Quinta, 10 Março 2022 10:52

Um caso de violência contra a mulher é registrado a cada cinco horas

Dados foram registrados pela Rede de Observatórios da Segurança com base em cinco estados: Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo

Rio - Dados da violência contra mulheres apontam 1975 registros em 2021. Entre eles, 409 são feminicídios. Pelo segundo ano, a Rede de Observatórios revela os dados da violência contra a mulher monitorados em cinco dos sete estados em que atua: Bahia, Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Os estados do Piauí e Maranhão passaram a integrar a Rede em agosto de 2021 e ainda não completaram um ano de monitoramento. O material completo segue em embargo até o dia 10 de março, às 5 da manhã.

Esses números mostram que um caso de violência contra a mulher é registrado a cada cinco horas e todos os dias uma mulher morre por ser mulher nos estados monitorados. O indicador é o terceiro colocado entre os registros da Rede durante o ano, ficando atrás apenas de eventos com armas de fogo e ações policiais. Em 65% dos casos de feminicídios e 64% dos casos de agressão, os criminosos eram companheiros da vítima.

Os dados são produzidos de maneira independente a partir de um monitoramento do que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança. As pesquisadoras conferem nos veículos de imprensa, coletam informações e alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado. São dez categorias de crimes contra mulheres: tentativa de homicídio e assassinato são os maiores registros.

São Paulo apresentou um aumento de 27% de registros em relação ao ano passado e chegou ao número de 929 eventos monitorados: 157 feminicídios, 97 estupros e 501 agressões. Os dados gerados pelas nossas pesquisadoras em relação ao número de assassinato de mulher foram maiores que os números oficiais: dados do governo apontam 136 mortes.

Atrás de São Paulo, aparece o Rio de Janeiro que tem um caso de violência contra a mulher a cada 24h. São 375 eventos de homicídios e violência contra a mulher, sendo 456 tipos de violência (um único evento pode ter mais de um tipo de violência). O estado apresentou um crescimento de 18% nos registros em um ano.

Pernambuco aparece na sequência com 311 registros de crimes contra mulheres. É o estado do Nordeste com o maior número de casos e o segundo entre os cinco estados em feminicídios. São 91 registros da Rede de Observação, enquanto a secretaria de segurança aponta 86 mortes.

Na Bahia, um caso de violência contra a mulher é registrado a cada dois dias. No entanto, houve uma queda de 31% nos registros. A Rede indica que, ao analisar os tipos de violência, não há grande variação quando se trata de feminicídio: foi de 70 em 2020 para 66 casos em 2021. O Ceará apresentou uma queda de 20% nos casos de violência contra a mulher, mesmo que um dos casos mais emblemáticos do último ano tenha acontecido por lá: a agressão sofrida por Pamela Holanda praticada pelo ex-marido DJ Ivys. Foram registrados 160 casos.

Quando a motivação dessas agressões e mortes são informadas, as três maiores causas apontadas são brigas (28%), término de relacionamentos (9%) e ciúmes (8%). Boa parte dos crimes contra mulheres divulgados nos jornais (85%) não traz a informação racial da vítima. Porém, segundo as informações da Rede, ao desconsiderar os casos em que a cor da vítima não é informada, 50,7% das vítimas são negras, 48,6% brancas e 0,7% indígena. As pesquisadoras acreditam que, quando se trata de mulheres brancas e de classes mais abastadas, a cobertura jornalística tende a ser mais completa.

Transfeminicídios

O Ceará é o primeiro do ranking pelo segundo ano, com 11 mortes e registra a mais jovem vítima de transfobia no Brasil até hoje: Keron Ravach foi morta aos 13 anos ao cobrar uma dívida. Pernambuco é o segundo estado em transfeminicídios com 10 casos monitorados. No último ano, no período de menos de um mês, quatro mulheres trans negras foram atacadas e mortas. Uma delas, Roberta da Silva, teve 40% do corpo queimado.

"Usar o termo transfeminicídio é crucial, pois assim se reconhece que são mulheres expostas ao feminicídio e à transfobia – que passa a ser encarada como uma problemática social. A sociedade que não reconhece nossos corpos não vê como a violência nos afeta", explica a pesquisadora Dália Celeste, do Observatório da Segurança de Pernambuco.

Fonte: O DIA

Mídia