Quarta, 08 Setembro 2021 18:26

Golpistas bloqueiam Esplanada dos Ministérios e STF suspende julgamento sobre demarcação de terras indígenas

Caminhões bloqueiam Esplanada dos Ministérios em Brasília Caminhões bloqueiam Esplanada dos Ministérios em Brasília

Olyntho Contente*

Imprensa SeebRio

O ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu suspender a sessão de hoje às 16 horas, que julgaria o marco temporal para demarcação de terras indígenas. A tese, que altera diretamente os critérios para demarcação, com prejuízos a populações tradicionais, é encampada pelo governo Bolsonaro e pela bancada ruralista no Congresso. Fux declarou que a suspensão, incomum para o horário, ocorreu para que os magistrados pudessem cuidar de outras demandas dos gabinetes antes de que se iniciasse a análise do mérito do tema relacionado aos povos tradicionais. O julgamento teria passado para esta quinta-feira.

A mídia, no entanto, noticiou que o motivo seria outro: mais de cem caminhões ocuparam a Esplanada dos Ministérios para pressionar pela derrubada do bloqueio que dá acesso ao STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Congresso Nacional. Segundo o jornal Folha de S. Paulo o movimento tem o dedo de empresas do agronegócio de Goiás, Santa Catarina e São Paulo. A maioria dos caminhões estacionados no canteiro central e nas vias da Esplanada traz a identificação delas.

Veja as imagens do bloqueio clicando aqui.

O presidente do Sindicato, José Ferreira, disse que os trabalhadores devem continuar a ocupar as ruas para enfrentar essa tentativa de golpe, defender a democracia e se manter lutando por seus direitos. “Sabemos que tendo asseguradas condições de nos manifestar já não tem sido fácil garantir nossos direitos, imaginem como seria diante de um governo autoritário e ditatorial com visão ultraliberal, no caso de um autogolpe”.

Para Cida Souza, diretora da Secretaria de Meio Ambiente do Sindicato, a ação destas empresas com caminhões foi incentivada pelos atos convocados e organizados pelo presidente Jair Bolsonaro neste 7 de setembro. “O que vem ocorrendo se caracteriza como crime de responsabilidade, sendo necessário abrir processo de impeachment de imediato do presidente da República”, afirmou.

Trânsito bloqueado

O trânsito segue bloqueado e, até o começo da tarde desta quarta-feira (8), havia uma grande quantidade de manifestantes bolsonaristas em frente aos ministérios. O clima é de hostilidade a jornalistas e aos policiais militares que fazem a barreira que impede o acesso ao STF e ao Congresso.

O Supremo é o principal alvo de Bolsonaro e de seus apoiadores que compareceram às manifestações em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Os manifestantes que seguem em Brasília, a bordo de caminhões, falam abertamente em invasão ao STF, em fechamento da Suprema Corte e em prisão dos ministros, dando sequência ao discurso golpista de Bolsonaro.

Os manifestantes chegaram a tentar invadir o Ministério da Saúde na manhã desta quarta. Funcionários ficaram assustados com a violência empregada pelos apoiadores do presidente, que tentaram agredir jornalistas.

Crime de responsabilidade

O presidente Jair Bolsonaro cometeu uma série de crimes de responsabilidade, durante seus discursos na última terça-feira (7). De acordo com juristas, entrevistados pelo G1, Bolsonaro afrontou princípios constitucionais, como dizer que não vai cumprir decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Em seu discurso na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, Bolsonaro afirmou que não vai mais cumprir as decisões de Moraes, voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro, outros integrantes do STF e governadores e prefeitos que tomaram medidas de combate ao coronavírus.

Os especialistas afirmam que as palavras proferidas por Jair Bolsonaro e as ameaças aos ministros do STF e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afrontam diretamente a Constituição Federal de 1988. De acordo com Gustavo Binenbojm, doutor em Direito Público e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), os discursos são passíveis de impeachment contra o presidente.

*Com informações da Folha e agências de notícias.

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