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Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Imprensa SeebRio
Carlos Vasconcellos
Em seus longos discursos para uma atenta plateia em comícios sempre lotados na Cinelândia, Leonel de Moura Brizola gostava de entoar o refrão do hino da independência do Brasil: "Brava gente, oh brasileira, longe vá temor servil, ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil, ou ficar a pátria livre ou morrer pelo Brasil". Dizia que este hino o emocionava quando esteve no mais longo exílio de um político brasileiro durante a ditadura militar.
E, de fato, poucos brasileiros deram literalmente a vida pelo país e pelo povo brasileiro como o velho caudilho gaúcho.
A vida pela democracia
Em 1961, quando o presidente Jânio Quadros renunciou e o vice, João Goulart estava em missão diplomática na China, os militares queriam rasgar a Constituição Federal e impedir a posse de Jango dando um golpe. Foi quando Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, armou barricada no Palácio Piratini com a polícia estadual e a população e, de armas na mão, defendeu a democracia e o direito constitucional de Jango assumir a presidência da República. Do Palácio criou um sistema de rádio para mobilizar o povo contra o golpe militar, através da chamada cadeia da Legalidade, cuja transmissão foi além das fronteiras gaúchas. Contou com apoio do general Machado Lopes, comandante do 3º Exército na luta pela legalidade.
A educação como prioridade
Brizola governou o Rio Grande do Sul e quando voltou do exílio foi governador do Rio por dois mandatos. Nenhum governante, em nenhuma esfera, fez tanto pela educação. Como governador dos gaúchos, nos anos 60, construiu seis mil escolas em tempo integral, as Brizoletas, para não deixar nenhuma criança sem escola, além de ensino profissionalizante.
No Rio de Janeiro, sob a batuta do antropólogo e educador Darcy Ribeiro, criou 500 CIEPs, escolas em horário integral, onde as crianças tinham três refeições ao dia, assistência médica e odontológica, material e uniforme escolar, aulas de reforço à tarde, biblioteca e práticas esportivas e culturais, no mais avançado projeto educacional da história do Brasil. Do projeto, aniquilado pelos seus sucessores e pelas elites, só ficaram as edificações idealizadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer.
"O fracasso da educação no Brasil é um projeto das elites", dizia o mestre Darcy.
O legado no Rio
Pesquisas recentes revelam que, apesar da campanha da mídia contra seu governo, Brizola é ainda apontado pela maioria dos entrevistados como o melhor governador que o Rio de Janeiro já teve. Construiu, além de 500 CIEPs e uma Universidade (Universidade Estadual do Norte Fliminense), a Passarela do Samba (cujos camarotes viravam salas de aula o ano todo), a Linha Vermelha, levou energia elétrica ao interior, duplicou a capacidade de água do reservatório do Guandú e garantiu, pela primeira vez, a cidadania para os moradores das favelas, proibindo incursões policiais que hoje matam centenas de pessoas nas comunidades pobres por ações de guerra que tornaram o Rio muito mais violento e uma terra sem lei, onde o cidadão não sabe quem é policial e quem é miliciano. Brizola estava certo: sem a presença social do estado e a educação integral não há solução para a segurança pública.
Porque comemorar o centenário
Neste dia 22 de janeiro, Brizola estaria completando 100 anos. Nenhum outro centenário deveria ser tão comemorado, para a memória de um país tão sem memória, ainda mais em tempos de trevas, de uma conjuntura tão adversa para os trabalhadores, especialmente os mais pobres, em que "viúvas da ditadura" exaltam o golpe militar de 1964 e têm como herói o capitão Ustra, torturador do regime militar. E que falta faz o Brizola, que deu sua vida pelo Brasil, pela democracia, soberania nacional e emancipação do povo brasileiro.