Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

Os governos da Argentina e da Colômbia, preocupados com a maior crise sanitária da história, em função da pandemia da Covid-19 não aceitaram sediar a Copa América 2021. A esquerda argentina eleita e a direita colombiana acuada por protestos nas ruas tomaram a decisão correta e para espanto e indignação dos brasileiros, a Conmebol confirmou que a competição, prevista para começar dia 13 de junho e a final marcada para 10 de julho no Brasil num período de explosão do coronavírus na chamada terceira onda, ainda mais violenta e com variantes da Covid.

O povo não quer o circo

Com a popularidade em baixa, o presidente Jair Bolsonaro não hesitou em sediar o torneio, indiferente aos mais de 462 mil mortos, por enquanto, no Brasil.

O uso da paixão brasileira pelo futebol por governos arbitrários não é novidade na história. O Regime Militar, especialmente no Governo do general Médici, se utilizava da chamada “Pátria em Chuteiras” (expressão criada pelo jornalista e cronista Nelson Rodrigues) para alienar o povo e criar uma identificação com um nacionalismo xenófobo e esconder a violência e os assassinatos do regime ditatorial.  Enquanto os brasileiros comemoravam o tricampeonato em 1970 com a  equipe considerada por muitos, como a melhor em todos os tempos, a tortura e prisões e mortes comiam soltos nos porões da ditadura.

“Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção”...entoava a canção nos lares brasileiros no início da consolidação do poder midiático da televisão. A relação passional de nosso povo pelo futebol é cultural e magnífica. O uso do esporte para interesses mercantilistas e políticos, não. 

Muito além dos gramados

“A Conmebol agradece ao presidente Jair Bolsonaro e sua equipe, assim como à CBF, por abrir as portas do país”, disse em nota a entidade esportiva.

A decisão resultou numa revoada de críticas e com toda a razão.

O jornalista e locutor esportivo Luís Roberto disse na última segunda-feira, 31 de maio, num programa da Sportv, que a decisão de sediar a competição era um “tapa na cara dos brasileiros em meio à pandemia”.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) respondeu no Twitter do pai, o presidente Jair Bolsonaro, que “Luís Roberto nunca reclamou de transmitir outras competições” e que o jornalista “ficou bravinho” pelo fato de a emissora ter perdido os direitos da transmissão da Copa América para o SBT. O bate-boca dá a dimensão dos interesses políticos econômicos e da disputa por audiência entre as emissoras por trás da realização da competição no Brasil diante de uma crise sanitária e econômica do país sem precedentes.

Torcida pela vacina

A Seleção Brasileira há décadas não desperta mais o interesse do povo como no passado, onde as ruas eram enfeitadas de verde e amarelo a cada competição, os amistosos realizados na maioria das vezes nos estádios brasileiros, os craques tinham identificação com a torcida “canarinho” e os clubes locais. Essa relação será agora quase que absolutamente inexistente na Copa América diante de um clima mórbido com tantos óbitos pelo coronavírus. Os jogadores, a maioria vivendo na Europa, não vão driblar os corpos e nem o pesar das famílias pelas milhares de vidas perdidas, grande parte por causa do atual governo que deixou de comprar pelo menos 70 milhões de vacinas em agosto e setembro, segundo representantes da Pfizer disseram à CPI da Covid-19.   

Não há clima para torcer, vibrar e soltar rojões, mas o futebol, ainda dá muita audiência às emissoras de TV, rende muito dinheiro para a CBF e continua a ser o “circo” de governos arbitrários, ainda mais o de Bolsonaro, que não tem nada o que apresentar na educação, saúde, habitação e muito menos na economia, isso há  pouco mais de um ano e meio das eleições de 2022.

Mais uma vez, para a vergonha nossa, o governo genocida faz mais um gol contra causando indignação por aqui e perante a opinião internacional. A torcida brasileira agora é pela vacina para todos e já.

É pior, muito pior, do que os 7 a 1 para a Alemanha no Estádio do Mineirão, na Copa do Mundo de 2014 por que desta vez, a Seleção Brasileira, a CBF e o Governo Bolsonaro vão tomar de goleada para a morte, mas terão no tempo devido a resposta, nas ruas e nas urnas, de um povo que desperta para lutar pela vida.