Sábado, 04 Setembro 2021 11:32
23ª CONFERÊNCIA NACIONAL

Dieese alerta para riscos do avanço das fintechs e precarização do trabalho bancário

Segundo a economista Vivian Machado, a regulamentação do BC não consegue acompanhar a velocidade do avanço das fintechs
Os delegados na Conferência Nacional debatem os impactos das tecnologias no emprego. A economista do Dieese, Vivian Machado, disse que a concorrência das fintechs tem resultado em menos contratação de bancários e no crescimento da precarização do trabalho Os delegados na Conferência Nacional debatem os impactos das tecnologias no emprego. A economista do Dieese, Vivian Machado, disse que a concorrência das fintechs tem resultado em menos contratação de bancários e no crescimento da precarização do trabalho Nando Neves

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

O segundo dia da 23ª Conferência Nacional dos Bancários, realizado por meio digital neste sábado, 4 de setembro, começou com o painel "Retrato da Categoria Bancária", com a apresentação dos resultados das pesquisas feitas pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) e pela parceria da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) com a Unicamp sobre o teletrabalho e a Covid-19. A economista do Dieese, Vivian Machado, destacou a importância do acordo de dois anos firmado pela categoria com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) e válido até agosto de 2021, que garantiu todos os direitos dos bancários em meio a uma conjuntura de ataques não somente à categoria, mas contra todos os trabalhadores.

“É importante lutar contra a desigualdade e em defesa da vida, da educação, da saúde e da democracia e, para isso, é fundamental fortalecer a mobilização pelo ‘Fora , Bolsonaro”, disse.

Menos bancários

Os números das pesquisas são preocupantes, mostrando o avanço de novas contratações e do trabalho precarizado, através da ‘pejotização’ e terceirização e do crescimento das fintechs, agravando a situação da redução dos postos de trabalho na categoria.

“No último levantamento feito, em 2019, o setor reduziu mais de 18 mil postos de trabalho desde 2013, um saldo muito negativo. Cresceu a presença de profissionais de TI (Técnico em Tecnolgia da Informação). De 2006 a 2019 caiu o número de bancários contratados e houve mais de 150 mil novos postos em cooperativas, ao contrário do que vem acontecendo nos bancos”, destacou, confirmando o crescimento no número de contrato de correspondentes, contratos com mais de uma instituição financeira, enquanto nas agências bancárias este número vem diminuindo.

“Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários, o número de agentes autônomos de investimentos mais do que dobrou, aumentando 129% de 2016 a 2020. No segundo trimestre de 2021 cresceu 11,6% o número de trabalhadores do setor que trabalham por conta própria”, explica.  

Trabalho precário

Vivian destacou ainda que estes trabalhadores que entram no mercado de trabalho através das novas formas de contratações possuem condições heterogêneas e mais precárias de trabalho, citando os empregados de cooperativas, que possuem uma idade média menor do que a categoria bancária, recebem salários inferiores, têm uma jornada de trabalho maior e ficam menos tempo no emprego, revelando uma rotatividade ainda mais elevada do que nos bancos.

“O número de fintechs cresceu mais de 700% de 2012 a junho de 2021. É preciso também sindicalizar estes trabalhadores”, disse, alertando que dados de 2019 mostraram uma queda de 19,5% no número médio de sindicalizados.

A técnica do Dieese disse que os bancos estão preocupados com o crescimento das fintechs. No entanto, a concorrência tem feito com que o setor promova reestruturações que afetam negativamente no emprego dos bancários.

“Os bancos criaram espaços para incubar suas próprias plataformas digitais. Chegamos ao nível de uma ‘uberização” do trabalho bancário. Uma plataforma chamada ‘personalbank’ atrai ex-bancários com pelo menos cinco anos de experiência, que pagam uma taxa e abrem sua pessoa jurídica para operar com ‘parceiros’ para oferecer produtos de investimentos. O problema é que, entre estas parcerias, estão os grandes bancos. É a precarização absoluta”, acrescentou Vivian, lembrando que a regulamentação do sistema pelo Banco Central age muito tardiamente e não consegue acompanhar a velocidade do avanço das fintechs e das plataformas digitais no sistema financeiro nacional.  

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