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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Escrito por: Chico Carlos, CUT-PE | Editado por: Marize Muniz
Os brasileiros e brasileiras mais pobres, que dependiam do Bolsa Família para sobreviver com dignidade, fazem filas em frente aos Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) de Recife e de outras capitais, em busca de informações sobre o Auxílio Brasil. Depois de madrugadas ao relento, as incertezas continuam porque ninguém sabe quase nada sobre o auxílio que o governo diz que vai pagar ainda este ano.
O Bolsa Família, criado pelo ex-presidente Lula, foi extinto pelo presidente Jair Bolsonaro, que não apresentou nenhum programa efetivo e de longo prazo de distribuição de renda, só auxílio temporário, que vai vigorar especialmente no período eleitoral, critica o presidente da CUT-PE, Paulo Rocha.
O Auxilio Brasil é uma farsa, não atende às necessidades da população
“Esse programa é conversa fiada que Bolsonaro inventou e só vai vigorar até dezembro de 2022. Depois da eleição, ninguém tem certeza do que pode acontecer. Como não haverá mais dinheiro previsto para a continuidade, muita gente vai ficar com fome e na miséria", complementou o dirigente.
Pelo que se sabe até agora, o Auxílio Brasil deve ser pago de 17 de novembro deste ano até o fim de 2022. A ideia do governo é pagar R$ 400, mas a fonte dos recursos ainda não foi definida.
Para pagar o auxílio, o governo depende da aprovação da PEC do Calote, Proposta de Emenda à Constituição, aprovada na Câmara dos Deputados esta semana, mas que ainda precisa ser aprovada pelo Senado. A PEC permite o parcelamento do pagamento de precatórios, dívidas da União com aposentados, pensionistas e servidores, que a Justiça mandou pagar.
O desespero do povo
Enquanto isso, sem o Bolsa Família, encerrado no fim de outubro, e sem o Auxílio Emergencial, também cancelado, mais de 22 milhões de brasileiros abandonados pelo governo não sabem o que fazer e buscam orientações nas unidades de assistência social - responsáveis pelo Cadastro Único (CadÚnico). CadÚnico é um conjunto de informações sobre as famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza usadas pelo Governo Federal, pelos Estados e pelos municípios para implementação de políticas públicas.
Em Pernambuco, as incertezas geraram transtornos e problemas para os beneficiários que procuram os postos do CRAS para saber como se inscrever, como atualizar o cadastro para receber o Auxílio Brasil nas cidades do Recife e de Jaboatão dos Guararapes.
Nas enormes filas, o clima era de ansiedade e medo do futuro. Na quarta-feira (9), as pessoas chegaram de madrugada à Central de Atendimento do Cadastro Único (CadÚnico) do Bolsa Família, na Rua do Imperador, 308, área Central do Recife. Algumas relataram que passaram mais de 12 horas na fila e tiveram atropelos para entrar na recepção do prédio.
No local, foram registradas aglomerações e reclamações sobre a quantidade de fichas distribuídas para o atendimento e muitas dúvidas que ninguém sabe responder.
Uma beneficiária que não quis se identificar disse que havia pessoas fazendo uma fila com pedras e vendendo cada ficha por R$ 10, o que deixou muita gente revoltada. Houve até bate-boca.
O pedreiro Severino Honorário da Silva, morador do Poço da Panela, bairro do Recife, criticou a atitude de Bolsonaro, que acabou com um programa social premiado como o Bolsa Família e não colocou nada no lugar.
“Ele quer controlar e fazer alguma coisa para seu próprio bem, deixando o pobre numa situação lascada”, disse o trabalhador se referindo ao programa que tem caráter mais eleitoreiro e prazo pra terminar, além de ser lançado no momento em que a popularidade do presidente desce a ladeira.
“Pra quê mudar?”, questiona Severino, que responde: ”Os cadastros dos Bolsa Família e Auxílio Emergencial deveriam continuar do mesmo jeito. O pobre paga toda vez o pato”.
A dona de casa Flávia Viegas de Lima, da Várzea, afirmou indignada que o povo merece atenção e respeito. “Já tem muita gente passando fome e precisamos de boas iniciativas. Entra prefeito, governador e presidente e fica tudo do mesmo jeito”.
“O nome desse Bolsonaro intoxica, dá uma dor de cabeça, que só falta eu correr doida”, completou Flávia.
Do outro lado da rua, próximo ao Gabinete Português de Leitura, a jovem mãe Adriele Patrícia Gomes, também dona de casa, moradora do bairro de Dois Unidos, estava indignada, com a redução do pagamento do Bolsa Família, de R$ 171,00 para R$ 130,00.
“Estou aperriada com esse problema. Minha criança não recebe nada. Todo dia eu preciso comprar uma bolsa de leite por R$ 7,00. E como fica a minha situação? “, frisou.
Em busca de respostas dos governantes, Adriele Gomes revela que está desempregada e teme ter de roubar para viver. “Eu já fui presa, passei um ano e oito meses na Colônia Penal Feminina. Deus me deu um menino, depois uma menina. Eu mudei. Mas se acabar o Bolsa Família ou outro programa, a tendência é roubar, traficar. A gente não quer isso, não”, assinalou.
No Rio de Janeiro, a fila em frente ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Paciência, na Zona Oeste, começou durante a madrugada desta quinta-feira (11). A primeira a ser atendida, Rita de Cássia ficou duas madrugadas na fila. "Anteontem [de terça para quarta], cheguei às três da manhã e não consegui. Eles distribuem apenas 20 senhas por dia. Quem chegar depois não consegue nada", disse ela ao G1.
Em Salvador, houve protesto na fila da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza e, depois de um dia inteiro de filas na quarta, também houve quem chegou à noite para tentar ser atendido nesta quinta.
Em Manaus, longas filas voltaram a ser registradas nos CRAS na manhã desta quinta-feira (11). No bairro Jorge Teixeira, a população começou a chegar ainda na noite de quarta-feira (10) para tentar atualizar o CadÚnico.
O cenário que se repete por todo o país é resultado do fim do Bolsa Família e da falta de informações do governo federal sobre o Auxílio Brasil.
Para se ter uma ideia deste cenário, em abril de 2020, o auxílio emergencial beneficiava 68 milhões de pessoas. Neste ano, o total caiu para 39 milhões. E, agora, com o Auxílio Brasil, o número de beneficiários vai despencar para 17 milhões.