Quinta, 27 Mai 2021 17:32
NEGRO DESTEMIDO

O samba fica mais triste com morte de Nelson Sargento, baluarte da Mangueira

Artista de 96 anos, que já se apresentou no Botequim Bancário, tinha câncer e não resistiu à Covid-19
CORAÇÃO VERDE E ROSA - Baluarte da Mangueira, ícone do samba e da música brasileira, Nelson Sargento estava com a saúde debilitada por um câncer e não resistiu à Covid- 19 CORAÇÃO VERDE E ROSA - Baluarte da Mangueira, ícone do samba e da música brasileira, Nelson Sargento estava com a saúde debilitada por um câncer e não resistiu à Covid- 19

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

Morreu na manhã desta quinta-feira (27), no Rio de Janeiro, o sambista Nelson Sargento, baluarte da Estação Primeira de Mangueira, Escola de Samba que produziu na história alguns dos mais extraordinários compositores da Música Popular Brasileira, como Cartola, Carlos Cachaça e Nelson Cavaquinho, e intérpretes singulares como Jamelão e Clementina de Jesus.

Aos 96 anos, Nelson enfrentava um câncer e, com a  saúde vulnerável, contraiu a Covid-19 e não resistiu.

Presidente de honra da verde e rosa e autor de sucessos como "Agoniza, mas não morre" (1978), o sambista estava internado no Instituto Nacional do Câncer (Inca), desde o último dia 20, onde tratava um câncer de próstata desde 2005.  

“Obrigado, Nelson Sargento, negro, forte, destemido, pela sua contribuição à nossa arte”, escreveu Gilberto Gil no seu Twitter.

Defesa da vacina

Mais uma vítima da Covid-19, Nelson participou de um manifesto em defesa do carnaval, no Museu do Samba, em uma de suas últimas aparições públicas, mas defendia o isolamento social.

“Todos nós estamos um pouquinho tristes por não ter desfile, mas foi melhor assim. Temos que estar todos vacinados para fazermos um grande carnaval em 2022”, disse o compositor na ocasião.

A trajetória do mestre

Nelson Mattos, o Nelson Sargento, nasceu em 25 de julho de 1924, na Praça XV, Centro do Rio de Janeiro, ganhou o apelido depois de servir o Exército por quatro anos.

Além de cantor e um excepcional compositor, era artista plástico, ator e escritor.

Vascaíno, o artista compôs com Alfredo Português em 1955, o samba-enredo da Mangueira 'Primavera”, que ficou conhecido como 'As quatro estações', considerado um dos mais bonitos de todos os tempos.

Nos anos 60, integrou o grupo A Voz do Morro, ao lado de Paulinho da Viola, Zé Kéti, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho.

Entre seus parceiros musicais estão Cartola, Carlos Cachaça, Darcy da Mangueira, João de Aquino, Pedro Amorim, Daniel Gonzaga e Rô Fonseca.

Como tantos outros talentos do samba de morro, demorou a gravar seu primeiro disco solo, em 1979, quando tinha 55 anos. Entre suas obras primas, estão “Agoniza, mas não morre”, “Cântico à natureza”, “Encanto da paisagem, “Acabou meu sossego”, “Século do samba” e Falso amor sincero”.

Literatura e cinema

O baluarte do samba de raiz ainda escreveu os livros "Prisioneiro do Mundo" e "Um certo Geraldo Pereira".

No cinema, atuou nos filmes "O Primeiro Dia", de Walter Salles e Daniela Thomas, "Orfeu", de Cacá Diegues, e "Nélson Sargento da Mangueira" de Estêvão Pantoja.

Esse último rendeu ao sambista o Kikito, no Festival de Gramado, pela melhor trilha sonora entre os filmes de curta metragem.

No botequim Bancário

Alguns dos momentos mais emocionantes do tradicional Botequim Bancário, realizado pela Secretaria de Cultura do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, foram as apresentações de Nelson Sargento.

Produtor dos dois shows do sambista no auditório da entidade sindical, o ator e diretor Marcos Hamelim falou com emoção das apresentações do artista para a categoria.

“Ter trazido Nelson Sargento para se apresentar no Botequim Bancário, realizando dois shows com uma produção da casa muito bem realizada, foi motivo de honra para todos nós, por conta de toda a trajetória deste sambista maravilhoso. Dizer que ele é um ícone do samba é muito pouco, Nelson é um marco da música brasileira.

Hamellin destacou ainda como o Brasil destrata seus grandes artistas.

“Quando levamos ele para se apresentar no Sindicato, o sambista estava passando por um momento financeiro difícil o que mostra o desprezo do país por alguns dos seus maiores artistas. E, apesar da idade e da saúde debilitada, ele poderia ter reagido se o governo federal tivesse disponibilizado mais cedo, a vacina contra a Covid-19”, completa.

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