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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
Moize Mugenyi Kabamgabe, 24 anos, nascido no Congo, era mais um negro africano que veio buscar no Brasil o sonho de ter uma vida melhor e poder garantir a sua sobrevivência com dignidade. Mas o sonho terminou em uma barbárie: o jovem foi assassinado a pauladas por capangas apenas porque cobrou dos patrões, donos do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, onde trabalhava fazendo diárias há cerca de três anos, o recebimento de seu salário. O crime foi cometido na segunda-feira passada, dia 24 de janeiro, em plena orla da praia. Ele foi espancado por cinco homens com pedaços de madeira e taco de beisebol até a morte, seus pés e mãos foram em seguida amarrados e seu corpo jogado no chão, segundo testemunhas. O motivo torpe do crime foi porque Moize cobrou o devido pagamento de R$200 por seu dia de trabalho.
“O destino de Moisés não poderia ter sido mais trágico e só confirma a barbárie social e política em que vive o nosso país nos últimos anos, de explicitação do racismo, de precarização do trabalho e da banalização da violência contra os pobres. E no Rio de Janeiro temos o agravante de um estado dominado pelo crime organizado das milícias, braço direito político do presidente Jair Bolsonaro, em que muitos crimes ficam sem resposta”, critica o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Almir Aguiar. A comunidade negra suspeita de que a maior parte dos quiosques da região é de propriedade de milicianos e a forma bárbara com que o jovem foi morto em local público, de grande movimento, aumentam estas suspeitas e o medo da impunidade.
A família de Moize está no Brasil desde 2014.
Ninguém socorreu o rapaz
Um funcionário de outro estabelecimento da região disse que rapaz era muito trabalhador, quase não falava, a ponto de as pessoas não saberem sequer o seu nome e ele era conhecido como “angolano”, embora fosse congolês, país africano que foi colonizado pelos franceses. Causou indignação também o fato de ninguém ter intervido no ato de violência que durou pelo menos 15 minutos. “Se pessoas veem um cão sendo agredido na rua, intervêm para defender o animal, mas quando uma pessoa negra apanha até a morte em plena praia da Barra da Tijuca ninguém faz nada para ajudá-lo”, declarou o indignado Fernand Umpapa, representante da comunidade congolesa, em entrevista à BBC.
Trabalho precário
A presidenta em exercício do Sindicato dos Bancários do Rio, Kátia Branco, disse que o crime e a indiferença das pessoas que assistiram à tragédia são frutos do racismo na sociedade e que chama a atenção também o fato de como as reformas trabalhistas potencializaram no Brasil o trabalho precário, sem nenhum direito e com negociações individuais e diretas do trabalhador com seus patrões e que o jovem também foi vítima desta triste realidade.
“O jovem africano é fruto de um trabalho quase escravo, sem nenhum direito à carteira assinada, FGTS, 13º salário, negociação coletiva, representação sindical e aposentadoria, como sofrem milhões de brasileiros e imigrantes. E negros e negras são sempre as maiores vítimas desta tragédia social que vivemos hoje no Brasil. A forma com que ele foi brutalmente assassinado, diante de uma sociedade branca que testemunhou o crime e nada fez nos remetem aos tempos da escravidão no país”, afirma a sindicalista.
A mãe do rapaz e a comunidade congolesa estão organizando um protesto na Barra da Tijuca contra o crime racista e brutal neste sábado (5), âs 10 horas, em frente ao local do crime, no posto oito da orla da Barra da Tijuca.