Terça, 18 Mai 2021 20:23

A repressão da direita fascista contra o povo colombiano, os palestinos e a comunidade da Maré

Legenda: As 28 mortes na operação policial no Jacarezinho, no Rio, confirmam o fracasso da polícia repressora e da lógica fascista que atravessa fronteiras Legenda: As 28 mortes na operação policial no Jacarezinho, no Rio, confirmam o fracasso da polícia repressora e da lógica fascista que atravessa fronteiras Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Carlos Vasconcellos

Imprensa SeebRio

 

A primeira vista, a repressão do governo da direita contra o povo colombiano que protesta nas ruas, e que já matou mais de 40 pessoas, o massacre da força militar israelense contra palestinos e o extermínio de pobres na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, parecem episódios que não possuem nada em comum. Mas chama a atenção, no mundo, que nos três casos, há um evidente abuso das forças coercitivas contra o seu próprio povo, como na Colômbia e na favela do Rio, e do exército e da polícia israelense contra o povo da Palestina.  

Protestos na Colômbia

O governo colombiano continua a apostar na repressão contra as manifestações populares e anunciou nesta terça-feira, 18 de maio, que vai usar uma operação militar para coibir os protestos. Chamada de “Primavera Democrática”, os protestos lembram os do Chile em 2019. Os manifestantes montaram bloqueios nas ruas das cidades, especialmente em Cali. A ONU e entidades de defesa dos direitos humanos denunciaram os abusos cometidos pelas forças repressivas, que já resultaram em pelo menos 42 mortes e mais de 1.500 feridos. A rebelião popular começou contra a reforma tributária do governo, mas se multiplicou e ganhou força cada vez que a repressão da Força Pública do país foi se tornando mais violenta.

Massacre contra palestinos

No Brasil a imprensa não traz a dimensão das ações violentas das forças de repressão de Israel contra os palestinos, conflitos que já entram na segunda semana.  O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, esteve com o papa Francisco na última segunda-feira (17) e pediu o fim do massacre de palestinos. O conflito trouxe ainda uma crise humanitária à região, com falta d’água e mais de 52 mil pessoas que tiveram de deixar as suas casas.

O grupo Hamas respondeu na terça-feira (18) com foguetes que teriam matado dois israelitas.

Um conflito sem solução

Desde que o território Palestino foi demarcado após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), na época entregue ao controle do Reino Unido pelas nações vencedoras da guerra, com aval da Liga das Nações, que depois daria origem à Organização das Nações Unidas (ONU), o território palestino vem sendo reduzido pelo avanço das forças militares de Israel.

O Reino Unido delegou o problema à ONU, que em 1947 propôs dividir a Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe, com a área de Jerusalém-Belém sendo uma cidade internacional. O plano foi aceito pela liderança judaica da Palestina, mas rejeitado pelos líderes árabes.

A liderança judaica na Palestina declarou a criação do Estado de Israel em 14 de maio de 1948, momento em que o mandato britânico acabou, ainda que sem o anúncio das fronteiras demarcadas.

No dia seguinte, Israel foi invadido por cinco Exércitos árabes, marcando o início da Guerra da Independência de Israel. A luta terminou em 1949 com diversos acordos de cessar-fogo, criando linhas de armistício ao longo das fronteiras de Israel com Estados vizinhos e criando as fronteiras do que passou a ser conhecido como Faixa de Gaza (ocupada pelo Egito) e Jerusalém Oriental e Cisjordânia (ocupada pela Jordânia).

Após o conflito, o território originalmente planejado pela Organização das Nações Unidas para um Estado Palestino foi reduzido pela metade e quase 750 mil palestinos fugiram para países vizinhos ou foram expulsos pelas tropas israelenses. Para os palestinos, começava ali a Nakba, palavra em árabe para "destruição" ou "catástrofe".

Chacina no Jacarezinho

Bem mais perto geograficamente dos brasileiros, a chacina na Favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos (um policial e 27 moradores), na operação policial do último dia 6 de maio, é mais um exemplo do uso do aparato que deveria proteger, mas extermina seu próprio povo. Os moradores foram despertados de manhã pelo som de tiros. Além das vítimas da favela, dois passageiros que estavam no metrô, na estação de Triagem, foram levemente feridos após serem atingidos por balas perdidas.

A coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Mônica Cunha, classificou como uma chacina a operação policial. “As pessoas têm vida dentro da favela, mas a vida não teve como funcionar. A única coisa que funcionou foi uma chacina, várias pessoas mortas, sendo um policial morto. Um absurdo e qual é o saldo disso? Pessoas mortas e luto. Hoje é no Jacarezinho, ontem foi na Maré, anteontem foi na Cidade de Deus e assim vai”, afirmou, em entrevista, para o portal Brasil de Fato.

Nas redes sociais, ativistas e moradores de favelas protestaram e fica a pergunta: acabou ou reduziu o tráfico de drogas com mais uma operação de extermínio? Não, claro que não. Não resta mais dúvida de que o que pacifica socialmente a presença do estado, não é o repressor, mas o social, com educação, cultura, esportes, emprego e igualdade de oportunidades.

 

“A Faixa de Gaza, a Colômbia e a Favela da Maré estão tão distantes entre si, mas têm em comum uma mesma lógica autoritária e fascista do uso das forças policiais e militares para oprimirem e matarem pessoas.  Em tempos em que uma onda de extrema direita avançou no mundo, mas parece dar os primeiros sinais de diluição, e que transformou a expressão “direitos humanos” num palavrão “esquerdista”, é passada a hora de, no mundo inteiro, lutar por justiça, paz e dignidade e repudiar aparatos militares que deveriam proteger cidadãos e garantir a soberania dos povos mas são usados para matar e reprimir”,  disse o presidente eleito do Sindicato dos Bancários do Rio, José Ferreira.

 

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