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A política econômica do governo Bolsonaro – com estímulo à alta desvalorização do real e aumento do preço dos combustíveis seguindo os valores do mercado internacional dolarizado – foi a principal responsável pela disparada da inflação em plena estagnação da economia. O governo colocou esta política em prática deste antes da pandemia. Criticado pela desvalorização crescente da moeda brasileira, em fevereiro de 2020 o ministro da Economia Paulo Guedes estimulava o menor valor do real.
O dólar mais alto é “bom para todo mundo”, declarou Guedes, naquele mês. Acrescentou que com o dólar mais baixo, “todo mundo” estava indo para a Disney, nos Estados Unidos, inclusive “empregada doméstica”.
Para Guedes, o mix de juros baixos e câmbio alto ‘é bom, porque aumenta as exportações e substitui importações, inclusive no turismo’. A desvalorização, no entanto, encareceu o preço dos bens importados, sobretudo os que fazem parte da cesta básica, com impacto maior sobre os mais pobres. Com o dólar mais caro, os produtores nacionais preferiram voltar suas vendas para o mercado externo, o que também causou aumento dos preços, devido à redução da oferta interna.
Não é bem assim
O economista Fernando Amorim do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), lembrou que vários fatores devem ser considerados para explicar a alta da inflação. Mas observou que o principal deles, que pressiona o aumento dos preços desde o início de 2020, antes mesmo da pandemia, foi o câmbio, com o incentivo à desvalorização do real. “A moeda vinha se desvalorizado com relação ao dólar e como parte do consumo é de importados havia o repasse da inflação vindo do câmbio. O que gerou o início do aumento inflacionário que prossegue até hoje foi o câmbio”, apontou.
Amorim lembrou que a inflação não foi gerada por aumento do consumo, aumento da demanda por produtos e serviços, pelo contrário, houve redução, tanto por parte das famílias, quanto por parte do governo. Acrescentou que o segundo fator que explica o aumento da inflação, neste momento, é o aumento da energia elétrica. Em 12 meses subiu 11,63%. “A regulação do setor pelo governo federal permite estes aumentos constantes. E agora novo aumento devido aos reservatórios vazios, com a bandeira vermelha”, lembrou.
Mais inflação
O economista prevê aumento da inflação pelo impacto do reajuste da energia elétrica consumida pelas famílias e por toda a economia. “Fora isso, houve aumento dos combustíveis: botijão de gás subiu 24% em 12 meses; gasolina, 45%; etanol, 65%; óleo diesel, 40%. Esses são os principais vetores da inflação neste momento”, estimou. Disse que o grande problema hoje é que o governo tem uma política de preços da Petrobras que está atrelada ao câmbio e aos preços internacionais da commodity. E não há política monetária que controle este problema. Aumentar a Selic, que é a taxa básica de juros, não vai resolver a disparada da inflação.
“Além disto, o Brasil tem um desemprego gigantesco, 14%, fora as pessoas que estão fora do mercado por desalento, ou seja, desistiram de procurar uma nova colocação. Aumentar a Selic não vai resolver este problema, nem fazer chover para solucionar o aumento da energia elétrica”, ironizou. A expectativa do economista é que a inflação, diante de todo este quadro, suba ainda mais. Lembra que os que mais sofrem com a alta dos preços são os mais pobres, que gastam o que têm no consumo. Perdem menos, ou até ganham, os setores rentistas que especulam com a moeda.
Combustíveis e eletricidade
A alta da gasolina, diesel e gás, definidas pela política do governo para a Petrobras. tiveram, forte impacto sobre os demais preços da economia, entre outros, o do transporte de mercadorias. O aumento recente da energia elétrica em função de não terem sido tomadas medidas preventivas para conter o consumo foi outro fator para a aceleração da inflação, agravou a situação de alta dos preços. Foi um dos principais fatores que levaram o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – a inflação oficial do país – a 0,83% em maio, 0,52 ponto percentual acima dos 0,31% registrados em abril, conforme divulgou nesta quarta-feira (9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado, segundo o IBGE, foi o maior para um mês de maio desde 1996 (1,22%). O acumulado no ano foi de 3,22%, e o dos últimos 12 meses, de 8,06%, acima dos 6,76% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores", informou o IBGE. O maior impacto individual do mês veio da alta da energia elétrica (5,37%), que sozinha respondeu por 0,23 ponto percentual do IPCA.
Mas outros aumentos também pesaram no bolso da população em maio, tendo a ver com a desvalorização do real: gás de botijão (1,24%), gás encanado (4,58%), gasolina (2,87%), etanol (12,92%) e óleo diesel (4,61%). No ano, a gasolina acumula alta de 24,70% e, em 12 meses, de 45,80%. Tevê, som e informática (2,16%), grande parte, importados com preços mais altos também pela desvalorização.
A alta da inflação tem maior impacto sobre os mais pobres, principalmente porque estão havendo aumentos expressivos e sistemáticos na cesta básica e em função das empresas repassarem os aumentos dos produtos para o consumidor. A inflação de alimentação e bebidas (0,44%) ficou próxima a do mês anterior (0,40%).
A alimentação no domicílio passou de 0,47% em abril para 0,23% em maio, por conta do recuo nos preços de itens como frutas (-8,39%), da cebola (-7,22%) e do arroz (-1,14%). Por outro lado, as carnes (2,24%) seguem em alta, acumulando 38% de variação nos últimos 12 meses. Em 12 meses, os alimentos que mais subiram foram óleo de soja (86,87%), feijão fradinho (58,04%) e arroz (51,83%), segundo o IBGE.