Quarta, 20 Outubro 2021 22:33

Lula: o desafio da CUT é garantir direitos que a tecnologia tirou, sobretudo dos mais jovens

O ex-presidente Lula: "É preciso reconstruir o país". O ex-presidente Lula: "É preciso reconstruir o país".

Olyntho Contente

Imprensa SeebRio

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu, nesta quarta-feira (20/10), a 16ª Plenária Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior central sindical da América Latina, realizada de forma virtual devido à pandemia. Em sua fala, respondeu em parte ao principal tema do evento: de que forma deve se organizar o movimento sindical a partir das mudanças criadas pelo avanço das novas tecnologias sobre as relações de trabalho.

“A ‘revolução’ gerada pela tecnologia digital criou um sistema de trabalho que não trouxe qualquer melhoria de vida, sobretudo para os jovens que tanto se prepararam para entrar no mercado de trabalho”, disse o ex-presidente. E acrescentou: “Eles não têm carteira assinada, não têm garantidos direitos previdenciários, FGTS, férias, estão muito perto de serem escravos. O nosso desafio é este: encontrar meios de garantir os direitos destes trabalhadores que estão frustrados com a fria realidade do mercado de trabalho. Os obstáculos existem para serem ultrapassados e a classe trabalhadora sempre conseguiu fazer isto ao longo da história, e vai fazer de novo, agora. E tenho certeza de que esta plenária da CUT vai dizer como fazer isto”, enfatizou.  

Lembrou que a indústria dos aplicativos está sugando a vida dos mais jovens que vivem para trabalhar sem horário limite, com salário reduzido, sem proteção do Estado. E ressaltou que estes aplicativos não vão reduzir as milhões de pessoas passando fome no mundo. “Quem vai fazer isto é o ser humano com direitos respeitados, com melhores salários que melhore a sua vida e faça girar a economia. Mas para isto é preciso que o Estado garanta estes direitos, invista recursos pesadamente na economia para que a população possa consumir e comprar o que precisa e o país crescer”, defendeu.

Reconstruir o país

Disse que não iria falar sobre a crise sanitária que matou mais de 600 mil pessoas, nem da crise econômica e social sobre as quais o atual governo tem responsabilidade. Nem do aumento do desemprego, da queda da renda do trabalhador, ou da inflação em torno de 10% medida pelo INPC, mas que chega a mais de 20% para os mais pobres.

Sem citar o governo Jair Bolsonaro e sua política econômica ultraliberal lamentou que “todas as conquistas que tivemos estão tirando da gente, aumentando a pobreza, a miséria, a fome e o desemprego”. “Foi um país que nós herdamos desde o impeachment da (ex-presidente) Dilma (Roussef, em 2016). Um país que desrespeita os trabalhadores, que destila o ódio, ataca os mais pobres, negros, mulheres e a democracia todos os dias. Não existe compaixão pelo sofrimento das pessoas”, disse.

Criticou a recusa do governo em destinar recursos emergenciais para as pessoas carentes, para a educação, para a saúde. “O dinheiro não é do governo, vem dos impostos pagos pelo próprio povo e tem que retornar para ele principalmente neste momento em que ele mais precisa para fazer o básico que é comer”, afirmou.

Ressaltou a importância dos sindicatos e disse que é possível eles enfrentarem a nova realidade trazida pela tecnologia digital. “É um desafio que temos que vencer. Até porque sem sindicatos não há democracia, não há cidadania, não há direitos humanos”.

Disse que, sobretudo na atual conjuntura em que vivemos, é preciso sonhar. “A construção de um mundo novo depende de cada um de nós. Não existe luta perdida, luta perdida é aquela que não foi lutada. É tempo de acreditarmos que é possível reconstruir este país, construir um mundo melhor. Tenho 76 anos, aniversario agora dia 27 e acredito que é possível acreditar num mundo melhor para todas as pessoas”, afirmou.

“O tempo que eu tenho pela frente está à disposição para a gente reconstruir este país, reconstruir o movimento sindical, levantar a cabeça do povo trabalhador”, disse Lula, acrescentando ter “energia de 30 e tesão para brigar de 20”.

Prisão e solidariedade

Lula aproveitou a presença de representantes de centrais sindicais de outros países e mesmo mundiais para agradecer a solidariedade que prestaram quando esteve preso na Polícia Federal, sob acusações que depois se comprovaram falsas e forjadas, sendo as condenações todas anuladas. “Agradeço também a defesa que fizeram da minha inocência e desmentindo em todo o mundo as acusações feitas pelos meus algozes nos 580 dias em que estive preso sem provas. Conseguimos, depois de lutar por anos a fio, comprovar, na Justiça, que, na verdade, os que me acusavam formavam uma quadrilha, como foi mostrado depois também por toda a imprensa, cujo objetivo era criar uma narrativa contra o Lula e o PT”, lembrou.    

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