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Diagramação: Marco Scalzo
Diretora de Imprensa: Vera Luiza Xavier
A maré de lama dos negócios sombrios que se desenvolveram tendo como “oportunidade” a compra de vacinas contra a Covid vai se avolumando e não é difícil prever que novos deslizamentos acontecerão em breve, levando este lodo imundo à altura do queixo de um governo que, ao debater-se, só consegue afundar mais.
Pois é essa a situação: os personagens que vão submergindo nesta lama, ao tentarem empurrar um para o outro as responsabilidade só conseguem fazer subir o lodaçal e evidenciar um traço comum: todos pertencem aos círculos sombrios do bolsonarismo.
Desde a noite de ontem, a podridão aflorou em vários episódios.
O “reverendo” Amilton Gomes de Paula, autorizado – sabe Deus porquê – a negociar vacinas pelo Ministério da Saúde, admitiu que o cabo Luiz Paulo Dominghetti ofereceu-lhe “uma doação” caso a venda se concretizasse. Um, digamos, “dízimo” vacinal, obsceno e farisaico.
O Globo confirma que há outro coronel bolsonarista, cuja existência já havia sido apontada aqui, metido nos negócios do ministério, Hélcio Almeida, amigo do Secretário Executivo do MS, o também coronel Élcio Franco, ambos egressos – como Eduardo Pazuello – das Forças Especiais do Exército. Mas o caso não para aí: mesmo desconsiderando as ligações com Dominghetti, o que fazia um coronel azeitando negócios privados com a vacina que faltava ao SUS?
A reunião dos coronéis aconteceu na manhã do dia 12 de março e estava prevista na agenda oficial do ministério. Mas não era para falar com a Davati, e sim para tratar do “Contrato Beep”. Em tese, deveria servir para o dono de uma rede privada de vacinação do Rio de Janeiro, a Beep, dar sugestões para regulamentação da lei que permitia a compra de vacinas para o setor privado.
Mas, no horário marcado, o coronel Helcio apareceu com Dominghetti, o executivo da Davati Cristiano Carvalho e o reverendo Amilton Gomes de Paula, da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), entidade religiosa com sede em Brasília.
O coronel Hélcio, recorde-se, preside uma organização que se dedica ao “fortalecimento dos movimentos ativistas conservadores”, que tem como dirigente, também, o empresário olavista Otavio Fakhoury, investigado na CPI das fake news.
O deputado e líder do Governo, Ricardo Barros, que seria o dono do “rolo” levado a Jair Bolsonaro, sente a mão pesada do “chefe” empurrando-o para o fundo da lama onde flutua faz tempo. O presidente retirou a indicação de um seu afilhado para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (que regula os planos de Saúde). Roberto Vanderlei Rebello Filho. ex-chefe de gabinete de Barros, que já tem um cargo de diretor no órgão, havia sido indicado para presidir a ANS em dezembro e, ontem, uma mensagem ao Senado retirou seu nome, que não havia sido aprovado ainda.
E, numa operação provavelmente “soprada” por governistas, veio à luz uma autuação fiscal do abandonado Barros, por incapacidade de explicar R$ 2,2 milhões de sua renda, inchadíssima pelo que os auditores da Receita chamam de “engenharia” com empresas para simular operações financeiras. A multa aplicada ao ex-ministro da Saúde de Temer está, agora, em R$ 3,7 milhões.
Como se vê, há uma represa de dejetos apesentando rachaduras em vários pontos. A esta altura, parece difícil evitar um desastre de grandes proporções.