes da que temos hoje. “O modelo de hoje não dá conta do mundo do trabalho, e a pergunta é sobre como vamos avançar”, acrescentou, lembrando que além da sindicalização de novos associados, é preciso “incluir trabalhadores com vínculo trabalhista precário, informais e desempregados, para que as entidades sindicais possam se tornar um espaço de articulação e unidade em torno dos interesses comuns de todos os segmentos da classe trabalhadora”.
O ramo financeiro
As principais questões que afetam a atuação sindical no setor financeiro estão relacionadas às alterações do perfil da atividade, redução da força de trabalho, o surgimento de entidades não bancárias no setor, como as fintechs, como forma de burlar os direitos trabalhistas.
A mudança do perfil do trabalhador no ramo financeiro é uma questão decisiva a ser enfrentada, na avaliação de Augusto.
“Com o avanço tecnológico, houve crescimento dos chamados agentes autônomos de investimento em 121% nos últimos 10 anos, além de trabalhadores que prestam serviço para corretoras, correspondentes bancários e fintechs. Por atuarem por conta própria ou como pessoa jurídica, esses profissionais se afastam dos sindicatos, o que pode enfraquecer a negociação coletiva, estratégia que tradicionalmente tem assegurado conquistas econômicas e sociais a toda categoria bancária”, acrescentou.
Elogios à categoria
Augusto disse ainda que os bancários estão na vanguarda do movimento, e tem conquistas muito acima da média de toda a classe trabalhadora.
“Pensar a reformulação do movimento sindical é ter a categoria bancária como referência”, elogiou. Para continuar na vanguarda, segundo Augusto Júnior, a categoria tem de valorizar os processos de negociações coletivas, os acordos específicos para fiscalizar e melhorar as condições de trabalho, aperfeiçoar as assembleias e encontros virtuais e desenvolver mecanismos para a compreensão das demandas dos trabalhadores.
O pior problema da reforma trabalhista foi a criação da negociação individual e a terceirização, que afetam a categoria e estão minando as bases do movimento sindical”, avalia.
Destacou ainda algumas resoluções do 13º Congresso Nacional da CUT (Concut), de 2019, que devem ser observadas, em especial a ampliação da representação de toda a classe trabalhadora, e com isso ultrapassar o conceito de categorias e partir para o ramo de atividade.
“É muito importante para o movimento sindical que, além da luta pela formalização do emprego, incluir os profissionais com vínculo trabalhista precário, os trabalhadores informais e os desempregados. As entidades sindicais precisam se tornar espaço de articulação e unidade em torno dos interesses comuns de todos os segmentos da classe trabalhadora”, concluiu.