Segunda, 05 Julho 2021 12:41
HISTÓRIO NEBULOSO

Áudios revelam que Bolsonaro teria praticado esquema de rachadinhas

Ex-cunhada denuncia que coronel do Exército recolhia dinheiro dos salários dos funcionários do gabinete do então deputado federal
Corrupção no governo e denúncias de rachadinhas da família Bolsonaro investigadas pelo Ministério Público Estadual aumentam a pressão da sociedade pelo impeachment do presidente com as investigações da CPI no Congresso Nacional Corrupção no governo e denúncias de rachadinhas da família Bolsonaro investigadas pelo Ministério Público Estadual aumentam a pressão da sociedade pelo impeachment do presidente com as investigações da CPI no Congresso Nacional

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Fonte: CUT

 

Uma grave acusação de que o presidente Jair Bolsonaro, quando deputado federal, praticava a chamada rachadinha, contratando funcionários fantasmas para embolsar o dinheiro público da maior parte dos salários de cargos comissionados em seu gabinete sempre recaíram sobre seus ombros. Mas agora, provas com gravações inéditas revelam que, de fato, o presidente eleito com o discurso moralista de combate a corrupção sempre praticou o crime, que envolve peculato, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Os áudios inéditos foram divulgadas nesta segunda-feira (5) pela jornalista Juliana Dal Piva, do UOL. O esquema de corrupção teria sido praticado de 1991 a 2018, quando Bolsonaro era parlamentar e fazem parte de uma investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ). Acusações sobre a mesma prática são apontadas também no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Como funcionava o esquema

Segundo as denúncias, só trabalhava no gabinete do deputado Bolsonaro quem entregava parte do dinheiro dos salários para o parlamentar. Em um dos áudios, a fisiculturista e ex-cunhada de Bolsonaro, Andrea Siqueira Valle, disse que "Jair" demitiu seu irmão André porque ele não entregava a maior parte do seu salário de assessor ao então parlamentar.

"O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6 mil, ele devolvia R$ 2 mil, R$ 3 mil. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: 'Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo'. Não sei o que deu pra ele", diz Andrea Siqueira, que é irmã de Ana Cristina Siqueira Valle, segunda esposa de Bolsonaro.

"Não é pouca coisa que eu sei não, é muita coisa, que eu posso ferrar a vida do Flávio, posso ferrar a vida do Jair, posso ferrar a vida da Cristina, entendeu? É por isso que eles têm medo e manda eu ficar quietinha, não sei o que, tal. Entendeu? É esse negócio aí", afirma Andrea em outra gravação.

O áudio revela ainda que o coronel da reserva do Exército Guilherme Hudson, tio de Andrea e de Ana Cristina era o responsável por recolher o dinheiro dos salários. "O tio Hudson também já até tirou o corpo fora, porque quem pegava bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele", aponta Andrea.

Esposa de Queiroz

O UOL também teve acesso a uma conversa de outubro de 2019 em que a mulher e a filha de Fabrício Queiroz, Márcia Aguiar e Nathália Queiroz, se referiam ao presidente Bolsonaro como "01". "É que ainda não caiu a ficha dele [Queiroz] que agora voltar para a política, voltar para o que ele fazia tão cedo... esquece. Bota anos para ele voltar. Até porque o 01, o Jair, não vai deixar. Tá entendendo? Não pelo Flávio, mas enfim. Ele ainda não caiu essa ficha não. Fazer o quê? Eu tenho que estar do lado dele", afirma a esposa de Queiroz.

O áudio teria sido em resposta a uma mensagem de Nathália, filha de Queiroz, que o chamou de "burro" por continuar fazendo as articulações. Esses áudios seriam do período em que o ex-assessor de Bolsonaro ficou escondido na casa do advogado da família, Frederick Wassef, em Atibaia, no interior de São Paulo.

Procurado pela reportagem do UOL, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, negou ilegalidades, afirmou que existe uma antecipação da campanha eleitoral de 2022 e que se trata de uma "gravação. O advogado alegou que os fatos narrados por Andrea "são narrativas de fatos inverídicos, inexistentes", que "jamais existiu qualquer esquema de rachadinha no gabinete do deputado Jair Bolsonaro ou de qualquer de seus filhos"e que se trata de "gravação clandestina à qual não tenho acesso, não conheço o conteúdo e não foi feita perícia".

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