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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
O atentado terrorista às torres gêmeas, em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001 ainda hoje comove, com razão, o mundo inteiro, com recepção na mídia do mundo inteiro. Mas, por motivos políticos, há um outro fato histórico na mesma data, em 1973, que passa desapercebido e a grande imprensa esconde da opinião pública: o golpe militar, com apoio dos EUA, que derrubou o presidente socialista do Chile, Salvador Allende, inaugurando uma das mais cruéis ditaduras da América Latina. Espiões australianos que trabalharam para a CIA, o serviço de inteligência americano, ajudaram na derrubada da democracia. Os militares que derrubaram o presidente brasileiro, o trabalhista João Goulart, também de esquerda, do campo popular, contribuíram com o golpe e a ditadura chilena.
Acreditava-se na democracia
Aviões da Força Aérea chilena atacaram o prédio da Rádio Corporación e toda a região industrial da capital Santiago havia sido cercado pelos militares, apoiados por armas pesadas. O próprio presidente Allende recusara os apelos da extrema esquerda de armar os operários. O primeiro marxista a ser eleito democraticamente como chefe de Estado e de governo de um país ocidental acreditava na preservação da democracia. Estava enganado. Que a impressão do líder chileno sirva de lição para os brasileiros de hoje, que acreditam ainda que o Governo Bolsonaro, mesmo após o aparente recuo que sucedeu a histeria bolsonarista, não representa uma ameaça à democracia e que o Brasil pode esperar até as eleições de 2022, sem o impeachment do presidente alucinado.
O general Augusto Pinochet, nomeado pelo próprio Allende como chefe do Exército, liderou o golpe de 11 de setembro, uma das ditaduras mais brutais da história. E, ao contrário da versão dos golpistas, o Chile estava com a vida normalizada, instituições civis sólidas, a economia exitosa em um modelo socialista democrático, com justiça social, pluralismo e liberdade.
A participação dos EUA
O golpe de Pinochet foi festejado politicamente pelo governo americano de Richard Nixon, do qual também obteve apoio logístico e foi o mais sangrento na América Latina. Os EUA conspiraram também no campo econômico. A Casa Branca não se conformava com as medidas do governo chileno, como a nacionalização do cobre, as estatizações dos bancos e de indústrias e a reforma agrária. O governo norte-americano lançou suas reservas de cobre no mercado mundial, fazendo com que caísse rápida e drasticamente o preço do principal produto chileno de exportação no mercado internacional, prejudicando as reformas sociais do presidente chileno. Mas derrubar Allende não era suficiente. Era necessário para o regime e para as pretensões da Casa Branca na América Latina, matar o líder socialista. Allende teria sido executado pelos militares, apesar da versão de dos tribunais do país terem propagado, após a exumação do corpo e autópsia, ter concluído que a morte teria sido resultado de um “suicídio”. Ainda que Allende tivesse tomado a mesma decisão de Getúlio Vargas de tirar a vida para mudar a história, a causa foi o golpe militar que resultou numa cruel ditadura.
A lição da história
Este 11 de setembro da história chilena que a mídia esconde é o mais relevante para os brasileiros de nossos dias. O Brasil não tem uma estabilidade democrática, ameaçada a todo o momento por um presidente alucinado, irresponsável, defensor ferrenho da ditadura militar e da tortura, que tem o como ídolo o coronel torturador Carlos Brilhante Ustra. A política econômica do governo é desastrosa, agravada pela loucura genocida de Bolsonaro, a inflação explode, o desemprego chega a mais de 14 milhões de pessoas, mais seis milhões de desalentados (desistiram de procurar trabalho), 87 milhões com nomes sujos no SPC, 73% da população devendo o cartão de crédito fruto dos maiores juros do planeta e metade dos que estão trabalhando está no mercado informal, sem direito a nada.
Os arroubos de Bolsonaro trazem mais incertezas e instabilidade, nos campos político e econômico, com a recessão já aprofundada pelo projeto ultraliberal e recessivo do ministro banqueiro Paulo Guedes. Que os brasileiros e a opinião pública fiquem de olho. Em 1973, no Chile, como em 1964 no Brasil, a maioria da sociedade não acreditava num golpe e apostavam na estabilidade democrática. Tanto assim, que nos dois casos não houve forte resistência. Deu no que deu. O Brasil não pode esperar até 2022. Defender o impeachment, já, de Bolsonaro, é proteger a democracia.