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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
Carlos Vasconcellos
Imprensa SeebRio
O economista do Dieese Gustavo Cavarzan (Dieese) foi o segundo palestrante do painel “Retrato da Categoria Bancária”, na 23ª Conferência Nacional dos Bancários, no sábado(4). O especialista, mestre em economia pela Unicamp, começou falando dos números da pesquisa sobre teletrabalho, que teve 13 mil respostas, participação maior do que a primeira organizada pela Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) em 2020, que teve 11 mil questionários respondidos.
A pesquisa, distribuída regionalmente, mostrou que 51,2% dos bancários que estão no teletrabalho são homens e 48,8% mulheres e a grande maioria na faixa etária de 31 a 40 anos. Já 73,5% são associados ao seu sindicato e 26,5% não são sindicalizados.
Dificuldades no home Office
Do total de pesquisados, 74% dos bancários entrevistados disseram que atualmente continuam trabalhando em home Office e 11,8% que já retornaram totalmente ao trabalho presencial. Apenas 14,1% não chegaram a trabalhar em casa.
As condições no teletrabalho ainda não são adequadas, conforme apontam os bancários que responderam ao questionário. A maioria reclama não possuir um local ideal para trabalhar em casa.
“Quase metade, 44,8% dos pesquisados disseram que executam suas tarefas profissionais na sala. Já 31,6%, trabalham num quarto individual e apenas 22,4% num escritório. E ainda há 10,2% que disseram ter de compartilhar o quarto na hora do trabalho”, disse Gustavo. Apesar de o resultado mostrar que a categoria está longe de ter condições adequadas no home Office, este ano cresceu o número de bancários com um escritório em casa. Em 2020 este grupo representava apenas 19%.
Em relação às formas de ajuda que recebeu do banco, aumentou o número de funcionários que não consegue um canal de comunicação para solucionar um problema no trabalho em casa: 16,5%, sendo que 37% disseram que não sabem responder, um número muito alto. Menos da metade, 45%, disseram que sim, o banco tem uma forma adequada de tirar dúvidas do bancário em sua atividade em casa.
Já em relação à exigência de um curso para o home office, 47% disseram que sim, o banco realizou curso, como no caso de prevenção à lavagem de dinheiro, feito especialmente na Caixa Econômica Federal e no Bradesco. No Itaú e no Banco do Brasil foi realizado com o tema sobre ergonomia.
Jornada piorou
Em relação à pesquisa de 2020, os bancários em teletrabalho revelaram uma piora na questão da jornada de trabalho: 43,6% responderam que estão trabalhando mais horas, um índice muito alto. Mais da metade, 52%, disseram que a jornada não mudou em relação ao trabalho presencial.
Horas extras
Em relação às horas extras, 23% disseram que o banco está compensando com banco de horas e 13% recebendo dinheiro. Mas um percentual preocupa: 27% declararam que não está havendo nenhuma forma de compensação e os casos mais graves estão ocorrendo na Caixa Econômica Federal e no Santander.
A maioria (68%) diz que os intervalos de almoço, as folgas em feriados e finais de semana estão sendo respeitados. Já 25,6% responderam que, na maioria das vezes, sim, estão respeitando estes direitos e 5,7% que não.
Medos e incertezas
Os bancários reclamam ainda de temores e incertezas na experiência do home office, como “medo de ser esquecido, de perder oportunidades de ascensão profissional e de ser demitido”, além de sentirem “desmotivação, ansiedade, cansaço, formigamento nos ombros e braços, dificuldade de dormir e até crise de choro”, impactos psíquicos que pioram com o teletrabalho. Do total, 58% têm medo de ser esquecido e acabar sendo dispensado pelo banco.
Aumento de despesas
Com o home office, os bancos reduziram em cerca de R$300 milhões as suas despesas administrativas, mas o bancário viu crescer seus custos para manter o trabalho em casa, como a elevação nas contas de luz e internet e nas despesas com alimentação.
Mulheres sofrem mais
As mulheres com filhos encontram mais dificuldade em executar suas tarefas profissionais no teletrabalho: 47,5% delas disseram encontrar problemas para desenvolver seu trabalho profissional, enquanto que entre homens sem filhos este número chega a pouco mais de 24%.
“Outro desafio do movimento sindical será como conseguir fiscalizar as condições de trabalho no home office e como será a atuação e interação com estes trabalhadores que estão em casa. Mesmo após a pandemia, deveremos ter de 20% a 30% de bancários mantidos em home Office”, concluiu Gustavo Cavarzan.
Problemas na pandemia
Os números referentes à situação do bancário durante a pandemia da Covid-19 revelam que a campanha nacional 2021 precisa avançar nas condições de trabalho e de saúde da categoria. Os números ainda são preliminares, pois a pesquisa continua sendo respondida pela categoria.
“Perguntado se o banco providenciou assistência ao funcionário no período em que o empregado contraiu o vírus, 31,2% disseram que não, um número ainda muito alto”, avalia o economista do Dieese. Já 68,8% disseram ter recebido a devida assistência da empresa onde trabalham.
Entre os trabalhadores que foram diagnosticados com a Covid-19, 34% ficaram em home Office, mas já retornaram para o trabalho presencial e 23% permanecem no teletrabalho.
“Quanto ao controle da jornada, metade respondeu que ela ocorre através de ponto eletrônico e 16,9% que não há controle, um dado ainda preocupante, apesar de apresentar uma melhora em relação ao ano passado.
Sequelas preocupam
Outro tema que preocupa os bancários e foi debatido nesta Conferência Nacional são as sequelas da Covid-19, que afetam negativamente a rotina de trabalho dos bancários: 68,6% disseram estar sofrendo consequências da doença sobre a sua saúde. Entre os sintomas apontados, a maioria reclama de cansaço (36,8%), dor de cabeça (26,2%), perda da memória (24,8%), fraqueza muscular (24%) e dificuldade de atenção (23,8%).