Terça, 15 Março 2022 21:06

Bolsonaro se aproveita da crise de fertilizantes para deixar mineração devastar a Amazônia

Ataque ao meio ambiente com exploração de potássio visa atender aos lucros na exportação do agronegócio. MST dá exemplo de soluções alternativas naturais e atende ao mercado interno
NATUREZA AMEAÇADA - A floresta Amazônica, as populações ribeirinhas e os índios estão ameaçados pela exploração de potássio na região. Governo coloca em risco o meio ambiente para atender aos interesses econômicos do agronegócio NATUREZA AMEAÇADA - A floresta Amazônica, as populações ribeirinhas e os índios estão ameaçados pela exploração de potássio na região. Governo coloca em risco o meio ambiente para atender aos interesses econômicos do agronegócio Foto: Agência Brasil

 

Carlos Vasconcellos

Iprensa SeebRio

 

Em função da guerra na Ucrânia e do boicote dos EUA e da Europa à Rússia e a decisão de Moscou de suspender a exportação de fertilizantes, o agronegócio brasileiro foi diretamente atingido pela falta do produto internacional. Para atender o setor, que junto com os bancos, sustentam politicamente o governo, Bolsonaro se aproveita da crise na importação do produto para aprovar, às pressas, a devastação da Amazônia e terras indígenas, com o objetivo de explorar o potássio, mineral essencial na produção de fertilizantes, matéria prima fundamental para o agronegócio. Querendo justificar a necessidade de comida na mesa dos brasileiros e do mundo, o Palácio do Planalto lançou na última sexta-feira (11), o Plano Nacional de Fertilizantes. A correria é tanta para atender o agronegócio, que a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, não esperou o primeiro útil e já no final de semana se encontrou no Canadá com representantes da empresa “Potássio do Brasil”. O curioso é que a empresa estrangeira possui o nome que deixa claro o interesse do capital internacional em explorar as riquezas naturais do Brasil. Seu proprietário, canadense, quer abrir na Amazônia, a maior mina de potássio da América Latina.

Ambientalistas e agrônomos denunciam que estas monoculturas são transgênicas e uma ameaça à natureza, pois utilizam máquinas pesadas e tornam o solo estéril, um risco para toda a região e para as populações que vivem da floresta, deixando um rastro de erosão na superfície, justamente onde se concentram os agrotóxicos e adubos que podem envenenar os rios e fontes.

Criando um ambiente hostil, a exploração do potássio para produzir fertilizantes torna o terreno hostil para insetos e micro-organismos que garantem a fertilidade, a umidade e a matéria orgânica do solo.

A justificativa da crise de fertilizantes em função da guerra da Ucrânia é apenas uma desculpa para o governo Bolsonaro atender a pressão do agronegócio de destruir as florestas para a exploração de potássio, produção de soja e criação de gado, a maior parte exportada. Muito antes desta crise internacional, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que deveria proteger o patrimônio natural, disse em reunião ministerial em 22 de abril de 2021, que o governo deveria se aproveitar da maior cobertura da imprensa em relação à pandemia da Covid-19 para "passar a boiada” e “mudar o regramento ambiental, simplificando as normas”.

“A prioridade hoje da classe trabalhadora em relação ao meio ambiente é defender a Amazônia, os povos indígenas e os quilombolas que estão na linha de frente no enfrentamento contra os desmatadores. Precisamos utilizar o nosso bioma de maneira saudável, não predatória e protegendo os povos originários, que têm uma relação respeitosa com o meio ambiente”, disse a diretora da Secretaria do Meio Ambiente do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Cida Cruz.

O bom exemplo do MST

Ao contrário dos grandes latifundiários, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) não utiliza fertilizantes e agrotóxicos em suas lavouras. Pequenos produtores de arroz do Rio Grande do Sul utilizam soluções alternativas para a produção agrícola. A estimativa é de que os camponeses vão colher nesta safra 2021/2022, mais de 15 mil toneladas e realizam, nesta sexta-feira (18), a 19ª Festa da Colheita de Arroz Agroecológico. O MST é há dez anos o maior produtor de arroz orgânico da América Latina.  E o melhor: a maior parte da produção dos pequenos agricultores é para atender o mercado interno e vai direto para a mesa dos brasileiros, enquanto que o agronegócio prioriza a exportação e sem nenhum compromisso com a preservação ambiental.

“O MST deixa um exemplo positivo de uma luta social pelo direito à terra e o uso saudável dela, sem fertilizantes, praticando a agroecologia. A sociedade precisa conhecer mais o trabalho destes agricultores. No Rio, o MST tem uma loja na Lapa que vende os produtos agrícolas. Eles estão mostrando que dá certo uma produção respeitosa ao meio ambiente para alimentar o povo brasileiro. Os Sem Terra são também uma referência de generosidade e doaram muitos alimentos para as pessoas necessitadas durante esta pandemia e criaram restaurantes populares”, conclui Cida.

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