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“Esta é uma pergunta fácil de responder, mas difícil de implementar”. Com esta constatação bem-humorada, Fernanda de Freitas Feil, doutora em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e integrante do Grupo de Pesquisa sobre Finanças e Desenvolvimento (Finde), abriu a palestra sobre “Qual o Sistema Financeiro que o Brasil Precisa?”, na segunda mesa de debates da 23ª Conferência Nacional dos Bancários, na manhã deste sábado (4/9). Outro palestrante foi Ladislau Dowbor, economista, escritor e professor titular da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo.
Ambos apontaram o mesmo diagnóstico: o sistema financeiro privado brasileiro é muito concentrado, drena recursos da sociedade, lucra e muito com a especulação feita com o dinheiro alheio, visando o lucro fácil, com juros fora da realidade, optando por conceder pouquíssimo crédito para financiar o aumento da produção, do consumo e do crescimento do país. “Não falta dinheiro, o problema é que o sistema financeiro não funciona para o bem da sociedade, mas para o seu próprio lucro”, sintetizou a economista.
O presidente do Sindicato, José Ferreira, defendeu um sistema financeiro nacional que financie a transição verde e que as inovações estejam à serviço da redução das desigualdades. E que o Estado brasileiro volte a atuar como agente indutor do crescimento. "É importante, ainda, que o crédito seja orientado para a inclusão econômica dos mais pobres. Para tudo isso é fundamental que o Banco Central se torne independente do rentismo e que volte a ter o controle social", afirmou.
Crédito
A economista Fernanda de Freitas lembrou que no Brasil a relação entre as operações de crédito e o PIB (Produto Interno Bruto) é muito baixa: 55%, muito pequena se comparada com outros países em desenvolvimento, e menor ainda quando a comparação é feita com os desenvolvidos, em torno de 150% do PIB. Frisou que o papel do sistema financeiro é oferecer crédito para fomentar a produção, o consumo, gerando mais renda, crescimento econômico, reduzindo as desigualdades sociais. Mas adiantou que isto só acontecerá através de uma política de governo.
Acrescentou que a partir de 2007, o governo Lula passou a executar, principalmente através dos bancos públicos, uma política de incentivo ao crédito voltado para a capacidade produtiva e o consumo, gerando um processo de crescimento. Foi uma política de governo que o setor privado acabou tendo que acompanhar. Lembrou, ainda, que o incentivo ao crédito pelos bancos estatais, foi usado como instrumento da política anticíclica que permitiu ao Brasil se defender e sair da crise mundial de 2008 melhor do que outros países.“No entanto, a partir de 2016, o golpe que derrubou a presidente Dilma Roussef trouxe uma mudança drástica com uma guerra declarada aos bancos públicos, com o desmonte de sua estrutura.
"A partir daí houve uma queda enorme das operações de crédito que passou a ser direcionado ao rentismo, gerando a estagnação da economia”, constatou. Este processo se acentuou ainda mais no governo de Jair Bolsonaro.
Acrescentou que os bancários têm um papel fundamental na cobrança para que mude a política atual dos bancos. Inclusive em relação a uma atuação compatível com a defesa ecológica, com um funcionamento sustentável. “É preciso que os bancos ponham em prática as decisões do Acordo de Paris, para reduzir ao máximo as emissões de carbono e o aquecimento global. Os riscos climáticos trarão perdas também para o sistema financeiro”, disse.
Segundo Ladislau Dowbor para que o sistema financeiro cumpra o seu papel tem que estar voltado para a sociedade e não para o seu próprio lucro. “O dinheiro que vai da sociedade para os bancos tem que voltar sob a forma de financiamento do setor produtivo. Mas o que acontece é que o fomento se voltou para a especulação, para o rentismo, e este dinheiro não é dos bancos, mas da sociedade”, disse.
Afirmou que a agiotagem no Brasil é oficial, tendo derrubado, inclusive, o artigo da Constituição que impedia juros acima de 12% ao ano. “Os juros do Brasil seriam impensáveis em outros países. Graças a isto, os bancos dobram seus lucros.
Defendeu o investimento no consumo das famílias, que com o desemprego e a instabilidade econômica está travado; no mercado produtivo, que está em colapso porque não tem consumo e o juro é muito alto. E o investimento estatal, que deveria ser utilizado para financiamento em infraestrutura, mas que vai para o pagamento de juros da dívida para bancos. “Temos que redirecionar os recursos que estão enriquecendo meia dúzia de famílias ricas, enquanto a fome, o desemprego e a miséria não param de aumentar”.
Argumentou que o dinheiro que vai para a especulação causa também a desindustrialização do país. “O governo tem que intervir, deixar de dizer que não tem dinheiro, como fala o Paulo Guedes, de maneira mentirosa, enquanto ataca e desmonta os bancos públicos. A China cresce a mais de 10% ao ano. Mas lá, os bancos são estatais e investem o crédito na produção. O país cresce, se desenvolve, melhorando a condição de vida da população”, disse.