Terça, 08 Março 2022 15:58

Mulheres foram as mais afetadas por crise agravada pela pandemia

Problema sanitário tornou a situação da economia ainda pior, já prejudicada pela política econômica recessiva do Governo Bolsonaro

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Fonte: Rede Brasil Atual, IBGE e Dieese

 

A pandemia não é o único fator da crise econômica no Brasil que mantém o desemprego alto, reduz a renda das famílias e achata os salários do povo brasileiro. A política econômica recessiva do ministro Paulo Guedes torna a vida da população ainda mais difícil, com a explosão inflacionária e a velha fórmula do Banco Central para conter a disparada dos preços: o aumento dos juros, os maiores do mundo.

Mas os números mostram um outro aspecto do aumento da miséria no país: as mulheres são sempre as mais afetadas pela crise, como na atual que é agravada pela pandemia da Covid-19.

Segundo avaliação do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), na “situação dramática” do mercado de trabalho brasileiro, com desemprego, informalidade, precarização e corte de direitos, aliada à pandemia, as mulheres foram “duramente atingidas”.

Em boletim divulgado para marcar o Dia Internacional da Mulher, o instituto lembra que elas historicamente já ocupam as posições mais vulneráveis no mercado.

“São sempre as mulheres, que já possuem renda bem inferior aos dos homens mesmo exercendo as mesmas funções, que são as mais atingidas pelo desemprego e que encontram mais dificuldade para retornar ao mercado de trabalho. Estas distorções são fruto da discriminação de gênero e que nós não podemos aceitar em pleno século XXI”, disse vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Rio, Kátia Branco.

Desemprego

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que, no terceiro trimestre do ano passado, havia 1,106 milhão de mulheres a menos na força de trabalho em relação a igual período de 2019, chegando a um total de 46,398 milhões de desempregadas. E o mais grave: é expressiva a parcela de trabalhadoras que saiu do mercado de trabalho durante a pandemia e ainda não havia retornado em 2021”, segundo estudos do Dieese.

Negras ainda mais afetadas

Entre as ocupadas, no ano passado havia aproximadamente 1,670 milhão a menos, sendo 1,211 milhão negras, que sofrem dupla discriminação no mercado de trabalho, de gênero e raça. As desempregadas aumentaram em 564 mil, com 285 mil negras e 277 mil não negras.

A diferença se observa também na taxa de desemprego, que no caso das mulheres subiu de 14,3%, em 2019, para 15,9% em 2021. Já a dos homens permaneceu estável: de 10% para 10,1%. As não negras têm taxa de desemprego de 12,5%, enquanto a das negras sobe para 18,9%.

As mulheres enfrentam mais dificuldade para retornar ao mercado. Praticamente metade das negras (49,9%) e das não negras (47,6%) desempregadas procuravam nova colocação há mais de um ano.

Política econômica pífia

Segundo o Dieese, a pandemia e a política econômica pífia do governo Bolsonaro elevaram a subutilização da força de trabalho feminina.”
As subutilizadas (que queriam trabalhar mais, porém não conseguiram) eram 33,3% das ocupadas no terceiro trimestre de 2021. Entre os homens, 20,9%. A proporção cai para 26,2% para trabalhadoras não negras e sobe a 39,1% para as negras. A pandemia agravou um quadro que já era ruim, por causa da “reforma” trabalhista de 2017, criada pelo então ministro da Fazenda de Michel Temer, Henrique Meirelles e que retirou direitos e tornou o trabalho ainda mais precário com a promessa de gerar milhões de novos empregos, o que não aconteceu. Houve crescimento do número de mulheres trabalhadoras por conta própria, as chamadas “empreendedoras”, que, na verdade, são pessoas que lutam para sobreviver diante de uma realidade de precarização e incertezas. De 2019 para 2021, só houve crescimento da ocupação entre trabalhadoras por conta própria: 9,4% para não negras e 2,9% para negras.

Menos renda

Os rendimentos das mulheres continuam menores que os dos homens. No terceiro trimestre de 2021, elas recebiam em média R$ 2.078, enquanto eles ganhavam R$ 2.599, ou seja, elas ganhavam 80% dos homens, mesmo com mais escolaridade. A proporção subiu ligeiramente em relação a 2019 (78%). Por hora, as mulheres negras recebiam R$ 10,83 e as não negras, R$ 17,13 (37% a menos).

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