Quinta, 15 Julho 2021 08:50

48% dos trabalhadores por conta própria ganham menos de 1 salário mínimo por mês

A maioria dos sem patrão, chamados empreendedores por governos e mídia tradicional, ganha R$ 1.000 por mês, segundo pesquisa do projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo
Rejane Ferreira Soares, 42 anos, que trabalha com moda afro em Macapá Rejane Ferreira Soares, 42 anos, que trabalha com moda afro em Macapá

Quase metade dos trabalhadores e trabalhadoras conta própria, chamados de empreendedores pelo governo e por órgãos de mídia tradicional, tem renda inferior a um salário mínimo, hoje de R$ 1.100. A maioria (48%) consegue por mês R$ 1.000 por mês e apenas 7% têm renda superior a R$ 4.000. Nos estratos intermediários, 30% têm renda entre R$ 1.001 e R$ 2.000 e 15%, entre R$ 2.001 e R$ 4.000.

Os dados são de pesquisa realizada pelo projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, pela Universidade Federal de Santa Catarina e pela Reafro (Rede Brasil Afro Empreendedor), intitulada 'Nas dobras da precariedade – Desigualdades regionais, de gênero, raça e classe no trabalho por conta própria no Brasil'.

A pesquisa derruba o mito de que o trabalho por conta própria representa liberdade para organizar o que fazer, sem patrão e sem cartão de ponto, reforçando o tal ‘espírito empreendedor’ dos brasileiros. Como a CUT sempre disse derruba a falácia de que com o empreendedorismo, também conhecido como bico ou trabalho por conta própria, os trabalhadores e as trabalhadoras conseguem rendimentos suficientes para sobreviver com dignidade.

Os dados da pesquisa, divulgada nesta quarta-feira (14), mostram ainda a discriminação racial e de gênero: mulheres e negras ganham menos do que as brancas e os homens.

Entre as mulheres cabeleireiras (negras e brancas) a renda está concentrada na primeira faixa (até R$ 1.000) mas é maior quanto mais branco for o grupo de trabalhadoras.

Já entre os caleleireiros,  o salário é maior. Os homens  concentram o segmento com renda maior que os R$ 4 mil recebidos pela categoria.

Em todas as atividades pesquisadas as mulheres negras ganham mmenos que os homens brancos.

- na faixa salarial entre R$ 2.001 e R$ 4.000, os homens brancos ocupam quase todas as posições

- na faixa salarial de até R$ 500, quase todas as ocupações são exercidas pela população negra. Essa predominância, em menor escala, repete-se nas faixas até R$ 2.000

- na faixa acima de R$ 4.000, o eixo racial separa as atividades por completo

- a mais masculina e branca das atividades por conta própria é na agricultura, enquanto as mulheres brancas que trabalham por conta própria são hegemônicas na área de psicologia

- os segmentos de atividade com predominância de mulheres negras são o de cuidados do corpo e de produção de roupas e alimentos

- homens negros predominam nos segmentos de construção civil, transporte (em geral como condutores) e manutenção automotiva.

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