Terça, 01 Fevereiro 2022 16:10
RACISMO E BARBÁRIE

Jovem negro africano é assassinado por patrões na Barra por cobrar seu salário

Moize Kabamgabe, nascido no Congo, de 24 anos, é espancado até a morte após cobrar dia trabalhado em quiosque da Barra da Tijuca

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Moize Mugenyi Kabamgabe, 24 anos, nascido no Congo, era mais um negro africano que veio buscar no Brasil o sonho de ter uma vida melhor e poder garantir a sua sobrevivência com dignidade. Mas o sonho terminou em uma barbárie: o jovem foi assassinado a pauladas por capangas apenas porque cobrou dos patrões, donos do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, onde trabalhava fazendo diárias há cerca de três anos, o recebimento de seu salário. O crime foi cometido na segunda-feira passada, dia 24 de janeiro, em plena orla da praia. Ele foi espancado por cinco homens com pedaços de madeira e taco de beisebol até a morte, seus pés e mãos foram em seguida amarrados e seu corpo jogado no chão, segundo testemunhas. O motivo torpe do crime foi porque Moize cobrou o devido pagamento de R$200 por seu dia de trabalho.

“O destino de Moisés não poderia ter sido mais trágico e só confirma a barbárie social e política em que vive o nosso país nos últimos anos, de explicitação do racismo, de precarização do trabalho e da banalização da violência contra os pobres. E no Rio de Janeiro temos o agravante de um estado dominado pelo crime organizado das milícias, braço direito político do presidente Jair Bolsonaro, em que muitos crimes ficam sem resposta”, critica o secretário de Combate ao Racismo da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Almir Aguiar. A comunidade negra suspeita de que a maior parte dos quiosques da região é de propriedade de milicianos e a forma bárbara com que o jovem foi morto em local público, de grande movimento, aumentam estas suspeitas e o medo da impunidade.

A família de Moize está no Brasil desde 2014.

Ninguém socorreu o rapaz

Um funcionário de outro estabelecimento da região disse que rapaz era muito trabalhador, quase não falava, a ponto de as pessoas não saberem sequer o seu nome e ele era conhecido como “angolano”, embora fosse congolês, país africano que foi colonizado pelos franceses. Causou indignação também o fato de ninguém ter intervido no ato de violência que durou pelo menos 15 minutos. “Se pessoas veem um cão sendo agredido na rua, intervêm para defender o animal, mas quando uma pessoa negra apanha até a morte em plena praia da Barra da Tijuca ninguém faz nada para ajudá-lo”, declarou o indignado Fernand Umpapa, representante da comunidade congolesa, em entrevista à BBC.

Trabalho precário

A presidenta em exercício do Sindicato dos Bancários do Rio, Kátia Branco, disse que o crime e a indiferença das pessoas que assistiram à tragédia são frutos do racismo na sociedade e que chama a atenção também o fato de como as reformas trabalhistas potencializaram no Brasil o trabalho precário, sem nenhum direito e com negociações individuais e diretas do trabalhador com seus patrões e que o jovem também foi vítima desta triste realidade.

“O jovem africano é fruto de um trabalho quase escravo, sem nenhum direito à carteira assinada, FGTS, 13º salário, negociação coletiva, representação sindical e aposentadoria, como sofrem milhões de brasileiros e imigrantes. E negros e negras são sempre as maiores vítimas desta tragédia social que vivemos hoje no Brasil. A forma com que ele foi brutalmente assassinado, diante de uma sociedade branca que testemunhou o crime e nada fez nos remetem aos tempos da escravidão no país”, afirma a sindicalista.

A mãe do rapaz e a comunidade congolesa estão organizando um protesto na Barra da Tijuca contra o crime racista e brutal neste sábado (5), âs 10 horas, em frente ao local do crime, no posto oito da orla da Barra da Tijuca.

 

 

 

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